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Tempos quentes

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Nelson Mattos Filho
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Hoje ao abrir o diário para registrar a vida me deparei com o branco da página, que insiste em não ser preenchida, e com o branco que invade essa minha cabeça de vento e mar. Diante da falta momentânea de ideias, lembrei-me da palavra em que me definiram durante um almoço em família e quase me deixou de congestão. Muitos se apressarão em corrigir dizendo que a palavra correta é indigestão, porém, se misturarmos as letras desembocaremos no famoso bucho inchado. Alienado. Foi essa a palavra que mexeu com meus brios e sempre que fico assim meio sei lá ela vem martelar o juízo.
Tempos quentes
Quer saber de uma coisa? Queria mesmo ser um alienado para não ter que me indignar com as mazelas desse mundo cada vez mais sem rumo, habitado por humanos tão desumanos e governado por indigentes de caráter e honradez.

É sempre assim quando preciso abandonar por uns dias o aconchego do meu veleirinho para servir de alvo nas ruas e avenidas das cidades. Passo a olhar o mundo pela lente da podridão. Prefiro o mar!

Não suporto ouvir noticiários despejando balas, bombas e crueldades desmedidas sobre nossos pés. Não consigo entender a intolerância e a fúria praticada em nome de um deus que nunca pune os bárbaros e trucida inocentes. Não suporto os políticos travestidos de cordeiros e seus discursos embusteiros. Não sei nem definir com palavras a guerrilha urbana oficializada em que estamos metidos. A vida nas cidades está um caos, porém, a soberba das pessoas mascara a observação. A cidade me consome a alma e a autoestima que um dia adquiri diante do altar do mar.

Deixa-me boquiaberto a leniência das pessoas diante dos desmandos governamentais, da violência desenfreada, da perda da paz, das mortes de inocentes, do desmantelamento das famílias, da falta de ética e da falta de amor. Queria mesmo ser um alienado, mas não consigo. Não consigo ver tanta desgraceira nas ruas e saber que nada mais tem cura.

Não posso calar enquanto ideólogos de plantão arrotam e vomitam teses baratas em prol de assassinos, ladrões, corruptos, traficantes e degredados. Não posso fechar os olhos enquanto aqueles que são pagos para proteger ameaçam nossas vidas. Não queria ter que achar graça enquanto o inferno torra as cidades e meia dúzia de beldades, amostradas e decadentes, mostram os seios diante das câmeras. Como se o ato, salutar ao olhar masculino, fosse à salvação de todos os nossos problemas.

Mas é verão e por isso a vida segue em um rumo meio amalucado e a cada ano tem um ritmo de sofrência diferente, que inicialmente entra rasgando nossos tímpanos, mas no decorrer da balada todos acabam aplaudindo e festejando em fartas doses de espumante, whisky e cerveja gelada. E por ser verão, é melhor eu deixar de lado essas preocupações absurdas e sem sentido para não avexar a tranquilidade da varanda alheia.

No começo da semana tive notícia de mais um acidente de verão envolvendo uma lancha e um pequeno barco de pesca, durante a noite, nas águas do Senhor do Bonfim. Acidentes acontecem! Pois é, acidentes acontecem e por isso muitos acharem que não devíamos nos preocupar com eles. Mas o que também me chamou atenção no acidente, além das mortes de dois pescadores que estavam na canoa, foi à desinformação repassada à população sobre as causas da tragédia.

É mais do que sabido, e facilmente detectável, que potentes lanchas e motos aquáticas navegam a toda velocidade nas noites escuras das águas brasileiras. Está escrito nas boas normas que regulam o tráfego de embarcações, que durante a noite e próximo a portos, praias e ancoragens, para a segurança da embarcação e dos tripulantes, é preciso reduzir a velocidade. As motos aquáticas nem podem navegar a noite, pois não são dotadas de iluminação. Tudo isso é do conhecimento do navegante, mas todos se fazem de desentendidos e assim as águas vão rolando.

No caso do acidente com a lancha baiana, o repórter escreveu que a embarcação estava com os faróis apagados e por isso não avistou a canoa dos pescadores e essa desinformação nem chegou a ser rebatida pela autoridade marítima. As únicas luzes que são permitidas enquanto uma embarcação está em movimento são as luzes de navegação, bombordo, boreste, alcançado e luzes especiais no caso de barcos envolvidos em alguma atividade de serviço ou algum tipo de navegação especifica. Todas outras são proibidas, pois confundem outras embarcações.

Agora o acidente será investigado, os culpados serão desculpados, as estatísticas absorverão os números e tudo voltará a ser como antes até quando o Carnaval chegar. Está feia a coisa!

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