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Sarau para Veríssimo no Flipipa

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Yuno Silva – repórter
Cinthia Lopes –  editora do Viver

Vai faltar chão este sábado em Pipa no derradeiro dia do festival literário. Shakespeare, Luiz Gonzaga e Jorge Amado serão lembrados, e um sarau com textos de Luis Fernando Veríssimo resumem a programação principal de hoje. Movimentado durante todo o dia por atividades paralelas que envolvem estudantes e moradores das redondezas, o Flipipa traz Caminhada Literária (de 3km até o Spa da Alma) a partir das 15h e encenação do premiado “Sua Incelença, Ricardo III”, os Clowns de Shakespeare, na área externa da Tenda Literária, marco zero do evento, às 16h30. A titularidade dos debates, que começam logo após o teatro, ficam a cargo de Bené Fonteles, Nelson Xavier e Ana Miranda.

Flipipa 2012 - Mesa 4: Ficção e Memória, com Zuenir Ventura (MG) e Woden Madruga (RN)O escritor e jornalista Zuenir Ventura, amigo de longas datas de Luis Fernando Veríssimo, comanda o sarau que fecha a edição deste ano com oralização de textos do autor gaúcho. Internado em Porto Alegre desde quarta-feira (21), Veríssimo encerraria o Flipipa 2012. “Muito triste que meu grande companheiro, que deveria estar aqui comigo, está internado. Mas ele vai sair dessa… Achei muito criativa a ideia de lerem textos no encerramento (hoje, 20h30). Tenho certeza que ele vai adorar a homenagem quando ficar bom”, comentou Ventura nos bastidores do 4º Festival Literário da Pipa. Zuenir foi a grande atração na quinta (22). “Cheguei arrasado com a situação, e esse papo me animou muito. Ano que vem vamos voltar aqui juntos”, disse sobre o amigo antes de ir atender a fila de autógrafos.

Com um bate-papo solto e muitas histórias na manga, a conversa entre Zuenir Ventura e Woden Madruga garantiu os melhores momentos da irregular noite de abertura. Bem humorado, o experiente jornalista de 81 anos falou de Chico Mendes a Nelson Rodrigues, da relação entre esses tempos de ‘mensalão’, seus personagens, e o contexto histórico do movimento cultural de 1968. “E fiquem os mais jovens sabendo que naquela época éramos presos por subversão, e não por corrupção”, brincou.
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Entre histórias de cabaré e contracultura, Zuenir contou como ficou amigo do conservador Nelson Rodrigues: “Na ditadura Militar, entre 1968 e 69, tive o privilégio de ficar três meses preso com Hélio Pellegrino, que era muito amigo do Nelson. Apesar de ser um escritor genial, eu odiava o posicionamento político dele. Sempre que ia visitar o Hélio eu ficava no canto, mudo, fazendo beicinho”, diverte-se Ventura com suas memórias. Acabaram amigos e foi o próprio Nelson Rodrigues que ajudou Zuenir a sair da cadeia. “O Hélio sempre dizia que o Nelson era personagem dele mesmo, e que eu não deveria ficar com raiva”.

Com pleno domínio do público, o escritor e jornalista ainda ressaltou a importância do olho no olho, do contato pessoal, “coisas que estão rareando hoje em dia”, criticou. Ainda lançou para reflexão a máxima de que a amizade é “muito mais importante que o amor”: “ela (a amizade) não requer cláusula de exclusividade, quer dizer, tirando o Ziraldo que é um amigo muito ciumento”, corrige. Sobre o tema proposto para o debate, “Ficção e Memória”, deu o veredito: “a fronteira eles elas é movediça e fascinante”.

SANFONA, ARTE VISUAIS E NEGRITUDE

Além da programação oficial do Flipipa (www.flipipa.org), a literatura e a prosa também permeiam outras agendas neste trecho do litoral Sul potiguar. Hoje, às 22h, o sanfoneiro cearense Waldonis apresenta em Pipa o show “Cantos e Causos”, onde intercala músicas com histórias e anedotas colecionadas em suas andanças – ingressos à venda no Bodega Brasil por R$ 30.

Outra dica é conferir a programação alternativa do Flipaut (www.flipaut.org), que ocupa vários espaços culturais com exposições, debates, performances e apresentações. Neste sábado, a programação do Flipaut enfatiza a Semana da Consciência Negra e promove atividades na praça principal da Pipa até o fim da tarde, onde haverá batismo de Capoeira.

Também vale a pena passar no estande do Sebo Vermelho, que trouxe uma série de livros para lançar durante o Flipipa, como uma biografia de Luiz Gonzaga escrita em 1950 por José Praxedes, uma antologia rara com poemas de ferreira Itajubá e “Velhas Heranças”, compilação de textos de Hélio Galvão.

FALTOU TEMPERO

O que era para ser a mais apimentada mesa literária da noite, a palestra “Jornalismo, cultura e sociedade: nos bastidores da notícia”, com a presença da veterana jornalista e publisher Joyce Pascowitch  e a colunista social da Tribuna do Norte Eliana Lima, tendo a mediação do jornalista Tácito Costa, acabou perdendo o tempero principal do universo em que atuam. A plateia certamente esperava boas e muitas histórias do mundo político e colunável que recheia páginas e sites do segmento. No lugar, um relato até tímido da carreira de ambas as jornalistas, passando por temas como redes sociais, o novo jornalismo de variedades, colunismo em tempos de internet e futuro das publicações impressas.

Flipipa 2012 - Mesa 3: Jornalismo, Cultura e Sociedade: nos bastidores da notícia, com Joyce Pascowitch (SP), Tácito Costa (RN) e Eliana Lima (RN)Joyce é considerada uma das maiores ‘caçadoras de notícias quentes’ do jornalismo de opinião, principalmente quando atuava como colunista na Folha de S. Paulo e revista Época. Hoje, reclusa por opção, ela é dona de publicações de prestígio em plataformas diferentes como internet e revistas impressas.

#saibamais#No bate-papo, Joyce falou sobre o cotidiano que é chefiar o site Glamurama (que chega a ter 300 mil acessos diários) e a edição das revistas Joyce Pascowitch, Poder, Moda e Modo de Vida. Disse que começou a carreira só com o talento para apurar notícias. “Sempre tive o olhar aguçado para a informação, quando comecei não sabia nem usar a máquina de escrever direito”, conta.

Simpática, despojada e mostrando um conhecimento global da cultura e do mundo contemporâneo, a jornalista disse que a grande mudança do jornalismo social foi deixar de ser social (com sua pompa e glamour tradicional) para tratar da sociedade. “A sociedade é a cultura, as pessoas que fazem coisas bacanas, os bastidores da política, comportamento, até os modismos”, disse ela. Para Joyce, as redes sociais ajudam muito a atuação na área.

Por fim, provocada pelo mediador Tácito Costa sobre o desafio de manter quatro publicações (revistas) em meio a tantas previsões negativas sobre o futuro do jornalismo impresso, ela disse “não ser uma especialista no assunto”, mas que a junção internet e publicações mensais de conteúdo variado, para leitura, tem sido a receita bem sucedida “De fato o jornalismo diário tem sentido a concorrência da internet. Mas eu faço publicações mensais, então para mim tem dado certo. Internet e revistas vão muito bem inclusive lá fora”, concluiu. 

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