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Veraneios do meu tempo de menino

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Já disse aqui neste espaço: bom era no meu tempo! E os veraneios, então… Em dezembro, logo após o fim do ano escolar, as famílias se organizavam para ir veranear. Era uma viagem. Morando na capital potiguar, o povo lá de casa passava o verão em Genipabu (o certo seria Jenipabu, mas o uso venceu a norma, nesse e em inúmeros outros casos), praia do município de Extremoz, a pouco mais de 20km de Natal.

Mas se é tão perto, como é que era uma viagem? Como diria o Chicó do Auto da Compadecida, não sei, só sei que era assim. Ou melhor: é assim na minha lembrança, porque era assim na minha cabeça de menino. As tralhas todas em cima da caminhonete Chevrolet Brasil 3100, uma que tinha os para-lamas saltados, todo mundo imprensado na boleia (ninguém dizia cabine naquele tempo), sem cinto de segurança, cadeirinha de bebê nem airbag, no maior calor do mundo, porque ar condicionado nem pensar, né?, por uma estrada de piçarro que deixava todo mundo coberto de uma poeira vermelha fina, que tirávamos no primeiro banho de mar, antes mesmo de arrumar as coisas.

A praia, que hoje é quase urbana, cheia de bares, restaurantes, buggies, cavalos e até camelos, coalhada de vendedores e tão movimentada que não sei nem mais se ainda se presta ao descanso natural do veraneio, naquele tempo ? segunda metade dos anos 60s ? era ainda uma vilazinha de pescadores, com três ou quatro casas de veraneio, sendo a nossa uma delas.

Ainda usavam jangadas de troncos! O peixe era farto e baratíssimo, e à noite, os pescadores ? meu pai os chamava, porque adorava conversar com eles, e era padrinho de filhos de vários deles ? vinham para a nossa varanda, onde contavam histórias fantástica sobre o mar e as pescarias. Uma dessas histórias ficou na minha cabeça até hoje, a do cachalote, e talvez esteja na raiz da minha verdadeira veneração por Moby Dick, de Herman Melville.

Não havia luz elétrica. Telefone, nem pensar. Internet só seria inventada várias décadas depois. A iluminação era a gás: lâmpadas de manga de seda, alimentadas por bujõezinhos de gás. Os mais velhos não esquecerão o sibilar maravilhoso que, junto com a sinfonia do mar, embalava as noites, junto com os violões dos boêmios. E, é obvio, lamparinas feitas de latas de extrato de tomate. Sem forrós eletrificados, axé music, nem paredões de som. A geladeira era a querosene e os ferros de passar roupa, a carvão!

Os jovens faziam rodas com fogueiras na beira da praia, brincavam de jogos diversos, cantavam, principalmente temas a duas vozes que eram sucessos daquele tempo como Andança, de Paulinho Tapajós, que ficou famosa com Beth Carvalho, ou Amigo é pra essas coisas, de Aldir Blanc e Sílvio da Silva Júnior, além de muita seresta, sempre, e namoravam sob o brilho da lua e das estrelas, que hoje a eletricidade não nos deixa aproveitar direito.

Não existia insegurança, dormia-se de portas e janelas abertas, preferencialmente, de rede, nos alpendres que eram os grandes pontos de encontro das temporadas praianas. Os encontros não tinham artificialidade. Mesmo as pessoas mais abastadas passavam o verão em casas simples, de chão de tijolo branco, ideal para absorver a água do mar que pingava das roupas de banho de todos. As comidas eram deliciosas, porque tudo era fresco e natural.

Hoje, tudo mudou. Não direi que para pior, embora seja inevitável pensar assim. Porque, como disse no começo, e repito: bom era no meu tempo…

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