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Ricardo Amorim: A solução para a economia do Brasil não é complexa

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Em meio a atual conjuntura de crescimento reduzido da economia, déficit público em ascensão e inflação persistente, o caminho para alavancar   investimentos e a produtividade da economia brasileira, na análise do economista e  estrategista de investimentos Ricardo Amorim,  requer reformas (tributárias, fiscais, trabalhistas), além de melhoria do ambiente de negócios no país e infraestrutura e melhor treinamento e? aparelhamento da mão de obra “Essencialmente, o Brasil necessita de menos governo e mais gestão”, frisou Amorim, que esteve em Natal para participar da I Feira da Indústria Potiguar, realizada pela Fiern. “Oportunidades e Desafios da Indústria do Rio Grande do Norte” será tema do  Seminário Motores do Desenvolvimento do Rio Grande realizado no próximo dia 16 de dezembro, a partir das 8 horas, no Auditório Albano Franco, Fiern. O projeto é realizado pela TRIBUNA DO NORTE, RG Salamanca Capital Investments, Sistema Fiern, Sistema Fecomércio, Sebrae e UFRN com apoio do BNDES e  patrocínio do  Sebrae e Prefeitura do Natal. E terá a participação  do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, entre outros. Confira a entrevista.

Como o senhor analisa a conjuntura atual econômica num cenário de baixo crescimento, déficit público crescente e inflação persistente?
Dois fatores que permitiram um crescimento mais acelerado de 2004 a 2010 esgotaram-se: incorporação de mão de obra ao mercado de trabalho e utilização de infraestrutura já existente. Para piorar, à medida que o governo tomou uma série de medidas para reduzir a rentabilidade das empresas em diversos setores, os investimentos caíram. Com menor expansão da capacidade produtiva, o crescimento médio do PIB cai de 5% entre 2004 e 2010 para 2% desde 2011. Com a demanda crescendo mais do que a oferta, a inflação subiu e as contas externas. Para evitar uma desaceleração econômica ainda maior, o governo cortou impostos e aumentou gastos, piorando o resultado das contas públicas.

Quais medidas são necessárias para reverter este quadro? Reformas tributárias, fiscais, trabalhistas?
Na essência precisamos aumentar investimentos e a produtividade da economia brasileira. Isto requer estas três reformas, além de melhoria do ambiente de negócios no país e infraestrutura e melhor treinamento e? aparelhamento da mão de obra.

Haveria alguma estratégia para estimular toda a economia e não apenas alguns setores agora que o problema está posto?
As reformas acima melhorariam o desempenho de toda a economia. A dificuldade é que algumas delas pressupõem cortes de gastos do governo. Se isso não acontecer, de onde sairão os recursos para aumentar investimentos em infraestrutura e reduzir? carga tributária, por exemplo? Essencialmente, o Brasil necessita de menos governo e mais gestão.

A retração deverá se manter em 2014. Quais as projeções?
Na melhor das hipóteses, cresceremos pouco mais de 2%; na pior, caso ocorra uma nova crise internacional, não cresceremos nada. Passadas as eleições, a chance de reformas que acelerem nosso crescimento, aumenta. Antes disso, com as pesquisas apontando sua reeleição, dificilmente a presidenta adotaria reformas econômicas profundas. Recentemente, publiquei um artigo detalhando estas projeções no meu site www.ricamconsultoria.com.br.

Com a proximidade e expectativas de megaeventos esportivos, como o senhor avalia 2014? A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos oferecerão ajuda para o Brasil retomar o fôlego, se recuperar, ou simplesmente trarão mais dívida?
Estes grandes eventos ajudam de duas formas, mas infelizmente a magnitude de ambas será menor do que poderia e deveria. A primeira é um crescimento dos investimentos em infraestrutura, que até está acontecendo, mas não no ritmo que gostaríamos. A segunda seria um crescimento na atração de turistas estrangeiros. O Brasil inteiros recebe anualmente menos turistas estrangeiros do que a cidade turca de Antalia sozinha. O problema é que a violência em algumas manifestações e nos estádios limitará o impacto positivo que poderíamos ter.

Em reportagem da revista britânica The Economist sobre a evolução do Brasil nos últimos quatro anos, questionava a capacidade de reação da economia brasileira. Qual a sua avaliação? Há como reagir e crescer?
A solução econômica para os problemas brasileiros sequer é muito complexa. Difícil é encontrar as condições políticas para fazer as reformas necessárias.

O Governo tem dado incentivos como a redução do IPI para alguns produtos e a desoneração da folha. Quais os resultados, na avaliação do senhor, dessa política?
Reduções de impostos no Brasil são sempre bem vindas. O Brasil é o 3º país entre 156 países emergentes que mais cobra impostos. O problema, no caso do IPI, é que a desoneração era temporária e por prazo muito curto – apenas alguns meses. Isto ajuda temporariamente nas vendas e na desova de estoques, mas não leva as empresas a investir e produzir mais. No caso da desoneração da folha, ela até ajudou alguns setores, mas às custas de uma elevação dos impostos para outros setores menos intensivos em mão de obra e que tiveram aumento da alíquota de impostos sobre faturamento.

O Governo, quando aumentou o IPI, disse que fortaleceria a indústria nacional. Qual o lado positivo e o negativo dessas ações chamadas por muitos de “protecionistas”?
Na realidade, ao aumentar os impostos de produtos importados, o governo encarece os produtos no país. Inicialmente, o consumidor perde e a indústria ganha um pouco, ao poder recompor margens. O problema é que, com o passar do tempo e pressões de custos crescentes em matérias primas, aluguéis e mão de obra, a recuperação de margem da indústria acaba sendo novamente corroída e para recomp?ô-la um novo aumento de impostos de importação é necessário. No final, acabamos com produtos caríssimos no país e com consumidores viajando para comprar fora do país. A única forma sustentável de recompor a competitividade da indústria é com reformas e inovação. Isto cria países ricos. Altas alíquotas de importação criam países caros.

Essa medida estimula o consumo, há riscos nisso?
Desde 2004, em todos os anos as vendas do varejo, estimuladas pela expansão do consumo, cresceram mais do que a produção industrial. No ano que vem não será diferente. Esta situação não pode continuar para sempre. Nenhum país pode eternamente consumir mais do que produz.

Apesar de a economia ter tido um ano difícil, com um PIB da indústria estagnado em 0,1%, o varejo teve um bom desempenho. O que contribuiu para isso?
O crescente do crédito e dos salários têm sustentado o consumo. Este quadro não deve se alterar substancialmente no ano que vem.

A crise econômica internacional pode ajudar o varejista nacional? Os varejistas devem apostar no consumo?
Uma das mudanças mais dramáticas da economia mundial na última década foi a aceleração do crescimento do consumo nos países emergentes e a desaceleração nos países ricos. Isto é muito positivo para nós. O problema é que a contrapartida é uma aceleração do crescimento da produção nos países ricos, que cada vez mais é deslocada pata ser vendida nos países emergentes, roubando mercado da indústria deles.

Os principais gargalos do setor continuam sendo a questão tributária e falta de infraestrutura? Ou a concorrência com o mercado estrangeiro tem maior impacto?
A força da concorrência estrangeira é consequência destes gargalos. Aliás, um alerta importante que fiz no início do ano no artigo Made in USA foi extent para o aumento da competição com produtos americanos e europeus nos próximos anos.

Qual a importância das micro e pequenas empresas nesse cenário?
Brutal. No Brasil e no resto do mundo, são elas que geram a maior arte dos empregos. Exatamente por isso, precisamos desburocratizar a legislação estimulando o empreendedorismo. O Brasil é uma dos países onde abrir e fechar uma empresa é mais demorado e mais caro, pagar impostos idem.  Isso não pode continuar.

A verticalização da produção é a solução mais viável para a indústria. Quais as vantagens?
Verticalização pode ser a solução para alguns setores, mas não acredito que seja para todos.

Qual a importância da classe média para o desenvolvimento recente da economia do Brasil?
Enorme. De 2005 para cá, quase 60 milhões de pessoas entraram nas classes A, B e C, permitindo um enorme crescimento do consumo. Não por acaso, de lá para cá, os setores de comércio e serviços em geral e mais especificamente educação é saúde cresceram muito mais do que o resto da economia.

QUEM
Ricardo Amorim é economista, formado pela USP, pós-graduado em Administração e Finanças Internacionais pela Essec de Paris. Trabalhou em Nova York, Paris e São Paulo, sempre como economista e estrategista de investimentos. É um dos debatedores do programa Manhattan Connection da Globo News e colunista na revista IstoÉ

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