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Todas as mulheres do mundo

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Rafael Duarte *
Colaboração para o Viver

Pode parecer simplista dizer que a mulher é o centro das atenções no espetáculo “Santa Casa”, do grupo Criart Teatral, de Roraima. Mas não é. A mulher, na verdade, nunca está sozinha. Na pior das hipóteses, vai acompanhada da solidão.

Quem se atreve a contar uma história sobre a mulher sabe que o risco do tema descambar para os clichês é real, mas no palco o que sobressai é a reflexão que a dramaturgia provoca. Às vezes, no entanto, o público se confunde com o tempo das personagens.

O espetáculo foi contemplado no edital Myriam Muniz de circulação nacional da Funarte e teve única apresentação em Natal, domingo passado, na Casa da Ribeira. Formado por quatro atrizes e uma violinista, o grupo é de Boa Vista, em Roraima, rodou algumas capitais do Nordeste e se apresentou pela primeira vez no Rio Grande do Norte. 

A dramaturgia foi criada em cima de uma série de recortes de músicas, filmes, novelas e situações experimentadas pelas atrizes. O romance “A Casa das Sete Mulheres”, da escritora Letícia Wierzchowski, é uma das referências. Os nomes das personagens, por exemplo, vêm da letra da canção “Casa Aberta”, de Milton Nascimento.

As atrizes Jayne Cardoso, Kaline Barroso, Karen Barroso e Marcelle Grécia interpretam Helena, Mercês, Flor e Geralda. Embora não apareça, Ramiro, outro personagem da música, está vivo na peça, como o amor ideal, no pensamento de uma das mulheres da casa. A dramaturgia coletiva é assinada por Kaline Barroso.

Cada personagem representa um arquétipo diferente de mulher num século também distinto. Estão lá a romântica, a revolucionária, a liberal e a conservadora. Todas lutando contra seus medos, suas angústias e seus destinos.

O texto procura amarrar as quatro histórias como se todas elas vivessem num mesmo tempo. É preciso redobrar a atenção para entender a passagem sutil de uma era para outra, especialmente porque o figurino das atrizes formado por longos e belos vestidos de época não faz distinção entre os séculos.

O violino de Augusta Pacheco aproxima os tempos distintos e aumenta a tensão da narrativa no limite. A música pontua as histórias e fortalece a narrativa. 

As atrizes interagem de forma direta com o público. Por vezes o espectador vira personagem em cena durante uma intensa troca de olhares com as personagens ou instigado a participar segundo um livro, por exemplo.

O grupo abre mão da estrutura tradicional palco-plateia e reorganiza as cadeiras em círculo sobre o próprio palco inserindo todos numa espécie de arena.

A luz assinada por Baronso Lucena é um elemento cênico fundamental porque traz ainda mais o espectador para dentro do espaço onde a história é contada.

O espaço, aliás, é um elemento misterioso em cena. A história se desenrola entre as personagens sem que o público tenha certeza aonde de fato acontece.

Dada a diferença de personalidade das quatro mulheres é possível imaginar uma série de situações. Loucas num hospício, irmãs dentro de casa, mortas numa espécie de limbo ou qualquer outro espaço. Não linear, a  dramaturgia dá essa liberdade e prende a atenção do expectador. A “Santa Casa” não é necessariamente um lugar.

Apesar da divisão do espetáculo em arquétipos e séculos diferentes, a história fala de uma mulher atual que se busca, se perde, se encontra e se reconhece nela mesma.

A histórica luta pela emancipação feminina em constante conflito com o conformismo de uma sociedade conservadora que se agarra a dogmas religiosos ou leis caducas se faz presente. A ingenuidade do amor ideal flerta com a liberdade sexual. São antíteses que se complementam.

Em quase uma hora de espetáculo, o público se reconhece nas personagens e nas experiências contadas em cena.  “Santa Casa” não narra a história da evolução feminina. Não linear, fala de todas as mulheres do mundo. 

Cena Curta
Dramaturgia
O SESC Natal promove de 1º a 5 de maio a primeira oficina de dramaturgia e leitura dramática de 2015 com o dramaturgo catarinense André Felipe Costa Silva. Ele também é ator, diretor, professor e co-fundador da Dearaque Cia. Os selecionados vão trabalhar textos para grupos de teatro. A ideia é desenvolver técnica de trabalho de grupo com o objetivo de estabelecer a criação coletiva de um texto teatral, além do exercício de dramaturgia e análise ativa de texto para a cena. A oficina é gratuita. As inscrições no site www.sescrn.com.br.

Helder Vasconcelos
Fundador do grupo pernambucano Mestre Ambrósio, o ator, músico e dançarino Hélder Vasconcelos passou por Natal essa semana mais uma vez a convite do grupo Clowns de Shakespeare. Helder deu uma oficina no Barracão do Clowns. A novidade é que o pernambucano está trabalhando no próximo disco. A produção está sob a responsabilidade de Marcos França.

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