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Uma futura SAMBA para o velho centro

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Ramon Ribeiro
Repórter

Contrários a um projeto da prefeitura do Rio de Janeiro de passar com um metrô pela Rua da Carioca, os moradores e frequentadores da região criaram a SARCA – Sociedade dos Amigos da Rua Carioca e Adjacências. Reunidos numa associação, tiveram mais força para impedir o plano da prefeitura. Influenciados por essa história, nasceu em 1994, no Beco da Lama, a versão potiguar dessa iniciativa. Capitaneada pelo Dr Zizinho, o médico João Batista de Lima Filho, poetas, boêmios, artistas, jornalistas, professores, se juntaram para fundar a SAMBA (Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências).

O sonho comum era fortalecer a valorização e preservação da Cidade Alta, principalmente na área que compreende o quadrilátero delimitado pela Avenida Rio Branco, Praça André de Albuquerque, Rua Ulisses Caldas e Canal do Baldo.
Revitalização do Beco é um do sonho antigo da Associação dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências,  responsável por promover a cultura do Centro Histórico
Mas o que começou movido por intenções nobres, hoje segue embaçado como um copo vazio no canto da mesa.

Citado por alguns frequentadores como o último reduto da verdadeira boemia natalense, o Beco da Lama reúne todo tipo de gente, de artistas, médicos, políticos, intelectuais, profissionais liberais e comerciantes à desempregados, vagabundos e pedintes, sem diferença de classe social, nem gênero ou cor. O lugar não é nenhum cartão postal honroso da cidade. Apesar do desejo de alguns de mudar essa realidade, já que na região existe um rico legado histórico.

A SAMBA surgiu nesse ambiente para fazer criar a consciência nas pessoas de que era necessário um trabalho de revitalização no bairro. Para alguns antigos becodalamenses, não se queria que acontecesse à Cidade Alta o que aconteceu com a Ribeira, que perdeu o comércio forte e os moradores de tempos passados.

Nos vinte anos de existência da entidade, depois de períodos de mobilização e ativação cultural, o que se percebe, a partir de um breve passeio pelos arredores, é um decrescente prestígio perante os próprios frequentadores do bairro, muitos deles sem nunca ter ouvido falar na existência da associação.

#SAIBAMAIS#A SAMBA está prestes a passar por mais uma eleição, marcada para o dia 4 de julho. Por enquanto, apenas uma chapa está inscrita para concorrer — encabeçada por tarso Fontenelle. Dos filiados o número ainda é incerto. Nos três livros de assinaturas, o marrom (o primeiro, com data da fundação), o verde e o amarelo, há 470 associados aptos a votar, que serão somados a outras 177 fichas de cadastramento que precisam ser conferidas.

Um dos responsáveis pelo pleito deste ano é o poeta Plínio Sanderson. Ele conta que o processo será levado de forma o mais democrática possível e com transparência. “Espero que a nova gestão lute para melhorar a história dessa cidade desmemoriada, dessa mítica região marginal que é o Beco da Lama. É é o papel da SAMBA e que precisa ser resgatado”, conta.

Procurado pela reportagem, o atual presidente da Samba, Doriam Lima, não atendeu a ligação.

Utilidade pública
O editor Abimael Silva, dono do Sebo Vermelho, lembra que foi um dos primeiros a assinar o livro de fundação da SAMBA. “No começo o que a gente queria era trabalhar em prol da Cidade Alta, da vizinha, como o Passo da Pátria, levar cultura para quem não tinha acesso”. Ele diz que muito daquele espírito se perdeu, e hoje o que se vê é uma organização que se acomodou a apenas promove festas em alguns poucos bares. “Ou seja, a Samba perdeu completamente o sentido de existência. Recife, Olinda, Salvador e Rio de Janeiro tem becos antiqüíssimos e movimentados. Em Natal, a entidade que era para lutar pela região, hoje não tem utilidade alguma. Sou a favor da extinção  da Samba. É a única associação em que moradores e lojistas não tem voz. E os associados já nem aparecem com frequência no espaço”.

Não tão radical, mas cansado com o que tem visto, o filiado Paulo Eduardo, o Paulinho do Bar de Nazaré, diz que o enfraquecimento da Samba é a falta de compromisso dos participantes, a falta de engajamento. “Isso entristece e tira a credibilidade da associação”.
Ações culturais da praça Padre João Maria era ideia da SAMBA
Ele diz que fez parte da gestão de Dorian Lima, mas que se afastou e agora acompanha o andamento da SAMBA mais pelas redes sociais. “A Samba quando começou era uma confraria para manter a amizade, movimentar os bares. Depois começou a crescer, o Beco ficou mais frequentado. Essa notoriedade fez com que pessoas que não estavam envolvidas aparecessem. Pessoas que ganhavam as chapas, mas que por não estar sempre na área, ficavam por fora das atividades”.

Pra ele, o que a associação precisa para retomar a linha de atuação que sempre se desejou ter, é a participação mais articulada dos membros, “a capacidade de transitar pelos moradores, lojistas e o poder público”. “Precisamos acabar com essa questão de ego, que gera muita picuinha. Temos que contar com a participação de todos os envolvidos, do começo ao fim da gestão. Sobre as melhorias na região, a revitalização, o problema de estacionamento, passagem de carros nos becos, a falta de iluminação em algumas partes, aí é questão política, tem que ter articulação com vereadores e prefeitura”.

Um dos ex-presidentes da Samba, Eduardo Alexandre Garcia, o Dunga, preferiu não dar entrevista por telefone e se pronunciou pelas redes sociais. “Tentativas da atual gestão até foram empreendidas para levar atenção ao Beco. Lembro o aniversário de 18 anos da entidade, no começo da gestão. Foi uma boa festa, fraterna, até homenageou becodalamenses merecedores”. Mas, apesar de algumas boas iniciativas, eles vê falhas na atual administração: “a SAMBA não abandonou apenas o Beco, abandonou-se a si mesma”, escreveu.

Desafios

– Revitalização da área (proposta é de transforma o Beco da Lama em semelhante ao Buraco da Catita)
– Resolver problema de estacionamento e passagem de carros nos becos
– Melhorar a iluminação da área
– Revitalização da Praça Padre João Maria (memória cultural da Cidade Alta)
– Maior integração com a comunidade e comerciantes
– Projetos em parcerias com entidades culturais e privadas na preservação de imóveis antigos
– Articular a participação da comunidade em eventos do calendário becodalamense, como Festival Gastronômico Pratodomundo, Carnabeco e outros

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