terça-feira, 7 de maio, 2024
26.1 C
Natal
terça-feira, 7 de maio, 2024

Vereador enfrenta novos desafios após denúncia

- Publicidade -

Marco Carvalho – repórter

“Devia bater no peito com orgulho de ter denunciado o esquema de corrupção. Mas quando percebo que honestidade deveria ser regra, não exceção, me envergonho da realidade que via”.  As palavras são do vereador do município de Vila Flor, Floriano Felinto, 38 anos. Ele é o principal responsável pelas denúncias e coleta de provas que levaram à investigação do Ministério Público no município distante cerca de 80 quilômetros da capital. A partir do trabalho de Felinto, o prefeito de Vila Flor e seis vereadores foram presos por envolvimento em um suposto “mensalão” na cidade. “Eles se orgulhavam por serem corruptos”, comentou o vereador, que chegou a utilizar câmeras escondidas para flagrar ações supostamente criminosas.
Felinto: no início, MP não demonstrou interesse na denúncia
Durante a manhã de ontem,  Felinto conversou com a  reportagem da TRIBUNA DO NORTE sobre os detalhes do caso ocorrido no interior do Estado que ganhou repercussão. A entrevista ocorreu na sede da Procuradoria-Geral de Justiça, em Candelária. Formado em Pedagogia, com pós-graduação na mesma área e graduando em Direito, o vereador de Vila Flor diz que teve um caso de “amor à primeira vista com os princípios morais”. Com práticas honestas, dentre os corruptos, Felinto foi capaz de desbaratar sozinho o esquema e conseguir provas para embasar a denúncia do Ministério Público.

Na cidade em que “falta de quase tudo”, não faltava apropriação de recursos públicos. “Quando perguntava sobre a reação da população frente ao crescimento do patrimônio, os vereadores diziam com todas as letras: ‘Não estou nem aí, rapaz’”. O homem de fala calma e personalidade centrada, não gesticula enquanto fala e também não se exalta ou se emociona. Apenas relata.

Relata o que viu, ouviu e presenciou. Em seu segundo mandato para o cargo, foi eleito com 158 votos. O pai e o irmão já exerceram o mesmo cargo e foram eles que encaminharam o professor concursado para concorrer a vereador. Na primeira tentativa, não se elegeu. Conseguiu o cargo em 2004, tendo sido reeleito em 2008.

Conta que no primeiro mandato era inexperiente para se levantar contra as irregularidades que via. No segundo, com a experiência, vieram as denúncias. Mas não foi tão fácil. “O Ministério Público não teve essa disposição toda para investigar. Foi preciso insistir, vir a Natal para fazer as coisas acontecerem”.

Os princípios morais foram herdados do pai, agricultor semiescolarizado, mas de personalidade influente na pequena cidade. A família se espalha no município com mais de 70 componentes. Da mãe, falecida há poucos anos por complicações em virtudes da diabetes, aprendeu a “lição da paciência”.

Floriano Felinto classifica como “desafio” a tarefa de retomar as atividades em Vila Flor. “Temos que arrumar a casa e acabar com o lamaçal de corrupção que já estávamos acostumados de tanto ver”. A administração municipal vinha gerando insatisfação popular, segundo o vereador. “A saúde estava doente. Na área de educação, o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] é um dos piores do Estado”.

Ameaçado pela realização das denúncias, o vereador hoje está sob rastreamento de equipes do Ministério Público. Contando com ele, são três vereadores que compõem a Câmara Municipal. Perguntado se os outros dois não teriam envolvimento com o esquema, Felinto recua. “Deixamos a denúncia a critério da Justiça. Vamos ver o que acontece no decorrer da investigação”.

Presos são levados para Centro de Detenção de Macaíba

Todas as nove pessoas detidas na operação “Mensalão da Vila”, deflagrada na segunda-feira passada, foram transferidas para o Centro de Detenção Provisório em Macaíba, na Grande Natal. Eles permanecerão em cela separada dos demais presos por exercerem cargos públicos na administração municipal de Vila Flor. Até mesmo o prefeito da cidade, Grinaldo Joaquim de Souza, foi levado para o CDP.

Inicialmente, parte dos acusados haviam sido levados para o quartel do Comando Geral da Polícia Militar, no bairro do Tirol. Após análise, percebeu-se que o destino adequado era o sistema prisional estadual, em seus estabelecimentos provisórios. Grinaldo chegou a dormir no quartel antes de ser transferido na manhã de ontem para o CDP. As informações foram confirmadas pelo coordenador do sistema penitenciário, José Olímpio, e pelo comandante geral da Polícia Militar, coronel Francisco Canindé de Araújo Silva.

Estão presos Pedro Francisco da Silva, presidente da Câmara Municipal; os vereadores Ronildo Luiz da Silva, Ailton Passos de Medeiros, Irinaldo da Silva, Vidalmir Santos Brito e Magno Douglas Pontes de Oliveira, e também o secretário de Obras, João Felipe de Oliveira, e o ex-secretário de Administração Antônio Ivanaldo de Oliveira. Completa a lista o prefeito Grinaldo Joaquim Souza.

A operação coordenada pela assessoria jurídica judicial da Procuradoria-Geral de Justiça e pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) mobilizou 22 Promotores de Justiça, em parceria com a Polícia Militar, e deu cumprimento a 19 mandados de buscas e apreensões, e a nove mandados de prisões preventivas de pessoas supostamente envolvidas em crimes de corrupção e contra a administração pública, devidamente expedidos pelo Desembargador Dilermando Mota.

MP dá sinal verde para a posse do vice-prefeito

O vice-prefeito de Vila Flor, Manoel de Lima (PV), assumirá o comando do Executivo Municipal após a prisão do prefeito e do presidente da Câmara Municipal. Ontem, ele esteve na sede da Procuradoria-Geral de Justiça, em Natal, para conversas com promotores de Justiça. Lima se recusou a conversar com a imprensa e todas as informações foram repassadas através do seu advogado, José Odécio. “Ele ficou surpreso com o fato de existir um esquema envolvendo o prefeito e vereadores. O meu cliente não tinha conhecimento que isso ocorria, tendo se mantido afastado das negociações relatadas”, afirmou o advogado.

O encontro no Ministério Público ocorreu para analisar o regimento municipal e efetivar a transferência do comando para o vice-prefeito. Sem as suas principais autoridades públicas, presas por conta de suspeitas de corrupção, Vila Flor vive uma situação inusitada. Uma das principais dúvidas era saber a quem caberia tocar a administração da cidade, agora que o prefeito Grinaldo Joaquim de Souza e o presidente da Câmara dos Vereadores, Pedro Francisco da Silva, foram afastados. Como a prisão é preventiva, os acusados permaneceram encarcerados até decisão em contrário da Justiça.

De acordo com o procurador-geral de Justiça, Manoel Onofre Neto, “o vice-prefeito não foi envolvido nas denúncias e assumirá a prefeitura”. Já a situação da Câmara de Vereadores é mais difícil. Vila Flor, pelo pequeno porte, tem nove vereadores. Contudo, apenas três estão em liberdade, tendo em vista que seis deles foram presos na segunda-feira passada. A tendência é que assumam os suplentes. “Os próprios vereadores irão verificar qual a melhor solução para a Câmara”, explicou Manoel Onofre. Tanto a Câmara Municipal quanto a Prefeitura estão em recesso por conta do fim do ano.

Mensalão era pago em troca de apoio político

A operação do Ministério Público Estadual, batizada de Mensalão da Vila, prendeu preventivamente nove pessoas, entre elas os principais políticos da cidade, por suspeita de esquema de corrupção envolvendo o prefeito Grinaldo Joaquim de Souza e seis dos nove vereadores da cidade. Segundo o MPE, o prefeito pagava “mensalão” aos vereadores para obter apoio político e projetos aprovados no Legislativo. O prefeito da cidade, Grinaldo Joaquim de Souza, distribuía aos vereadores valores mensais de R$ 500 em troca do apoio integral do Legislativo. Esporadicamente, Grinaldo também destinava R$ 1 mil para “quebrar o galho” daqueles que lhe apoiavam. A lista de envolvidos no esquema de corrupção pode crescer após uma análise mais aprofundada dos documentos.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas