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Vida sobre quatro rodas

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Fernanda Zauli – Repórter

Um quarto, sala, cozinha, banheiro, e área de serviço. Há 10 anos essa é a casa do paulista Eli Antiqueira Fassina, de 61 anos. Nada demais se a casa não fosse dentro de um ônibus. O próprio Eli projetou o ‘Motor Home’ e cuidou de cada detalhe minuciosamente. Hoje, ele percorre as estradas do Nordeste “levando cultura e conhecimento para as pessoas” com a venda de DVD’s com cursos profissionalizantes.  Os cursos são os mais variados possíveis: de adestramento de cães a direito administrativo.
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A vida de Eli começou a mudar há 12 anos, após uma separação. Ele deixou para trás uma vida estruturada, uma empresa bem sucedida de construção civil em São Paulo e se mudou para Fortaleza. “Me apaixonei pelo Nordeste”. Na capital cearense ele comprou um restaurante que deu tão certo que chamou a atenção de empresários locais. “Eu já estava com 30 funcionários e, na verdade, não era mais o que eu queria”, conta. Eli vendeu o restaurante, comprou o ônibus, reformou e pegou a estrada.

Nos primeiros cinco anos ele viajou vendendo artesanato. “Mas não deu muito certo”, relembra. Foi então, que ele teve a ideia de levar conhecimento às pessoas. “Em muitas cidades não há uma escola profissionalizante, as pessoas não têm condições de fazer um curso, e eu levo dezenas de cursos diferentes em DVD para esses locais”, diz. Os cursos vão dos mais tradicionais aos mais exóticos. Marcenaria, torneiro mecânico, corte e costura, fotografia,  drenagem linfática e escultura em frutas estão dentre as opções. Mas ele ainda oferece cursos de línguas e de instrumentos musicais como bateria, violão, e teclado.

No próprio ônibus ele montou um pequeno escritório onde faz as cópias dos DVD’s. Com a venda dos cursos, Eli tem certeza que contribui para melhorar a vida das pessoas. “Um rapaz da Bahia comprou um DVD com um curso para ser chaveiro. Alguns meses depois ele me ligou e disse que tinha montado uma banquinha de chaveiro e com o dinheiro que ganhava já estava sustentando a família. Ele me agradeceu muito por ter passado na cidade dele. Essa, com certeza, é a maior recompensa”, diz.

Andarilho

Eli Fassina já perdeu a conta de quantas cidades visitou. “São muitas. Aqui no Rio Grande do Norte quase todas”, conta. Mas a vida na estrada não é tão solitária. Eli tem duas fiéis companheiras: as cadelas Nina e Kalu. Há quatros anos ganhou um sócio, o pernambucano João Paulino, de 56 anos. Apaixonado por viagens, João decidiu acompanhar Eli na estrada quando o conheceu em Prazeres. Viajou durante dois anos no ônibus, até comprar uma Kombi e transformar em seu novo lar. Hoje os dois viajam juntos, mas cada um na sua casa.

O Motor Home é bem estruturado. Todos os eletrodomésticos (TV’s, geladeira, computador, rádio) funcionam movidos a energia solar. Tudo é preso com parafusos para evitar queda durante a viagem. O banheiro e a cozinha são abastecidos por uma caixa d’água com capacidade para 700 litros. O ônibus conta ainda com um compartimento com capacidade para armazenar 1.200 litros de esgoto que é esvaziado uma vez por mês.

Eli não pensa em ter um endereço fixo. “Ter uma residência fixa pra quê? Às vezes as pessoas me falam ‘mas você está muito longe’. Longe do que? Eu não tenho ninguém me esperando, se eu quiser virar pra direita eu viro, se quiser virar pra esquerda eu viro. É assim que eu gosto de viver”, conta.

Pai de duas jovens, de 38 e 28 anos, ele conta que não vê as filhas há 4 anos e que não tem vontade de voltar para São Paulo. “Da última vez que fui passei três dias e voltei porque não agüentei”, diz. Ele conta que certa vez a vida questionou o modo de vida escolhido por ele e disse “Pai, você não é normal”. Eli foi rápido na resposta: “Se ser normal for morar em São Paulo, respirar fumaça, demorar três horas para chegar em casa, não ter tempo para nada, então eu não quero ser normal”.

Conforto

O Motor Home é confortável e tem estrutura, inclusive, para Eli receber visitas. O casal José Guedes de Alencar, 71, e Ione Gordim, 66, veio de Sorocaba para visitar o amigo andarilho. Alencar é amigo de Eli há 30 anos e essa é a terceira vez que ele visita o amigo e se hospeda no Motor Home. “O ônibus tem mais conforto que muita casa por aí”, diz Ione.

O casal conheceu cidades de Sergipe, Alagoas e do Rio Grande do Norte no Motor Home. “Semana que vem vamos para João Pessoa. É sempre muito bom visitar o Eli”, diz Alencar. O amigo de 30 anos diz que não teria coragem de levar a mesma vida – na estrada -, mas admira o amigo. “Não sei se é uma vida grande ou pequena, mas eu acredito que o Eli é feliz”, opina.

Um dia Eli sabe que terá que parar e ele já tem planos para a aposentadoria. “Eu acho que quando eu tiver 150 anos não vou mais conseguir dirigir, aí vai ser hora de parar”, brinca. “Quando eu tiver que parar vou comprar um sítio e colocar o ônibus dentro. Aí já vou ter minha casa”

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