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Uma viagem no tempo

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Ronaldo Fernandes 
Engenheiro Agrônomo
Muito do que aconteceu no passado o tempo encarregou-se de arquivar, sejam assuntos importantes ou banais. Entretanto, determinados temas sempre voltam a nossa memória. Faço referência aos primeiros anos de atividade profissional, quando participei de eventos relacionados ao futuro do Rio Grande do Norte. Acho positivo ser fiél ás lembranças e traze-las aos nossos dias. 
Voltar no tempo, como dizia o economista Celso Furtado, primeiro Superintendente da Sudene: “Só vale a pena guardar o passado, se ele nos alimenta para recriar o futuro”. 
O cenário que se apresenta é da década de 60, quando eram intensas as atividades de estudos e planejamento do órgão com os governos estaduais, visando o desenvolvimento regional. Temos lembrança de vários intercâmbios com instituições de outros países, como a Israelita TAHAL e o Instituto de Olhos da França (IOF), indicando ações para os recursos naturais do nordeste. Fomos designados pela ANCAR – RN, órgão que deu origem a EMATÉ, para acompanhar dois especialistas em projetos de irrigação, um estrangeiro e o segundo brasileiro. Guardei somente o primeiro nome: Dan de Israel e Jório, brasileiro de Pernambuco, do quadro da consultora Sondotécnica.
Programou-se uma visita as áreas apontadas como potenciais para o desenvolvimento da agricultura irrigada, incluindo-se, a Chapada do Apodi (Apodi, Baraúna, Felipe Guerra e Dix-Sept Rosado), Mossoró, Vale do Açu, áreas dos Tabuleiros Costeiros do litoral leste e um Vale Úmido. Na visita técnica foram observados fatores como: Geologia, topografia, natureza dos solos, cobertura vegetal, culturas e disponibilidade de água de superfície e subterrânea. Na época, pelo menos 50 anos passados, nem de longe nosso estado dispunha da infraestrutura hídrica atual. A exemplo: do Armando Ribeiro com 2,2 bilhões de m³, Santa Cruz 500 milhões, Umari de 300 milhões, a fora outros reservatórios, a rede de adutoras e os poços profundos do arenito Açu com elevadas vazões. Depois do retorno a Natal, fizemos uma avaliação do que vimos e que idéias e propostas deveriam ser encaminhadas as autoridades de então. Vale registrar, a boa impressão dos consultores que indicaram diversas áreas como potenciais para as culturas irrigadas. O consultor de Israel fez uma observação que nunca esqueci: “Agricultura sustentável só se faz quando se domina a água”. Guardo até hoje essa frase, até certo ponto profética. No Estado de Israel o que não é semiárido, é deserto. Por essa condição, desenvolveram uma tecnologia de irrigação localizada que economiza 50% de água, sendo um exemplo para o mundo. Na verdade, os atuais polos de fruticultura do RN, são exemplos vivos do domínio da água. Ouvimos dos consultores observações no que se refere a ser uma atividade intensiva de capital e tecnologia. 
Uma outra discussão foi relativa aos Vales Úmidos do Estado, estimados em 50 mil hectares, muitos com sérios problemas de drenagem. Na visita feita ao baixo vale do rio Ceará Mirim, verificou-se muitas áreas encharcadas pela água que drena por infiltração das terras altas. Foi discutida a sugestão de um canal de drenagem no limite das várzeas com as encostas drenando o solo e ofertando água para a irrigação e piscicultura. É provável que o que verificou-se nessa área se repita em outros vales. Quanto aos Tabuleiros Costeiros, que vão do limite com o estado da paraíba ao sul até o extremo norte no município de Touros, trata-se de uma região com múltiplas opções econômicas. Conta com rios perenes, lagoas e água subterrânea excelente e de pouca profundidade. Assim não há dúvida da viabilidade da irrigação. 
Voltando aos dias de hoje, vamos saudar a chegada do Rio São Francisco abrindo um novo horizonte para o semiárido potiguar. Dessa vez, torcemos que chegue a hora do Mato Grande, que dispõe de ampla área com solos de elevada fertilidade natural e muita água subterrânea salobra, do aquífero Jandaíra. Aliás, o pensamento de levar água para a região não é novo, consta do Plano Estadual de Irrigação elaborado no final dos anos 80. Uma das propostas era estudar alternativas para transferir água dos rios Punaú e Maxaranguape, no litoral oriental para a área em referência. Esperamos que a idéia continue tendo validade.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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