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Tempo de super ofertas e de cautela na venda de veículos

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Renata Moura  Repórter de economia

A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que serviu de alavanca para a produção e a venda de veículos em tempos de crise, deverá acabar no dia 31 deste mês. Mas o fim do incentivo não tem sido motivo de desespero para o setor. Embalados pelas projeções de crescimento da economia, de ganhos de renda da população e pela chuva de crédito que voltou a inundar o mercado, indústria e revendedores apostam em crescimento este ano e, para garantir ao menos em parte o aquecimento, têm lançado uma enxurrada de promoções “imperdíveis’’ no mercado, o que pode ser um perigo para o consumidor movido à emoção. Segundo especialistas, comprar por impulso traz o risco de comprometimento do bolso.

No Rio Grande do Norte, as tentações aparecem em formatos variados e jorram no mercado desde o início do ano, oferecendo desde taxa de juros de 0% no financiamento à possibilidade de pagamento depois da Copa. São ofertas que podem fazer brilhar os olhos dos que estão ávidos por colocar um carro novo na garagem, mas é preciso ter cuidado antes de fechar negócio.

“É importante ler o contrato e exigir o detalhamento do Custo Efetivo Total, que reúne os encargos e juros de um possível financiamento. Nem sempre isso é explicado”, diz a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste), Maria Inês Dolci. Sem essas precauções, há o risco, por exemplo, de deixar passar taxas de juros mais caras do que se gostaria de pagar e tarifas extintas pelo Banco Central (BC), mas que, eventualmente, podem ser embutidas no valor da prestação. “É preciso ter cuidado com as facilidades e, principalmente, analisar se há condições para se fazer esse investimento”, alerta o presidente do Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Norte e coordenador do curso de Gestão Financeira da Universidade Potiguar (UnP), Janduir Oliveira da Nóbrega. 

Alguns consumidores não sabem, por exemplo, que a Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) está vedada pelo BC. A proibição é prevista numa nova regulamentação que versa sobre a cobrança de tarifas pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo banco, editada em 6 de dezembro de 2007. Desde essa data, segundo o BC, só podem ser cobradas de pessoas físicas as tarifas expressamente previstas na regulamentação.

“Podem ser cobradas relativamente a operações de crédito, exclusivamente, a tarifa para confecção de cadastro para início de relacionamento e pela concessão de adiantamento a depositantes, estando vedada, portanto, a cobrança de tarifa de abertura de crédito, taxa de retorno ou outras tarifas da espécie. Ademais, não é admitida, por parte dessas instituições, vinculadas aos contratos de operação de crédito e de arrendamento mercantil, a cobrança de valores a título de tarifa ou ressarcimento de despesas na emissão de boletos de cobrança, carnês e assemelhados”.

As instituições são obrigadas a divulgar informações relativas à prestação do serviço e às respectivas tarifas, em local e formato visível ao público em suas dependências e nas de seus correspondentes, bem como em seus endereços eletrônicos. O Banco Central diz que realiza ações contínuas de fiscalização e eventuais descumprimentos da regulamentação sujeitam as instituições às penalidades previstas no art. 44 da Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964. As penalidades vão de multa e cassação da autorização de funcionamento das instituições financeiras públicas – exceto as federais – ou privadas, à reclusão.

Ao longo de muitas prestações, as taxas de juros também podem fazer uma diferença considerável no preço final do veículo. Mas e quando estão “zeradas”, significam bom negócio? Não necessariamente, de acordo com o consultor em finanças pessoais, autor do livro “Vamos falar de dinheiro?” e editor do site Dinheirama.com, Conrado Navarro.  “Taxa de 0% significa, na cabeça do consumidor, pagar R$ 20 mil ou 20 prestações de R$ 1 mil. O grande problema é que R$ 1 hoje não vale a mesma coisa daqui a três anos. E ninguém vai vender parcelado por um preço fixo sabendo que haverá alteração”. Na prática, segundo ele, o valor do carro normalmente é fechado mais alto, garantindo uma “margem de segurança ao vendedor”. “O valor final já embute esse risco de a moeda se alterar ao longo do tempo. O que o cliente tem que fazer é negociar desconto para o caso de pagar à vista ou dar uma boa entrada. É preciso ter coragem e vontade para pagar o preço mais justo”.

Vendas avançam com IPI menor e promoções

O IPI reduzido, que fez cair o preço dos veículos, a oferta de promoções e a retomada de condições mais favoráveis de financiamento após a crise ajudaram a aumentar em 20,24% os emplacamentos no estado em fevereiro e a aquecer as vendas das concessionárias. Segundo o presidente da Fenabrave, que reúne as empresas do setor, Tomás Filho,  as promoções lançadas nessa época do ano partem do princípio de que o período é de mais despesas. “São feitas para desafogar quem quer comprar e não tem o dinheiro da entrada ou do emplacamento, por exemplo”.

Na concessionária Redenção, onde as vendas cresceram 35% em fevereiro, sobre fevereiro de 2009, toda a linha Renault foi oferecida, por uma semana, com entrada para a Copa de 2014. Mas, o resultado positivo teve mais a ver com o IPI reduzido do que com a promoção com o mote do futebol, diz o gerente comercial, Victor Potiguar. “O consumidor viu que  as taxas de juros por outros financiamentos eram mais vantajosas”, observa. Para dar a entrada na Copa, a taxa seria de 1,49% ao mês. Em outros  financiamentos se pagaria de 0%, a, sem entrada, de 1,35%. 

Nas concessionárias Volkswagen Nacional e Via Costeira Veículos, a possibilidade de dar R$ 1 de entrada e pagar a primeira parcela depois da Copa da África do Sul tem atraído a freguesia, garante o gerente geral, Henrique Brito. Ele também confirma, porém, juros mais altos nesse tipo de operação. “Todo financiamento com carência envolve risco relativo e  por conta disso existe taxa um pouco mais alta”. A taxa  média, segundo ele, é de 1,6% ao mês para financiamento normal. E, com 100% de financiamento, como nesse caso, vai a 1,9%.

Guilherme Visa, gerente de Seminovos das concessionárias, diz que, no departamento que gerencia, o fluxo de consumidores cresceu cerca de 10%, desde que lançada a promoção em que a concessionária se compromete a pagar as três primeiras parcelas e o consumidor paga a partir da quarta, no período do São João.

Segundo o coordenador de Operações e Normas do Procon Estadual, Dari Dantas, qualquer peça publicitária integra o contrato que vier a ser celebrado. “O consumidor deve observar se está levando o que foi prometido”. O consumidor tem o direito de pedir uma cópia do contrato, antes de assiná-lo, e de levar para avaliação de um advogado, de um contador ou do Procon para saber se está dentro das regras.

“Setor apela para a emoção do cliente”

“O momento certo para comprar não é necessariamente o momento em que o setor diz que, se você não aproveitar, vai acabar pagando mais caro’’, diz o consultor Conrado Navarro. As empresas, segundo ele, apelam para o campo da emoção ao apostar em estratégias que envolvam, por exemplo, a paixão do brasileiro por futebol. Pegando esse gancho, sugerem que se o consumidor não tem o dinheiro para pagar agora pode encarar essa responsabilidade no futuro. “É uma estratégia de marketing. As empresas não estão fazendo algo incorreto mas aproveitam para conquistar o cliente e fazer com que não raciocine muito”.

E não racionar pode ser um perigo na hora das compras. Os riscos incluem pagar mais do que o orçamento permite e acabar endividado. Uma pesquisa da Confederação  Nacional do Comércio mostra que, em fevereiro, 44,3% das famílias potiguares com renda até 10 salários mínimos tinham alguma conta em atraso e que financiamento de carros era o segundo principal tipo de dívida. Mais de 17,7% haviam sido contraídas nesse tipo de operação.

Para não cair nessa armadilha, o primeiro passo é fazer conta. Colocar no papel quanto se ganha e se gasta e analisar se haverá o capital necessário não só para pagar pelo veículo à vista ou financiado, mas também para arcar com as despesas pós aquisição, que vão desde impostos, combustíveis, possíveis estacionamentos até gastos com manutenção.

De acordo com a Agência AutoInforme, a chamada inflação do carro acumula alta de 3,8% no ano, um índice bem acima de todas os levantamentos de inflação do País. O motorista gasta uma média de R$ 883,36 por mês para rodar com o carro e fazer a manutenção preventiva.

“O consumidor precisa ser racional na decisão”, observa Navarro. Comprar à vista, segundo ele, é o melhor negócio para quem planeja comprar um carro, porque dá poder de barganha. Mas, se o jeito for financiar, a dica é dar a maior entrada possível para reduzir o tamanho da prestação e o tempo de pagamento. “Quanto mais longa a prestação maior vai ser a taxa de juros e o comprometimento da renda. É preciso pensar que, ao longo prazo, outros comprometimentos surgirão e que o veículo vai se desvalorizando”, diz Maria Inês, da Pro Teste.

O tempo ideal de financiamento  é de 24 meses, segundo Navarro, porque a partir desse prazo as pessoas começam a ter o desejo de trocar o carro. Também não se deve comprometer mais do que 30% do orçamento com esse tipo de dívida, para garantir sobras para emergências, por exemplo.

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