quinta-feira, 28 de março, 2024
31.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

Vestidas em verso e cordel

- Publicidade -

Yuno Silva
Repórter

Elas driblaram o preconceito e deixaram sua marca na literatura de cordel com pseudônimos masculinos. Essa foi a forma mais viável, pelo menos até início dos anos 1970, que autoras do RN encontraram para garantir a circulação de ideias sem a patrulha do machismo fungando no cangote. Nos rincões do Nordeste, bem antes da popularização da TV e do surgimento das redes sociais, era o rádio e a poesia popular (via cordel e repente) que mantinham as pessoas informadas. A atuação dessas poetisas norteia o conteúdo do livro “A presença feminina na Literatura de Cordel do RN”, de Gutenberg Costa, que o pesquisador e folclorista lança nesta quinta (20), a partir das 17h, no Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão (rodoviária velha), Ribeira.
Novo livro de Gutemberg Costa refaz a trajetória de mulheres que se aventuraram na literatura de cordel, muitas delas através de pseudônimos masculinos para escapar do preconceito ou censura
“Meu foco é a presença feminina no cordel (no repente e na viola) do RN, mas o estudo reflete um contexto geral”, explicou o autor, adiantando que na festa de lançamento terá “coquetel popular, forró e apresentação de grupos populares”. Esse é o 25ª título lançado por Gutenberg Costa; entre os publicados livros nas áreas de cordel, cultura popular, religiosidade e Nordeste.

A obra é ilustrada por capas e desenhos extraídos dos folhetos destacados, e além dos perfis o livro também inclui poemas e referências bibliográficas que embasaram a pesquisa. O autor revisita o passado, de olho no que há de novidade no cordel de circunstância, pautados por assuntos da atualidade.

Na abertura de “A presença feminina na Literatura de Cordel do RN”, que traz apresentação assinada pela jornalista Rejane Cardoso, Gutenberg faz um preâmbulo nacional sobre o tema antes de mirar no alvo. Ele garante que seu novo trabalho aborda um assunto ainda inédito: “Tem outra pesquisa parecida no Ceará, com mulheres de lá, mas ainda não foi publicada”. O livro sai co-editado pela Queima-Bucha (Mossoró) e 8 Editora (Natal), e o preço de capa é R$ 30.

Acervo
Editada com recursos do edital Literatura de Cordel 2014, da Prefeitura de Natal/Funcarte, a obra materializa quase dez anos de pesquisa e reúne perfis de 50 mulheres que publicaram folhetos de cordel dos anos 1970 para cá.

“A literatura de cordel foi, durante muito tempo, uma produção marcadamente masculina. Muitas dessas mulheres utilizaram pseudônimos masculinos para escaparem da censura e discriminação da época”, disse Gutenberg antes de citar o caso da poetisa potiguar Josenira Fraga, que se identificava como “Zé do Povo” quando falava de política. 

De acordo com ele, “a escritora e poetisa natalense Naty Cortez foi a primeira mulher a publicar folhetos no RN, cordéis que falavam sobre a Copa do Mundo de futebol e o tricampeonato da seleção brasileira no México”.

Vale lembrar que no próximo sábado (22) é comemorado o Dia Nacional do Folclore, data ressaltada por Gutenberg: “Mês do folclore e centenário de Djalma Maranhão (1915-1971), figura política que deu muito apoio aos grupos de cultura popular quando foi prefeito de Natal (entre 1956 e 59)”, reforça o atual presidente da Comissão Norte-riograndense de Folclore.

Boa parte do acervo consultado para embasar o conteúdo de “A presença feminina na Literatura de Cordel do RN” é do próprio autor, que contabiliza mais de 2 mil cordéis publicados no RN – número que sobe para 5 mil quando são considerados títulos de outros estados. “Separo os folhetos por temática, e já tenho outras pesquisas em andamento – como a do o cordel na política do RN, por exemplo”, adiantou. A coleção de folhetos de Gutenberg começou a ganhar corpo quando ele estava na adolescência.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas