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Sem jogos, atletas do futebol do RN apelam para os bicos durante pandemia

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Anthony Medeiros
Repórter
Desde março, quando a Federação Norte-riograndense de Futebol (FNF) decretou a suspensão do Campeonato Potiguar por conta da pandemia do novo coronavírus, a vida de diversos profissionais ligados ao futebol passou por uma verdadeira reviravolta. Em decorrência da parada, jogadores, técnicos e membros da comissão técnica tiveram suas rotinas interrompidas e em alguns casos passaram a desempenhar outros tipos de atividades para complementar ou até substituir as receitas que ganhavam regularmente com o futebol.
Na foto acima Mikael joga pelo Potiguar. Aqui, lava motos na Paraíba
Exemplo é o caso de Mikael, meia-atacante do Potiguar de Mossoró, 22. Natural de Soledade/PB, o atleta falou à TRIBUNA DO NORTE, por telefone, de sua cidade natal, onde está aguardando a sinalização do clube mossoroense para o retorno das atividades, que ainda depende da sinalização da Sesap e FNF. Enquanto isso não vem, o jogador segue cuidando de um lava-jato, aberto pelo meia justamente durante a pandemia. Com o auxílio de um ajudante, o próprio Mikael executa as ações e, com isso, complementa a renda que recebe como atleta, já que o clube segue honrando seus pagamentos até o final do seu contrato, datado até o desfecho da Série D. 
“Quando nos demos conta do tamanho [se referindo ao enfrentamento à Covid], o clube liberou a gente para voltar para as nossas casas, pra começar a quarentena. Não sabia que ía ter um impacto tão grande no futebol e, principalmente, na vida. Mas vamos confiar em Deus… Só ele pode acabar com isso para que tudo volte ao normal, para que todos possam fazer o que gosta”, afirmou o atleta, que concilia a administração do empreendimento com os treinos por conta própria, para não deixar cair sua forma física. 
Mikael afirma que tentou o benefício do auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal, mas não foi aprovado. Os R$ 600, caso conseguissem, seria imprescindível para complemento da renda da família. Casado, a esposa, auxiliar de professora, também está sem acesso à íntegra do seu salário. Uma enteada de 12 anos e a mãe de Mikael, que atualmente está desempregada, também dependem dos vencimentos do atleta, que entrou em campo onze vezes pelo Potiguar nesta temporada, marcando um gol.
Já o atacante Antonio Júnior, 24, que estava vinculado ao Santa Cruz antes da pandemia, sequer mantém renda relacionada ao futebol atualmente. Com o clube longe das competições nacionais e com compromissos ligados apenas ao Estadual, a maioria dos atletas possuíam contrato válido até abril, prazo original para o fim da competição. “O clube foi muito correto com todos os jogadores. Pagaram o mês de março completo, mesmo com as atividades terminando na metade de março”, afirmou o atleta, que tem passagens pelas categorias de base do ABC e América e mora, hoje, em Goianinha.
Toinho, como também é chamado no mundo do futebol, substituiu a renda do esporte com a venda de produtos de beleza de forma autônoma. É essa atividade que leva comida à mesa da família do jogador, composta pela esposa e um enteado. “Passei a vender também trufas. Continua a ser uma fonte de vendas, mesmo que tenha caído um pouco com a pandemia”, afirma o jogador, que revela ter sido aprovado pelo Dataprev no lote mais recente de beneficiários que tentaram o auxílio emergencial. 
Essa não é a primeira ocasião que Antonio Júnior fica longe do futebol. Entre 2014 e 2017, o atleta revela que ficou por três anos desempregado, sem vínculo com clube algum, período que teve que se virar para complementar a renda de modo honesto, como bem define. “Fiz de tudo um pouco nesse período, foi aí que comecei com a venda de trufas”, afirma o atacante, que se despediu do Santa Cruz com sete jogos e nenhum gol marcado na temporada.
Antônio Júnior disputou a atual edição do campeonato pelo Santa Cruz
Situação varia de acordo com o clube
A necessidade de desempenhar uma outra função durante à pandemia é mais presente em clubes de menor estrutura. No caso de ABC e América, por exemplo, a situação é mais estável. Em ambos os clubes, foram anunciadas reduções salariais dos jogadores, práticas recriminada pelo Sindicato dos Atletas de Futebol do RN (Safern), mas que manteve os atletas com contrato vigente com os clubes com vencimentos mesmo durante a paralisação. Os atletas foram acompanhados pelos profissionais da comissão técnica para treinos de forma remota, como forma de manter a preparação física sem grandes perdas para o retorno das atividades, ainda sem data definida.
Além do Potiguar, que segue pagando seus benefícios, outro clube do estado que disputará uma competição nacional é o Globo FC. Em entrevista à Jovem Pan News Natal, o técnico Renatinho Potiguar afirmou que o clube rescindiu alguns contratos e suspendeu outros vínculos, dentro do que é disposto na MP 936, medida provisória que permite a redução de salários e a suspensão de contratos de trabalho durante a pandemia de Covid-19. “Alguns atletas estão recebendo parte ou todo o salário pelo Governo Federal”, 
Um estudo feito pela EY a pedido da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), repercutido em reportagem em dezembro do ano passado pelo jornalista Rodrigo Mattos, revelou que o futebol movimentou um total de R$ 52,9 bilhões na economia do Brasil, o que representou 0,72% do Produto Interno Bruto do país em 2018, ano cuja os dados foram coletados. 
Arbitragem também enfrenta problemas
Não é só a turma da bola do pé que sofre sem a pandemia. Os árbitros ligados à FNF também sentiram na pele o peso da paralisação da modalidade. É o caso de Diego Leonardo, 29, um dos mais promissores árbitros do quadro potiguar e que recentemente conseguiu vínculo junto à CBF. “Sem os jogos, perco a principal fonte de renda”, afirma.  
Árbitro Diego Leonardo negociou débitos e recebeu o auxílio
Além do futebol profissional, Diego “apita” jogos de fut-7, futebol de areia e bocha paralímpica. Todas as atividades, segundo determinações da secretaria de Saúde do Governo do Estado, estão paralisadas até segunda ordem. No caso do árbitro, um paleativo foi a chegada do benefício do auxílio emergencial, o qual foi beneficiado nos primeiros lotes aprovados pelo Dataprev. “Inicialmente achei que não seria sequer contemplado, mas depois terminei conseguindo por conta da atividade remunerada como árbitro. [O benefício] não é o suficiente, mas ajuda muito. Negociei o que eu pude nas minhas despesas e estou conseguindo me virar. Estava quitando as prestações de uma moto, mas tive de congelar o pagamento”, comenta.
O árbitro Carlos Alberto de Berto, de 33 anos, também ligado à FNF, é porteiro de um condomínio e tira seu sustento durante à paralisação do futebol da atividade que exerce. Berto, que já foi coveiro, abriu mão do transporte público como forma de economizar gastos durante a pandemia. “ Vou ao trabalho de bicicleta, então já é um exercício bom. A situação geral mudou muito para os árbitros, até mais do que em comparação aos jogadores. Nós estamos com dificuldades para treinar e para manter nossas contas em dia”, explicou.
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