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Suporte e expressão

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QQCoisa – Dácio Galvão – [email protected]

Não é  incomum encontrar livros trazendo experimentos na representação gráfica pautando a comunicação visual. O advento da revolução digital e as inúmeras ferramentas disponibilizadas projetam ebooks expandindo a possibilidade criativa para tridimensionalidade bombardeiando os multimeios. Faz a festa de designer artistas visuais e escritores de todos os gêneros. A busca da funcionalidade deixa de ser uma brincadeirinha somente para aquecer o mercado livresco. Na verdade tem voltagem estética. É linguagem específica.  Acontece de há muito.

Basta dá rápida olhada no retrovisor: Un Coup de Dès Jamais N’Abolirá Le Hasard do poeta Stéphane Mallarmé. O Book off Kells manuscrito irlandês tecido por monges celtas no 800 da nossa era. O I Ching de três e seis linhas sobrepostas anterior a dinastia Chou (1150-249 a.C ). A tradição é secular e de culturas diversas. As razos ou biografias de trovadores provençais grafadas em pergaminhos no sec. XII configurando iluminuras e caracteres delimitam marca de suporte daquela época. Síntese de desenhos e idéias. O contributo civilizatório atua sem nenhum rigor cronológico convergindo em soluções gráficas variadas. Níveis de manualidades e de tecnologias abraça a produção intelectual: na tipografia no vídeo-texto caneta óptica impressão digital ou litográfica.

Vértices e vértices.  Exemplos dentre tantos: “A marca e o logotipo brasileiro” livro de João Felício dos Santos e Wlademir Dias Pino. Ali pulsa poesia inscrições rupestres prosa e pictogramas eletrônicos da televisão. Posfácio do filólogo Antônio Houaiss. A Caixa Preta de Augusto de Campos e Júlio Plaza. Livro-objeto: poesia computacional poemóbile poesia verbi-voco-visual. A Caixa Preta estilhaça tipologias se apropriando de letras-set letras construídas conforme a exigência textual. Não estamos falando do livro tradicional. Mercadológico. Livro como objeto de arte. Integrado e unificador de múltiplas possibilidades. Em 1928 o filósofo Walter Benjamin asseverava: “Agora tudo indica que o livro, nessa forma tradicional, encaminha-se para o seu fim”. Havia exatamente 10 anos que Oswald de Andrade aqui no Brasil ainda em fase pré-antropofágica concebia o coletivo

O perfeito cozinheiro das almas deste mundo ( diário de Garçoniere ) inovando a literatura brasileira e inaugurando o re-conceito do livro. Trata-se de uma produção coletiva estruturada e produzida conjuntamente com amigos trazendo fatos recortes de jornais bandeirinhas cartas revistas textos-fragmentos grampos e poema-carimbo. Ready-mades lingüísticos. O livro foi composto em parceira com Inácio Ferreira da Costa. Num ponto fala assim: Amar. Amar, amar é dívida do Miramar. Provável referência ao personagem do seu romance Memórias Sentimentais de João Miramar  A partir de o Lance de Dados de Mallarmé (1897) afirmam os estetas: está evidenciada a revolução moderna na forma do livro enquanto objeto. Espacialização e partitura. Ideal prismático. A necessidade de juntar à essência do trabalho suporte que termina por dele fazer parte por dele fazer arte.

Desde a celebrada e destruída Biblioteca de Alexandria há mais de 2000 anos o livro instrumentaliza conhecimentos. Nesse campo de interessse o poeta Haroldo de Campos lançou em 1986 o joyceano Galáxias através Ex libris contendo “50 videotextosgames”. Alargou o projeto e oralizou 16 fragmentos em CD “Isso não é um livro de viagem”. Alberto Marsicano fez ragas indianas em duas faixas para récitas do autor. O cineasta Júlio Bressane transcodificou para o áudio visual e encaixou o titulo: Galáxia Albina. Impressão digital litográfica. O novo no velho e o velho no novo. Movimento de inserção do livro. Que se multiabre. Dialoga e sobrevive. Passado presente e futuro: um livro-arte. Sem morte decretada. Objeto de desejo e prazer. Sempre. Escrituras e imagens. Propulsor de sonhos utopias.

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