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Turismo: aventuras e desventuras

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Nei Leandro de Castro
escritor

Tenho dois amigos que adoram fazer turismo em excursões. José Carlos Pereira conhece o Brasil de ponta a ponta em viagens de ônibus pela Oiapoque-Chuí Tour. Ele se diverte enquanto percorre quilômetros e quilômetros de estradas do país. Conta piadas, imita Frank Sinatra, recita poemas,  enquanto o ônibus vai voando estrada afora. Já foi eleito cinco vezes Míster Simpatia nas excursões. O outro amigo era Danilo Bessa, que foi várias vezes à Europa, em excursões da Vruuuu Turismo (ou Vrououou Tourisme, para os bilíngües), tendo conhecido 93 cidades de cinco países da União Européia.  Danilo e Lenira, sua fiel escudeira,  se divertiam pelas estradas européias. Nada tendo a reclamar do horário de saída – 7  horas da madrugada, todos a postos –, da velocidade dos ônibus e das brevíssimas paradas em cidades belas e importantes. A fome de conhecer tem pressa. Danilo achava tudo muito bonito, maravilhoso. Não o preocupava sequer os excessos de religiosidade da guia, que  quase briga com ele, comunista histórico, que não quis se ajoelhar aos pés de uma estátua de Santa Joana D’Arc. Esses meus amigos têm algo de excepcional. Ah, como eu gostaria de imitar Frank Sinatra ou Jackson do Pandeiro dentro de um ônibus que sacoleja pelas estradas brasileiras. E que dizer de conhecer uma média de 31 cidades européias em apenas um mês?  É a glória que eleva, consola e custa muito menos do que o turismo individual.  Essa minha impaciência com programas de Peri, Ceci, Poti, Araribóia me priva de muitos prazeres e ainda custa caro.

Só fiz duas excursões de turismo na minha vida. Confesso, humildemente, que não deveria ter feito nenhuma. Uma delas, em Buenos Aires, feita em fins de 2004. A outra, há uns seis anos, foi de Florença a Pisa. Poucas horas de viagem, boa estrada, mal o ônibus arrancou a guia bilíngüe começou a falar besteira. A certa altura, surgiu à direita uma cidadezinha num plano elevado. A guia disse: “Ali é Vinci, onde nasceu o gênio Leonardo.” O motorista devia ter suas razões para não gostar de Da Vinci, porque enfiou o pé no acelerador e logo o vilarejo onde nasceu um dos maiores gênios da humanidade ficou para trás. Por que não parar no berço de Leonardo da Vinci? Por que não conhecer as ruas, as casas, os becos palmilhados por ele na infância? As excursões têm razão que a própria razão desconhece. Em Pisa, a sensibilidade da guia continuou no mesmo nível. Zero. Na entrada da cidade, um engarrafamento roubou um precioso tempo da excursão, por isso tivemos apenas 45 minutos para almoçar, ver a famosa torre e a belíssima catedral. Resultado: a Torre de Pisa é uma das referências desagradáveis da minha vida. Não, não tenho o fairplay de José Carlos Pereira, que em situações como essa levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, imitando Frank Sinatra: “I’ve got you under my skin”… Nem tenho tampouco a sabedoria de Danilo Bessa, que nessas horas raciocinava friamente: ficar chateado pode sair caro, ter paciência não custa nada.

De certa forma, ser turista – em excursão ou não – é estar sujeito a  aborrecimentos, desconfortos, explorações que podem começar no táxi que o leva do aeroporto ao hotel. Em Florença, fui xingado por um garçom de uma trattoria, porque recusei o vinho da casa, desses servidos em jarra,  que ele me trouxe sem que eu tivesse pedido. Pobre, mas metido: não bebo vinho da casa. Em Lisboa, alguns motoristas de táxi, particularmente os mais velhos, mais próximos da era Salazar, são muito grosseiros. Em Zurique, pedi uma salsicha branca numa carrocinha e quase fui engolido pelo vendedor, porque não paguei antes de comer. Alguém precisa escrever um livro sobre as aventuras e desventuras do turista, fonte de exploração.

Citação da semana:

 “A liberdade começa onde termina a ignorância.” (Victor Hugo)

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