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Um homem de livros

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Yuno Silva – repórter

Protagonista de uma trajetória marcada por superação e conquistas, José Xavier Cortez é enfático ao afirmar que “adquirir livros não é despesa, é investimento.” Conhecimento de causa não lhe falta: o potiguar, natural de Currais Novos, empresta seu sobrenome à Cortez Editora, criada há mais de três décadas em São Paulo. Empresa familiar, a Editora atua no mercado editorial brasileiro desde 1980 com ênfase na publicação de títulos acadêmicos.

Cortez: Quando lançamos a coleção ‘Nossa Capital’ tivemos uma surpresa vinda de Fortaleza: em vez da prefeitura gastar dinheiro com um megashow no aniversário da cidade, adquiriu 215 mil livros para distribuir nas bibliotecas, entre alunos e professores.Entusiasta das letras e sabedor da importância da leitura para a formação educacional, José Xavier circulou, neste mês de março, por municípios do interior do Rio Grande do Norte onde promoveu uma série de encontros denominados “Rodas de Conversa – A leitura, o livro e o editor”, evento dirigido e adaptado para diversos públicos como professores, acadêmicos, estudantes e crianças. José Xavier Cortez passou por cerca de 15 cidades do RN, principalmente da região do Seridó, e destaca o município de Ipanguaçu como um dos lugares mais interessados no encontro. Coincidentemente, os professores de português André Ribeira de Melo, 19 anos, e Aloma Saraiva Varela de Farias, 28, estavam na Poty  escolhendo alguns títulos doados por Cortez. A relação dos professores com o editor se deu de maneira espontânea: eles mandaram uma carta ao diretor do documentário elogiando o trabalho e a mensagem foi parar na mesa do próprio Cortez. “Ele entrou em contato e o convidamos para vir conhecer o trabalho desenvolvido em Ipanguaçu. Fizemos várias homenagens e hoje Cortez é um herói para os estudantes de lá”, informou a professora Aloma, da Escola Estadual Manoel de Melo Montenegro. “Vi muito da história de Cortez nos meus alunos”, finaliza André, professor da Escola Municipal Adalberto Nobre de Siqueira, na comunidade de Tabuleiro Alto, zona rural de Ipanguaçu.

Antes de embarcar de volta à São Paulo, ele conversou com a TN sobre a iniciativa e a experiência de compartilhar sua trajetória de vida diretamente com o público. Durante a entrevista, concedida na matriz da Poty Livros, o editor fez questão de garantir que “não há desculpa que justifique o fato das pessoas não lerem por falta de dinheiro. Sem o hábito da leitura, não há desenvolvimento”.

De onde surgiu a ideia de promover as “Rodas de Conversa” e qual o conselho que o senhor sempre repete nesses encontros?

Ainda estamos comemorando as três décadas da Cortez Editora, e, apesar do lançamento do documentário (O Semeador de livros) e das biografias, queria estreitar esse contato com o público. Leitores e futuros leitores. E nesses encontros sempre repito: “foi a leitura que me trouxe até aqui, então, quem ainda não tem o hábito de ler está na hora de começar”.

Ainda é muito ligado à sua terra?

Sim, sim Temos um sítio lá em Currais Novos, o sítio Santa Rita, e, pelo menos, de dois em dois anos reunimos toda a família. Faço questão de cultivar essa relação.

O senhor vê crise no mercado editorial brasileiro?

Somos uma empresa sólida, de caráter familiar, e já estamos acostumados com os períodos de crise. Qualquer empresa, de qualquer ramo, nunca estará satisfeita com os resultados, por melhor que sejam – é natural na Economia essa meta de constante  crescimento. Mas vejo o mercado brasileiro com muito potencial para crescer, pois ainda estamos bem atrás de outros países.

O baixo poder aquisitivo é um fator que atrapalha esse crescimento?

Sabemos que quem ganha um salário mínimo passa por uma série de privações. Mas há uma inverdade sobre aquele comentário: “não leio por que não tenho dinheiro”. Temos bibliotecas públicas para contornar essa situação, e as pessoas precisam cobrar do poder público bibliotecas atualizadas e funcionando. Comprar livro é investimento, e não há desenvolvimento sem o hábito da leitura. Veja um exemplo: em 2006, quando lançamos a coleção “Nossa Capital” (em Natal saiu o livro “Natal, Noiva do Sol”, de Clotilde Tavares) tivemos uma grata surpresa vinda de Fortaleza: em vez da prefeitura gastar dinheiro promovendo um megashow no aniversário da cidade, adquiriu 215 mil livros para distribuir nas bibliotecas, e entre alunos e professores da rede pública. Isso é um exemplo de cidadania.

A Cortez Editora atua na publicação de livros acadêmicos e, recentemente, adentrou na literatura infanto-juvenil. Há planos na Editora para abarcar a literatura de ficção?

Por enquanto ainda não há planos para publicar títulos de ficção. A área infanto-juvenil está indo muito bem, mas vamos continuar focando os títulos acadêmicos.

Como  a Editora escolhe qual título será publicado?

Temos conselhos temáticos que funcionam regularmente. Nos encontramos para avaliar os originais que chegam à Editora, e definir quais títulos serão lançados. Recebemos cerca de 500 originais por ano, e nossa média anual gira em torno 80 lançamentos. Devolvemos o restante não por falta de qualidade, mas por não termos estrutura para lançar todos – o mercado não absorve.

Como é feita a divulgação dos novos títulos? A Cortez  é responsável pela estratégia de marketing?

Somos responsáveis pela divulgação e distribuição de todos os títulos. Não adianta um autor chegar querendo pagar para sair pela Cortez. Os autores ajudam também nessa divulgação, mas não aceitamos aqueles que chegam querendo pagar para sair pela Cortez, não é assim que funciona.

Qual o tipo de livro que chama a atenção do leitor Cortez?

Costumo dizer que sou um leitor tardio, trabalho em um mercado muito competitivo e vou me atualizando da forma que posso. Meu cotidiano é ler, estou em eterna aprendizagem. Leio os livros da Cortez Editora e aprecio livros de Psicologia, Economia, Sociologia, Política e literatura infanto-juvenil – talvez por não ter lido quando era jovem. Inclusive, temos dois representantes da Cortez na Feira do Livro Infantil de Bolonha (Itália), a mais importante do mundo neste segmento.

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