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RN registra crescimento de Aids

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Ricardo Araújo
Repórter

Passadas mais de três décadas desde a confirmação dos primeiros casos de Aids no Rio Grande do Norte, o número de infectados não parou de crescer. Somente em Natal, entre os anos de 2012 e 2014, as notificações de novos casos subiu 141,2%. Os jovens na faixa etária dos 20 aos 34 anos apresentaram o maior índice de infecção confirmada no período – 136,7%. Apesar de não ter cura, mas um amplo tratamento que controla a multiplicação do vírus no organismo e o reduz a índices quase indetectáveis, a doença, segundo especialistas, não assusta mais. No Hospital Giselda Trigueiro, referência no tratamento de doenças infectocontagiosas em Natal, mais da metade das internações, porém, são ligadas às doenças oportunistas que acometem os portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), que devasta o sistema de defesa do organismo.
Teste rápido está disponível na rede de saúde. Com a chegada deste recurso aumentou o índice de registro da doença
“O número de casos de Aids hoje é assustador”, atestou o infectologista Antônio Araújo, que há 32 anos acompanha pacientes infectados pelo vírus e também os que desenvolveram a patologia. Por dia, ele chega a atender 40 pacientes no hospital de referência, além dos que o procuram em seu consultório particular e na Rede Municipal de Saúde. Somente na semana passada, ele relembrou que iniciou o tratamento de seis novos pacientes, cuja detecção do vírus ocorreu há poucos dias. “Há um aumento muito grande de casos entre os jovens. São jovens, meninos e meninas, adolescentes, que não viveram na década de 1980/1990, não viram o passado. Hoje, com o tratamento, e com a caracterização da Aids como uma doença crônica, perderam o medo de contrair”, lamentou o especialista.

Para ele, as discussões em torno da Aids foram perdendo espaço na mídia e nas próprias ações do Governo Federal, Estadual e Municipal. Isto porque, o número de campanhas de conscientização dos riscos da contaminação reduziram consideravelmente com o passar dos anos, sem que o número de infectados também diminuísse. “A vida sexual dos adolescentes começa cada vez mais cedo. Os idosos descobriram medicamentos para a correção da disfunção erétil e conseguem manter uma vida sexual ativa, mas sem o uso de preservativos. Isso contribui para o aumento de casos”, frisou Antônio Araújo.

De acordo com a coordenadora do Programa DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Emilly Medeiros, a epidemia em Natal está concentrada em grupos específicos, com maior incidência em gays, profissionais do sexo e travestis. Dos 1.116 casos notificados entre 2007 e 2014, os homens se destacam em 74% deles. “Os homens ainda resistem muito ao uso de preservativos”, destacou Emilly Medeiros. Os casos entre as mulheres natalenses aumentou vertiginosamente – 411,7 entre os anos de 2012 e 2014. Os motivos listados pela SMS para essa ocorrência são: o aumento de parceiros ao longo da vida, elevação do número de relações sexuais e, também, as notificações das infecções. A partir de 2013, com o advento do teste-rápido, ocorreu uma considerada evolução no percentual de diagnósticos de novos soropositivos na capital potiguar.

Isso se comprova no número de portadores do vírus HIV e Aids que são atendidos hoje no Serviço de Atendimento Especializado (SAE), mantido pela Municipalidade. Até o ano passado, 480 pessoas eram atendidas no local. Hoje, o número se aproxima dos mil pacientes. No Nordeste, segundo dados do Ministério da Saúde, a incidência de casos saiu de 7,5 para cada grupo de 100 mil habitantes para 13,9 entre 2001 e 2011. De acordo com o infectologista Antônio Araújo, a  histórica falta de acesso do nordestino ao ambiente hospitalar, à detecção do vírus e ao tratamento, contribuem para tal constatação.

A falta de prevenção entre a população mais carente e, ainda, entre os encarcerados, moradores de rua e pessoas que fazem uso de drogas ilícitas, piora ainda mais o quadro. “Para esses três últimos, é indiferente ser portador ou não do vírus HIV. É indiferente ter a doença, tomar medicamento, ter acompanhamento médico”, lamentou o especialista. E ele alerta para os riscos. “Existe um percentual de pessoas que não tem mais medo da infecção pelo HIV. Os jovens não estão alertados sobre o que essa doença pode causar”.

Depois do medo veio a banalização
Há pelo menos uma década, depois que a Aids deixou de assustar a população mundial em decorrência das milhares de vítimas que fez mundo afora, principalmente no continente africano, as discussões em torno da sua prevenção e tratamento se resumem a períodos específicos. No Rio Grande do Norte é lembrada, basicamente, nas ações desenvolvidas hoje, no Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Para a presidente da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids – Núcleo Natal, Jaqueline Brasil, o tema não deve sair de pauta em nenhum mês do ano.

“A população perdeu o medo de contrair e isso gera riscos sérios. Quem não tem medo de contrair, não sabe quais são as consequências do uso ininterrupto do coquetel”, frisou a ativista, que também preside a ONG Atrevida, voltada às travestis e transexuais. Somente este ano, seis travestis morreram no RN vitimadas por doenças oportunistas, que aproveitam a debilidade dos organismos infectados pelo vírus HIV. Muitas delas não tiveram acesso ao tratamento por preconceito.

De acordo com Jaqueline Brasil, as travestis sentem vergonha de frequentar ambientes hospitalares não somente pela exposição, mas também pelo não cumprimento da Lei do Nome Social, que permite, desde 2009, que elas usem o nome que não é o de batismo para terem acesso à posse do cartão do Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo. Além disso, nos Boletins Epidemiológicos emitidos pelas Secretarias de Saúde – Municipais e Estaduais – as travestis não aparecem como tais na contagem dos casos. Elas são incluídas no grupo de homens que se relacionam com homens (HxH).

O presidente da Associação Vidas Positivas (Avip), Marcos Belarmino, destacou que todos os portadores de HIV/Aids no Estado que fazem o uso de retrovirais que integram o coquetel estão recebendo a medicação regularmente. Entretanto, nem sempre eles conseguem receber os medicamentos para o controle das doenças oportunistas. Medicações como bactrin e cefalexina costumam faltar nos Postos de Saúde. “Nem sempre temos acesso às vagas de emprego, pois as pessoas ainda nos tratam com preconceito. Este, é eterno. Além disso, as aposentadorias e auxílio-doença estão cada vez mais restritos”, comentou Marcos Belarmino.

Evolução dos casos
Entre os anos de 2007 e 2014, foram notificados 1.116 casos de Aids somente em Natal. A maioria dos infectados é do sexo masculino, na faixa etária dos 20 aos 34 anos de idade. A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) não divulgou os dados estaduais sobre HIV/Aids, argumentando que não havia fechado o Boletim Epidemiológico. Veja abaixo a evolução dos casos confirmados/notificados em Natal.

Ano 2007
Homens – 41
Mulheres – 11

Ano 2008
Homens – 86
Mulheres – 27

Ano 2009
Homens – 106
Mulheres – 36

Ano 2010
Homens – 90
Mulheres – 34

Ano 2011
Homens – 111
Mulheres – 46

Ano 2012
Homens – 92
Mulheres – 17

Ano 2013
Homens – 123
Mulheres – 33

Ano 2014
Homens – 176
Mulheres – 87

Fonte: Programa DST/Aids – SMS

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