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Retalhos & Fragmentos

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Lívio Oliveira [ Advogado público e poeta – [email protected] ]

Anuncia-se, até com certo alarde, que o filme “Homem-Formiga” (Ant-Man, no original) tem batido todos os recordes de bilheteria nos cinemões (desculpem tal expressão, mas é a possível) daqui e dalhures. Não sei se o filme tem qualidade, se presta, mas não me empolga a designação desse super-herói. Em tempo de insetos diversos e ratazanas pululando na coisa pública e política, situação ou oposição, preferiria que o herói fosse de outra natureza e tivesse outro nome. Preconceito? Acho que é somente decepção.

Se bem me recordo, a última vez que me empolguei com um filme de herói nas telonas foi quando da estreia no Brasil de “Thor”, filme dirigido por Kenneth Branagh e que contou, em seu elenco, com estrelas do quilate de Natalie Portman (“Cisne Negro”) e Anthony Hopkins. É porque me fez relembrar momentos da minha infância, em meio a heróis da Marvel Comics e de Stan Lee, além de outros.

Lembro dos filminhos, em quadros quase estáticos na televisão, com dublagens e diálogos curiosíssimos. E da minha coleção de revistas com personagens do porte de um Namor (o “Príncipe Submarino”), de um Homem-de-Ferro, de um Demolidor, de um Wolverine, de um Homem-Aranha, sem contar os vilões terríveis, como o Magneto, Elektra, Doutor Estranho, Loki (o irmão mal de Thor, uma espécie de Caim transposto para a mitologia nórdica).

Lembro que colocava as minhas revistinhas dispostas no chão do quarto, formando um grande e colorido mosaico que me alegrava e me orgulhava. Também havia revistas como Akim e Zagor e muitas da Disney, Recreio, Maurício de Souza, Daniel Azulay. Era uma beleza ler aquilo e depois me divertir com as imagens de sonho formando um quadro gigantesco e policromático, com as capas lustrosas das revistas.

Certo dia, ao retornar da escola, descubro que um dos meus irmãos – numa atitude de ingênua molecagem – havia vendido todas as revistas na mercearia de seu Joaquim Metade (alguém se lembra dessa figura curiosíssima?). Pois é. Foi assim que se deu. E era assim como se fazia conhecer (não me perguntem o porquê) aquele vetusto negociante de quinquilharias lá do Barro Vermelho, que adquirira, a preço de banana, exemplares de minhas fantasias, meu patrimônio de menino sonhador.

Não tive condições de readquirir as minhas revistas com o único cruzeirinho que Papai me havia dado para tal finalidade de operação-resgate. Joaquim Metade colocara as revistas dependuradas como cordel e vendia cada uma exatamente ao preço de…um cruzeiro. Fazer o quê? Tristeza…frustração. Um dos primeiros e mais fortes fracassos que experimentei na infância e na vida. Ehehe! Hoje, a coisa é bem mais complexa, todos sabemos. Mas eu não sabia, naquela altura do campeonato. E caí mesmo em prantos.

Já perdoei o meu irmão por tal negociação. Mas confesso que ainda me dá uma tristeza danada por não poder ter em mãos aquelas belas encadernações coloridas dos anos 70. Contento-me, então, com as novidades do cinema, que tem resgatado os meus heróis de infância, com muita qualidade e maior dinamismo. E um colorido ainda mais vivo. Mas não me empolgo, volto a afirmar, com o tal do Homem-Formiga. A não ser que me provem o contrário, que é merecedor de minha assistência cinéfila. E é também porque, em dias como os atuais – atento às palavras do poeta Cazuza – não vislumbro mais heróis, nem ídolos a enaltecer. Ôps! Minto! O Papa Francisco está aí, bem vivo, cheio de coragem, fazendo todo o bem ao mundo, sendo o meu super-herói predileto.

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