Nei Leandro de Castro
Escritor
Eu sempre disse que a inveja era uma lula da silva. Mas confesso que estou cheio de inveja de Celso Japiassu, que foi passar um ano no Porto. Fiz uma viagem dessas com Lula Guimarães e bebemos muito vinho, em Vila Nova de Gaia, sob aquelas pontes monumentais sobre o rio Douro. Maravilha! Foi no Majestic, o melhor restaurante Da cidade, onde Lula Guimarães, ao ser perguntado pelo garçom o que gostaria de comer, respondeu:
– Tudo que engorda e faça mal.
O garçom não gostou da brincadeira e não voltou para nos atender.
Gosto do Porto, mas adoro mesmo é Lisboa. Flanar pela Avenida da Liberdade, que Salazar nunca inaugurou, é uma delícia. Outro bom programa é ficar numa mesa de calçada na Pastelaria Suíça, no coração do Rossio, beber vinho e ver as meninas bonitas que passam, num desfile maravilhoso.
Lisboa, no tempo em que fiz um curso de pós-graduação em Letras, era muito moralista. Certa vez, beijei uma namorada no rosto e um senhor carrancudo me abordou, cheio de som e fúria:
– Não vês que estás cometendo uma leviandade?
– E o boga? – respondi em nordestinês.
– Não estou a perceber – disse o senhor.
– Nem eu – respondi e fui em frente.
Qualquer hora, pego a mulher casada com quem namoro há 43 anos e vou matar as saudades da Lisboa dos meus amores.
Saudades também da terra de Poti mais bela. Vontade de ir à Redinha, comer tapioca com ginga, bater papo com Woden e com o bardo da Rua São João e sua Moreninha estonteante. Dizem que o bardo já não pega menininhas pra fazer mingau. Está preso numa coleira que não o larga nunca mais. Lobo bobo!
Ah, sim, quero também me encontrar com o meu poeta peripatético preferido, no Bar da Salete, e tomar com ele umas batidas de maracujá.
Gosto muito de caminhar pela Rua Professor Zuza, onde, criança, morei nove anos. Sempre vou por ali, caminhando até o Sebo Vermelho. Ali é bom, entre outras coisas, ver um ex-vendedor de cavaco-chinês esbanjar cultura, mesmo sem dar uma palavra. Ah, Natal dos meus amores, encanto do meu olhar!
Sinto falta do restaurante Camarões. No Rio não há nada que se compare a esse restaurante com pratos deliciosos e belíssima vista para o mar de Ponta Negra.
Outra coisa deliciosa em Natal: o mar de águas mornas. No Rio, só tomei banho de mar uma vez. Num calor de 40 graus, mergulhei numa água geladíssima e quase tive um choque térmico.
No dia 30 de maio, devo passar o meu aniversário em Natal. É o melhor presente que devo dar a mim mesmo.
Citação da semana:
“Paradoxo é pessoas descontroladas tomarem remédio controlados”
Roberto Rodrigues Roque.