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Um diário sem rotinas

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Yuno Silva – repórter

Nelson Mattos Filho e a esposa Lúcia conjugam há oito anos o verbo ‘viver’ em toda sua plenitude. Morando a bordo do veleiro oceânico Avoante desde 2005, o casal ainda é visto como maluco aos olhos de quem prefere não correr riscos, mas, na verdade, a loucura deles é pela liberdade! Como forma de compartilhar as muitas aventuras pela costa brasileira, sobretudo do RN até a Bahia com várias passagens pela ilha de Fernando de Noronha, Nelson lança o livro “Diário do Avoante” (Caravela, R$ 50) nesta terça-feira, às 18h, na livraria Saraiva do Midway Mall. Em uma compilação de 50 artigos, o autor conta quando começou a pensar na possibilidade de simplificar seu cotidiano; também fala sobre as lições aprendidas, os amigos que fez pelo caminho e os lugares visitados.
O livro Diário do Avoante, de Nelson Mattos Filho, reúne 50 artigos, entre os 100 primeiros textos publicados na coluna semanal de mesmo nome que o autor mantém nesta TRIBUNA DO NORTE desde janeiro de 2006
Diferente do que muitos podem imaginar, lançar-se ao mar a bordo de um veleiro depende muito mais de desapego e coragem do que da situação financeira – “basta ter um barco, de qualquer tamanho, respeito pelo mar e conhecimento náutico”, garante Nelson Mattos Filho, natalense de 51 anos que trocou o corre-corre exigido pela profissão de administrador de empresas por aventuras marinhas. Hoje ele e a esposa ganham a vida dando aulas sobre navegação, alugando o barco ou fazendo passeios. Lúcia ainda produz artesanato e Nelson faz ‘delivery’, onde conduz barcos de outras pessoas até determinado porto – já levou um até o Rio de Janeiro e outro até Trinidad & Tobago no Caribe.

Até hoje a mãe de Nelson não se acostumou com a ideia do filho viver no mar: “Ela ainda não velejou conosco e fica preocupada”, disse. Lúcia completa: “Sentimos saudades dos filhos, dos netos, dos amigos, mas não da rotina. Não dá pra deixar de fazer as coisas por causa de datas, festas”.

Quando decidiram jogar tudo “pro alto e passar dois anos no barco” chamaram o casal de loucos, “agora quando encontro amigos eles dizem: ‘quanta inveja boa eu tenho de vocês’”, lembra Nelson. “Se o seu sonho é morar na beira da praia ou em um sítio, tocar um instrumento… faça! O que não dá é ficar adiando”, aconselha Lúcia, que perdeu o medo do mar mesmo sem saber nadar. Ela ainda enjoa de vez em quando, mas já aprendeu alguns truques para não passar mal a bordo do Avoante.

Então, antes de prosseguir, vale registrar que “Diário do Avoante” não se trata de um manual de sobrevivência nem pretende ser qualquer espécie de livro de autoajuda. De leitura fluida e tom confessional, a obra pode inspirar não somente para àqueles que pretendem se aventurar no mar, como também quem pretende se aventurar a viver uma vida de aprendizado e de tolerância com as inevitáveis diferenças culturais e de valores encontrados no dia a dia.

De igual para igual

A história do casal começou a ganhar novos contornos em 1998, em uma livraria de aeroporto, quando Nelson comprou um livro da Família Schurmann, famosos por ser a primeira família brasileira a circunavegar o mundo em um veleiro. “Até aquele dia não pensava nem sabia nada sobre barcos. Vivia uma vida atarefada, com muitos negócios a ocupar nosso tempo. Uma correria desenfreada e sem controle, num mundo que a cada dia cobrava mais”, recordou o velejador Nelson Mattos Filho, que publica regularmente seus artigos aos domingos nesta TRIBUNA DO NORTE desde janeiro de 2006. O conteúdo do livro foi selecionado a partir dos 100 primeiros textos.

Velejador Nelson Mattos Filho lança hoje o livro Diário do AvoanteDetalhe: no Brasil, com seus mais de 8,5 mil quilômetros de litoral, a coluna “Diário do Avoante” é o único espaço regular dedicado ao universo náutico em um jornal impresso de grande circulação no país. “Isso reflete o quanto o Brasil ainda não acordou para seu potencial náutico, não só na questão esportiva como também turística”.

Ele afirma que de Salvador pra cima, tirando o Recife, “há pouco ou nenhum incentivo”: dos poucos lugares que existem, boa parte são restritos, não há escolas para formação de novos velejadores. “Marina não é um lugar para guardar barco de gente rica; a vela é um mundo desconhecido no país, é um estilo de vida que traz conceitos de educação, companheirismo. A vela muda a mentalidade das pessoas. O Brasil está na contramão da vela”, critica.

Nelson disse que a mudança radical no modo de vida decorreu “de um acúmulo de fatores”: “Além da rotina e da correria, também entra nessa conta o egoísmo de uma sociedade competitiva, a deslealdade, a fragilidade das relações quando dinheiro e poder está em jogo. Coisas que não vejo entre as pessoas do mundo náutico, onde ninguém se aproxima querendo algo em troca”. E se antes ele ficava restrito a rodas de conversa sobre dinheiro e negócios, hoje as conversas giram em torno de aventuras e paraísos tropicais.

“Independente se a pessoa tem muito dinheiro ou não, no mar todos conversam de igual para igual. Aprendemos a valorizar as coisas simples da vida, a respeitar a natureza, nossos próprios limites”, analisa.

Baía de Camamu

Apesar do Avoante, um barco com 10 metros (ou 33 pés), estar preparado para travessias oceânicas, Nelson e Lúcia ainda não passaram da Bahia. “O Avoante tem 35 anos de uso, é um barco forte e pronto para longas distâncias”, informa o casal. Eles já passaram por todos os cursos a que tinham direito e hoje são Capitães Amadores, posto que capacita a dupla para longas distâncias e viagens acima das 20 milhas de distância da costa.

Nesses quase nove anos velejando, já estiveram onze vezes em Fernando de Noronha e a meta é chegar até o Sul do país. Para participar do lançamento do “Diário do Avoante” deixaram o barco ancorado em Salvador. “De lá vamos voltar a Baía de Camamu, no Sul da Bahia. Chegar lá é fácil, difícil é sair”, brinca Lúcia.

Serviço: Lançamento do livro “Diário do Avoante” (Caravela, R$ 50) hoje, às 18h, na Livraria Saraiva do Midway Mall

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