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Valsa centenária

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Yuno Silva – repórter

Sertanejo de origem humilde, filho de escrava alforriada e oficial militar, Tonheca Dantas (1871-1940) contrariou todos os prognósticos ao se tornar um dos compositores potiguares de maior projeção internacional de todos os tempos. Sua obra mais famosa, a valsa “Royal Cinema”, é considerada peça obrigatória no repertório de qualquer banda sinfônica que se preze – inclusive em âmbito internacional – e este ano a música completa 100 anos.  A peça foi  foi criada para entreter o público antes e após as sessões do Cinema Royal, que funcionava em um prédio de arquitetura inspirada na ‘art-nouveau’ francesa na esquina das ruas Vigário Bartolomeu com Ulisses Caldas, Cidade Alta.
Valsa foi inspirada no Cinema Royal, que funcionava na Cidade AltaE é com essa valsa que o cineasta Buca Dantas pretende embalar a trilha sonora de um documentário sobre a vida do compositor nascido em Carnaúba dos Dantas, município distante cerca de 220 km de Natal. O roteiro está em processo de construção, será embasado pela biografia “A Desfolhar Saudades”, publicada em 1998 pelo professor e pesquisador Cláudio Galvão; e as articulações nos bastidores estão avançadas: Buca já obteve autorização do autor para fazer a adaptação do livro e conta com apoio da Secretaria de Cultura de Carnaúba dos Dantas.

Tonheca Dantas compôs Royal Cinema sob encomendaA meta é que a produção comece a ganhar forma ainda no primeiro semestre deste ano, e o desejo comum é que o lançamento aconteça no mês de junho, durante evento alusivo ao nascimento do artista.

“A programação para comemorar o centenário de ‘Royal Cinema’ começa em março, nas escolas da rede pública de ensino, e em junho (entre os dias 9 e 16) teremos um grande evento que irá movimentar toda a cidade com palestras e apresentações de Orquestras e Bandas”, adiantou João ‘da Banda’ Batista, secretário de Cultura em Carnaúba. “O lançamento desse documentário poderá coroar a festa”, acredita.

João sabe das dificuldades para viabilizar financeiramente projetos audiovisuais, e informa que o município não dispõe de recursos: “O que podemos garantir é a estrutura logística, hospedagem e alimentação da equipe. E tudo o que estiver ao nosso alcance”. João da Banda disse que um CD com 11 músicas de Tonheca será lançado na ocasião. “As composições estão sendo rearranjadas para Orquestra, pois suas composições eram todas voltadas para Bandas Sinfônicas”.

Para o evento de junho, está em pauta a presença da Orquestra Sinfônica da UFRN e maestros convidados; o envolvimento da Fundação José Augusto também está sendo sondado.

Além do documentário, há projeto de longa-metragem

De acordo com Buca Dantas, a estimativa inicial do orçamento gira em torno de R$ 200 mil a R$ 300 mil. “Vamos enviar o projeto para leis de incentivo e todos os editais que pudermos participar”, avisa Buca, cuja avó paterna era prima de Tonheca Dantas. “Também vamos buscar patrocínio direto e apoio das demais cidades do Seridó”.

Buca Dantas pretende buscar recursos através de editais, leis de incentivo e apoio das cidades do SeridóOs custos incluem gravações no RN, na Paraíba e no Pará, lugares onde Tonheca deixou rastros durante sua trajetória como músico. “Queremos mostrar a genialidade de Tonheca e a influencia que ele exerceu sobre bandas de outras partes do Brasil, intercalando essas histórias com entrevistas e depoimentos”.

Vale registrar que o Maestro Humberto ‘Bembem’ Dantas, da Banda de Cruzeta, e o roteirista Geraldo Cavalcanti também integram a equipe do documentário. Buca ainda planeja colocar em prática, em parceria com realizadores paraibanos, um longa-metragem de ficção baseado na obra de Tonheca. “Estou trabalhando nos dois roteiros, mas o documentário vem primeiro. A ficção irá contar uma história de amor em situações diferentes, vividas por três personagens”, adiantou o cineasta.

ROYAL CINEMA NA BBC DE LONDRES

O documentário terá supervisão histórica de Cláudio Galvão, que demonstrou entusiasmo pelo projeto. “Deixei ele (Buca) livre para fazer a adaptação, e estou à disposição para colaborar”, disse o pesquisador ao VIVER. Galvão passou quase uma década colhendo informações sobre Tonheca, antes de editar o livro, e lamenta não ter encontrado dados suficientes para explicar os motivos da valsa “Royal Cinema” ter sido executada à exaustão pela Rádio BBC de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. “Cheguei a ir até a Inglaterra para pesquisar nos arquivos da BBC, mas o tempo foi curto para encontrar o que procurava”, recorda.

Cláudio Galvão conclui livro com entrevistas com ilustres, como Cravo Albin e Sílvio CaldasCláudio Galvão explica que a importância de Tonheca Dantas deu-se, principalmente, devido “a enorme popularidade que teve em todas as camadas sociais”. Apesar do reconhecimento artístico, o compositor não conseguiu êxito financeiro no RN, fato que o fez procurar trabalho na Paraíba e no Pará. “Ele sempre foi pobre, e na última fase da vida serviu como soldado raso na Polícia Militar do RN, onde era regente da banda, após passagens pela PM da Paraíba e temporada no Pará”.

O pesquisador não sabe ao certo em que mês de 1913 Tonheca Dantas concluiu a famosa valsa, mas arrisca dizer que a composição figura entre as mais conhecidas e executadas por Bandas Sinfônicas de todo o mundo. “É uma música que já faz parte do imaginário das pessoas, basta ouvir um trecho para sair cantarolando”.

# Espetáculo de dança que utilizou uma versão de “Royal Cinema” interpretada pelo flautista Carlos Zens:

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