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Seca derruba produção e empregos

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Andrielle Mendes – Repórter

O setor sucroalcooleiro do Rio Grande do Norte enfrenta a pior crise dos últimos 40 anos. Parte do canavial secou, em função da falta de chuva, e a produção de cana, álcool e açúcar caiu quase pela metade na última safra. Segundo a Associação de Plantadores de Cana do estado (Asplan), 80% da mão de obra empregada durante a safra foi demitida. Antes da seca, o setor dispensava metade dos funcionários para depois contratá-los. “Já não se sabe quantos retornarão aos canaviais”, afirma Renato Lima, presidente da entidade.
Luiz Quirino ajuda a cortar a cana que pouco tem servido à usina
Eduardo Farias, presidente do Grupo Farias e dono da usina Vale Verde, em Baía Formosa, veio de São Paulo esta semana para sobrevoar o canavial. O empresário ficou perplexo com o que viu lá de cima. “Passei o dia sobrevoando a área. Estamos na região há 40 anos. Nunca vivenciamos algo parecido”. A situação, segundo Renato Lima, da Asplan, é generalizada. O volume de cana  moída pelo estado, considerando as quatro usinas e destilarias do RN, caiu de 3,5 milhões de toneladas para 2,2 milhões de toneladas na última safra, em média.

Eduardo reforçou a irrigação na sua propriedade. Hoje, 12 mil dos 25 mil hectares são irrigados. Ainda assim, aflige-se. “A cana continua morrendo, mesmo onde há irrigação”. O trabalhador canavieiro Sérgio Lira da Silva, 48, que trabalha na usina há mais de duas décadas, olha para o canavial seco e chora. “Eu me ajoelho todo o dia e rezo para que volte a chover”, confessa, envergado sobre o solo, com o rosto entre as mãos.
#SAIBAMAIS#
João Jacinto dos Anjos, 46, também observa o canavial com os olhos marejados. Ex-cortador de cana, há oito anos desliga e liga os motores usados na irrigação da plantação. “Dá até tristeza ver o canavial morrendo. A gente tá lutando, mas a chuva depende de Jesus (sic)”. Para salvar ao menos a raiz da cana – chamada de socaria – a usina intensificou o corte este ano. Luiz Quirino Lopes, 48, cortador de cana há 30, foi um dos trabalhadores recrutados para o serviço. “Aqui está a minha vida”, responde, enquanto observa outros executando a mesma tarefa.

A cana que Quirino corta não serve nem para ser processada na indústria nem para mover a usina de biomassa, inaugurada há poucos anos. Não fossem os pecuaristas – que compram a palha para alimentar o gado – o destino da cana seria o lixo. O que a usina produz hoje não é suficiente para cumprir os contratos. Para garantir que o açúcar chegue às prateleiras dos supermercados do estado, o grupo tem trazido açúcar de Pernambuco e Goiás, onde também tem usinas. A tendência é que o cenário piore, alerta Renato Lima, da Associação dos Plantadores de Cana. Sem chuva, até as sementes secaram.

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