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Unidade referência no RN agoniza para manter atendimento

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Hospital referência em infectologia no Rio Grande do Norte, o Giselda Trigueiro é o responsável por cerca de 90% dos atendimentos aos pacientes com HIV/aids no Estado. Apesar dos avanços em relação ao tratamento dos pacientes soropositivos, o complexo hospitalar enfrenta problemas de infraestrutura. Uma obra iniciada no ano passado está parada há seis meses, sem previsão de ser concluída.
Milena defende a transformação do Giselda em hospital de referência para melhorar atendimento
O Serviço de Atendimento Especializado (SAE) e o Hospital Dia do Departamento de HIV/Aids,  saíram do seu espaço original para dar lugar à reforma. O principal objetivo da intervenção é instalar um elevador que ligará o andar térreo ao segundo andar do hospital, junto à enfermaria de isolamento de tuberculose e doenças respiratórias. “A paralisação da obra ocorreu por causa da falta de um engenheiro elétrico para fazer o projeto do  fornecimento de energia para a área. A reforma está parada há seis meses por causa disso”, confirma a diretora geral do Hospital, Milena Martins.

Segundo ela, a Secretaria Estadual de Infraestrutura foi comunicada diversas vezes do atraso da obra e dos danos causados ao complexo hospitalar como um todo, mas até agora nada foi resolvido. “A Secretaria se dispôs a contratar outro engenheiro elétrico, mas isso ainda não ocorreu”, comenta a diretora. Somente um engenheiro elétrico faz parte do quadro funcional efetivo da pasta.
#SAIBAMAIS#
A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Infraestrutura confirmou que só dispõe de um engenheiro elétrico no quadro de servidores efetivos. Entretanto, confirma para até o final deste ano, a entrega do projeto elétrico da obra. Visto que, todo o levantamento de informações técnicas necessário à confecção do projeto já foi realizado pelo engenheiro.  “Terá que ser feito um aditivo contratual. A obra passou muito tempo parada”, comenta Milena Martins.

A instalação do elevador e reforma de parte da estrutura do hospital deveria ter durado três meses. “Nós desocupamos o nosso espaço em uma semana. Mudamos de um setor que estava começando a se estruturar em termos de estatísticas, planejamento, cronograma, levantamento de dados”, relata a infectologista Tereza Dantas, sobre os prejuízos trazidos com o atraso das intervenções.

MEDICAMENTOS

Os problemas no Hospital Giselda Trigueiro, porém, não se resumem à obra paralisada. O complexo enfrenta uma séria crise de desabastecimento dos medicamentos ministrados no controle das infecções oportunistas que acometem os soropositivos. Cerca de 80 drogas diferentes são utilizadas pelos médicos para impedir que os pacientes contraiam enfermidades como a gripe, por exemplo. Sem a medicação adequada, uma simples gripe pode se transformar numa pneumonia e levar o paciente à morte.

“Ainda estão faltando medicamentos para o combate às infecções oportunistas. As secretarias Estadual e Municipal de Saúde fizeram licitação e a situação será regularizada”, afirma Milena Martins. Além disso, a Secretaria Municipal de Saúde passou a distribuir este tipo de medicação através do SAE instalado no Centro Clínico Zeca Passos, na Ribeira. Com isto, parte dos pacientes natalenses passou a ser atendida na unidade municipal.

De acordo com o presidente da Casa de Apoio às Pessoas Vivendo e Convivendo com HIV/Aids no Rio Grande do Norte (CAAPVC-RN), Marcos Antônio Belarmino, este é um dos principais problemas enfrentados pelos pacientes em tratamento. “Nosso tratamento é complexo e dependemos da medicação que combate às infecções oportunistas. São elas que levam os soropositivos à morte”, ressalta Marcos Antônio Belarmino.

Atenção aos sintomas iniciais

Quando alguém é infectado pelo vírus causador da aids, as células de defesa do corpo humano começam a ser atacadas pelo corpo estranho. Esta primeira fase é conhecida como infecção aguda,na qual ocorre a incubação do HIV – que é justamente o tempo de exposição do corpo humano ao vírus até o surgimento dos primeiros sinais da doença. Este intervalo de tempo varia de três a seis semanas.

No organismo, são necessários entre 30 e 60 dias após a infecção, para que os primeiros anticorpos criados pelas células de defesa comecem a agir contra o vírus. Os primeiros sintomas da infecção são muito parecidos com os de uma gripe simples, por exemplo, com febre e mal estar. É devido a esta semelhança, que a maioria dos casos não são notificados no período inicial da doença, assim como a administração do coquetel.

A fase seguinte é marcada pela intensa interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações genéticas que ocorrem no vírus. Elas são fortes o suficiente, porém, para enfraquecer o organismo e permitir que novas doenças apareçam. Os vírus amadurecem e morrem de forma equilibrada. Este período é definido como assintomático e pode durar muitos anos.

Como são atacadas frequentemente, as células de defesa (CD-4), começam a funcionar com menos eficiência até serem destruídas. Com isto, o organismo do portador do vírus começa a ficar mais fraco e vulnerável a infecções comuns. A fase cujos sintomas começam a aparecer é caracterizada pela elevada redução dos linfócitos T CD-4 – glóbulos brancos do sistema imunológico – que chegam a ficar abaixo de 200 unidades por milímetro cúbico de sangue. Em adultos soronegativos, o valor de linfócitos varia de 800 a 1.200 unidades.

Os sintomas mais comuns da aids são febre, diarréia, suores noturnos e emagrecimento. Como a imunidade está baixa, o aparecimento de doenças oportunistas se torna comum. Elas recebem este nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença.

Quem chega a esta fase, que é a aids doença, por não saber ou não seguir rigorosamente o tratamento indicado pela equipe médica, pode sofrer de diversas doenças. Dentre elas: hepatites virais, tuberculose, pneumonia, neurotoxoplasmose e alguns tipos de câncer. “É por isso que o uso da camisinha é tão importante e indispensável. Os jovens, adultos e idosos jamais deveriam deixar de usá-la”, adverte Tereza Dantas.

Cuidados precisam ser descentralizados

Sem espaço físico ou equipe médica suficientes para receber mais portadores, a diretora do Hospital Giselda Trigueiro, Milena Martins, defende que o tratamento  deve ser descentralizado e assumido pelos município do Rio Grande do Norte. Atualmente, somente cinco Serviços de Atendimento Especializado (SAEs) estão em funcionamento em Natal, Macaíba, São José do Mipibu, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante. Além destes, mais três estão em fase de implantação em Pau dos Ferros, Santa Cruz e Caicó. Além do Hospital Giselda Trigueiro, em Mossoró os pacientes são acompanhados no Hospital Rafael Fernandes.

“A criação do SAE pela Prefeitura de Natal foi um grande avanço para o tratamento dos pacientes natalenses. Ao longo dos anos, todo o atendimento de DST/Aids se concentrou no Giselda Trigueiro e hoje não temos mais como atender à crescente demanda. A única solução é descentralizar o atendimento”, atesta Milena Martins. Segundo ela, o ideal seria transformar o Hospital Giselda Trigueiro em unidade de referência para o tratamento de casos de maior complexidade.

Caso esta possibilidade se torne real em breve, serão tratados no Giselda Trigueiro os pacientes que, além da aids, desenvolvem outro tipo de doença infectocontagiosa.  Por exemplo: pacientes com HIV e tuberculose, com intolerância medicamentosa, paciente com falha no tratamento que precisa fazer algum acompanhamento específico, que precisam tomar remédios ou esquemas mais avançados e/ou pacientes com hepatites.

De acordo com a responsável técnica pelo Programa Estadual de DST/Aids no Rio Grande do Norte, Sônia Cristina Lins, a política de descentralização do atendimento foi implantada em 2002. “O principal intuito desta política é minimizar o acúmulo de pessoas atendidas no Giselda Trigueiro. Os gestores municipais devem reconhecer sua responsabilidade e cumprir o seu papel no tratamento dos soropositivos”, defende Sônia Cristina. Ela afirma, ainda, que a Sesap tem buscado firmar parcerias para desenvolver campanhas e pesquisas para melhorar e ampliar o tratamento dos pacientes.

Há ainda, um problema relacionado à quantidade de profissionais que atuam no Hospital. “O Giselda Trigueiro não tem mais para onde crescer. Pelo contrário, nós encolhemos fisicamente”, comenta a infectologista Tereza Dantas. Ela diz que o número de profissionais é praticamente o mesmo há vários anos. São sete infectologistas para atender pacientes adultos e três pediatras para atender crianças com HIV, além das que são identificadas como expostas, que são aquelas paridas de mulheres soropositivas. 

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