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Um novo modelo de democracia

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Ticiano Duarte
escritor

Fernando Henrique Cardoso que presidiu o país duas vezes, em recente conferência pronunciada na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, defendeu a necessidade de reinventar a democracia. Porque em verdade o que está aí, como modelo, é uma permanente fonte principal de corrupção em todos os níveis.

Em sua coluna, na “Folha de São Paulo”, o nosso genial e bravo Carlos Heitor Cony, elogiou a conferência do ex-presidente, dizendo que depois de lhe ter combatido duramente no período em que esteve no poder, reconhece suas qualidades de intelectual brilhante, de pensamento que merece respeito. Uma dessas conferências, sobre Joaquim Nabuco “mereceria ser ouvida de joelhos”. A outra, atualíssima, apela para que se reinvente o presente modelo democrático que está aí, em termos de democracia representativa.

E os exemplos são gritantes. O voto proporcional é um despropósito, elegendo com as sobras de votos os “caroneiros”, sempre despreparados para o exercício de mandatos legislativos. Aliás, é preciso que se faça uma limpeza nos quadros partidários, a partir de um processo de seleção, impedindo que certos arrivistas se confundam com os homens de bem, que ainda existem nesse cenário desolador.

Estamos já nos últimos dias da corrida eleitoral, com o fim da propaganda na TV e das concentrações públicas. É um desfile interminável de aberrações, mentiras. A audácia de candidatos e marqueteiros que falam em fidelidade, do novo, quando se sabe que a realidade é muito diferente do que está sendo divulgado; políticos que mudam de partidos como se troca de camisa, de alianças espúrias, de falta de coerência com o passado e o presente.

O padre Antônio Vieira, o maior orador sacro português, foi uma das figuras mais lúcidas do seu tempo, na Europa. O seu “Sermão da Sexagésima”, pregado na Capela Real, no ano de 1615, é uma lição que não morre, porque de todos os tempos, de todas as gerações. Ele diz que o importante é falar para os olhos e não para os ouvidos. E como falar para os olhos? Com os exemplos.  E acrescenta: “Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado, e a outra é o que peleja. Uma coisa é o governador, e outra coisa o que governa. Da mesma maneira uma coisa é o semeador, a outra o que semeia; uma coisa é o pregador, e outra o que prega. O semeador e pregador, é nome; o que semeia e o que prega, é ação e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida ], o exemplo, as obras são as que concertam o mundo… palavras sem obras são tiros sem balas; atroam, mas não ferem.”

Reinventar a democracia no Brasil é uma missão para a qual Cony convoca a classe política, “formada por alguns homens de valor… tornando-a realmente democrática… livrando-a de prioridades eleitorais”, das aberrações que conhecemos e lamentamos.

Gilberto Freire, o grande brasileiro de Pernambuco, em discurso de despedida, na Câmara dos Deputados, em 1950, citado em artigo anterior, fala em imundície demagógica ou de calda plutocrática, “e as margens, capazes de defender a democracia brasileira, tanto da corrupção pelo dinheiro como da degradação pela vulgaridade. E diz, o grande sociólogo, no seu necrológio de morto eleitoral, da eleição de vulgares só por serem vulgares e que podem pela vulgaridade superar os homens de qualidade.

É preciso realmente reinventar esse nosso modelo de democracia representativa, repleto de deformações, enganador, repetindo Gilberto Freire, de políticos “caricaturados em fidalgos cheios de si aos olhos de multidões simplistas, embriagadas com direito de votar, a ponto de se esquecerem do dever de julgar”       

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