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Um homem distinto

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Yuno Silva – repórter

Distinto. Era assim que Aluísio Bezerra tratava as pessoas com quem convivia. De personalidade generosa, sua trajetória pessoal, profissional e política ganha nesta sexta-feira um registro histórico definitivo com o lançamento do livro “Distinto – o líder Aluísio Bezerra”, de Lauro Gonçalves Bezerra, irmão do biografado. A publicação, editada pela Caravela Selo Cultural, será apresentada logo mais às 18h, na Livraria Siciliano do Midway Mall, com sessão de autógrafo do autor. A orelha traz assinatura de Agnelo Alves, apresentação de Cassiano Arruda e prefácio de Woden Madruga.

No livro, Lauro Bezerra costura a história política da família Bezerra, iniciada em 1945, durante momento de reabertura: “Meu tio Theodorico Bezerra, um dos grandes nomes da política do RN, e Aluísio foram os fiéis defensores do verdadeiro PSD de JK”, conta o autor“Não se trata de um simples enfoque pessoal, pois, para mim, o mais importante em uma biografia é a contextualização temporal. Por isso, procurei entrelaçar a vida pública de Aluísio (1926-1978) com as passagens que marcaram a recente história do RN. Como dizia (o filósofo espanhol) Ortega y Gasset: ‘o homem é ele e suas circunstâncias’. Somos aquilo que produzimos e o que fizemos de útil à sociedade”, garante Lauro.

“Também fiz questão de enfocar como ele lidava com o tripé em que todo ser humano está alicerçado: as virtudes, os defeitos e os vícios. Paciente e generoso, sempre otimista, tratava todo mundo por distinto, daí o nome do livro”, acrescentou o médico e professor aposentado, escritor e o terceiro de cinco irmãos.

Fumante inveterado, Aluísio teve sua vida abreviada devido um enfisema pulmonar com o qual conviveu por 17 anos. Além de Aluísio, o mais velho, e Lauro, o do meio; o quinteto se completa com Albenise, Salete e o caçula Fernando Bezerra, ex-senador e engenheiro.

O escritor contou que passou os últimos vinte anos juntando material até chegar a hora certa de publicar. “O tempo foi passando e nem sabia se faria sentido lançar um livro falando de alguém que morreu há mais de trinta anos. Mas lembrei daquela máxima dos historiadores, que dizem ser  fatos políticos melhor relatados trinta anos após o acontecido, por já ter passado a emoção. Depois desse período, fica mais fácil manter distanciamento e o relato se torna mais racional”, aposta.

Lauro Bezerra reuniu documentos, depoimentos, recortes de jornais e fotografias, e fez questão de frisar que contou com a “valiosa colaboração do jornalista Alexis Peixoto, que me ajudou na pesquisa e na organização desse material todo”. “O livro permeia a história, é . Focalizamos os acontecimentos. Nós somos aquilo que nós representamos no contexto em que vivemos,.

MEMÓRIA E FUTEBOL

Sobre o livro, o autor acredita no caráter documental da obra – inclusive como fonte de pesquisa. “Nosso povo não tem memória, desconhece a própria história e lê pouco se compararmos com países vizinhos como Argentina. Então vejo ‘Distinto…’ como uma contribuição para a memória do RN, acredito que seja um material de pesquisa para se compreender detalhes de episódios político, sociais e até do cenário esportivo”, aposta. Líder de oposição no governo Dinarte Mariz e líder do governo de Aluízio Alves, Aluísio Bezerra cumpriu duas décadas de mandato como deputado (doze como Estadual e oito como Federal), foi ferrenho defensor das reforças de base – reformas do judiciário, reforma política, eleitoral, partidária e tributária.

“Era admirado como orador e tido como um articulador habilidoso. Atravessou os governos de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek vivendo intensamente o cenário político, defendeu a democratização da educação e foi testemunha de uma série de episódios violentos que marcaram a política potiguar. Destemido, era um dos primeiros a chegar em qualquer lugar onde conflitos precisavam ser resolvidos. Sempre o tive como um exemplo”, orgulha-se o autor, lembrando que a família Bezerra entrou na política em 1945 durante momento de reabertura. “Meu tio Theodorico Bezerra, um dos grandes nomes da política do RN, e Aluísio foram os fiéis defensores do verdadeiro PSD de JK”.

Além do viés político, o lado empresarial e a atuação como dirigente do ABC Futebol Clube também estão nas páginas do livro, que dedica três capítulos para retratar o período que Aluísio esteve à frente do time. “Ele dedicou seus últimos cinco anos de vida ao ABC e emprestou sua credibilidade em um momento de crise do clube. Também articulou um dos maiores feitos do futebol potiguar de todos os tempos: uma excursão internacional que durou mais de 100 dias e circulou por três continentes nos anos setenta”, relembra Lauro.

Entre as curiosidades destacadas pelo escritor sobre o período que o irmão mais velho esteve envolvido com o ABC FC, ele recorda com bom humor de uma passagem dessa turnê internacional que circulou pela Europa, Ásia e África: “Em Uganda, o ditador Id Amin ao ver seu time perder do clube potiguar ordenou uma nova partida. Perdeu de novo e disse que a delegação abecedista só sairia do país depois que seu time ganhasse. Os jogadores foram convencidos que não havia outra alternativa a não ser perder de propósito. Hoje soa engraçado, mas na época foi um assunto de diplomacia internacional”.

A IDEOLOGIA MORREU
Questionado a respeito do atual cenário político, Lauro Bezerra, que chegou a cumprir mandato como deputado Estadual entre 1991 e 1995, diz que “a ideologia política morreu. Para mim, deveriam ter apenas dois partidos: o do bem e o do mal. De um lado os que querem fazer o bem comum e do outro os que não querem. Vejo o quadro de hoje com ressalva, não há grandes líderes a corrupção é generalizada – Jesus Cristo já comprovou essa fragilidade humana”, disse.

Para Lauro, atualmente “não há doutrina, ideias, princípios, moral, nem dignidade nesse meio. Fico desanimado com tudo isso que está acontecendo, pois acompanho a política desde criança. Mas não sou pessimista, o homem começa a morrer na hora que perde suas motivações”, ressalta. 

Este é o quinto livro de Lauro, e há mais três nos planos do médico escritor: um sobre o antigo PSD, cujo título provavelmente será “O verdadeiro”; outro com uma seleção de 38 artigos publicados em jornais de Natal quando era colaborador assíduo, batizado de “Lembranças e Relembranças”; e um terceiro com suas memórias intitulado em latim como “Sic transit…” – “Assim mesmo com as reticências, e vem daquela frase da Bíblia ‘Sic transit gloria mundi’, ou ‘Assim passa a glória do mundo’”, adianta Lauro, que escreve tudo à mão, muito bem alojado na mesa em frente à janela com vista para o mar da Praia do Meio.

Parte da renda com a venda dos 1,1 mil exemplares do livro “Distinto – o líder Aluísio Bezerra” será revertida para ajudar o Juvino Barreto. A obra sai com patrocínio da Cabo Telecom e da BMB Construções.

Serviço

Lançamento do livro “Distinto – o líder Aluísio Bezerra” (Caravela Selo Cultural, 274 pág. R$ 30), de Lauro Gonçalves Bezerra. Hoje, às 18h, na Livraria Siciliano do Midway Mall.

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