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Vivendo “um mar” de problemas

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Igor Jácome
repórter

Das nascentes em Cerro Corá, correndo para o Atlântico, que é seu destino, o Rio Potengi desvia obstáculos e ultrapassa outros tantos, formando assim o seu curso. Foi às margens do grande rio, que deu ao Estado o nome de Rio Grande, que surgiu Natal. Mais de quatro séculos depois, às margens do Potengi, ainda nascem, vivem e morrem gerações que encontram lar e sustento nessas águas.
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Os ‘ribeirinhos do Potengi’ têm vários nomes e histórias. Se muitos nasceram e cresceram nadando nele, outros chegaram depois, impulsionados pelas mais diversas razões da vida. Em pleno século XXI, a maioria dessas pessoas ainda enfrenta a falta de saneamento e atendimentos básicos à porta de casa – condições semelhantes às do passado, e com poucas expectativas de soluções para o futuro próximo. São elas as testemunhas da degradação sofrida pelo rio e da violência, que, há muito, chegou à vizinhança.

Maria Liliane Duarte, a Lia, de 30 anos, não lembra quando mergulhou na imensidão de águas pela primeira vez. Isto porque nasceu e cresceu naquele lugar, o rio no quintal de casa, no município de Macaíba. O avô e a avó chegaram jovens ao local e construíram uma família grande. Todos sustentados pela pesca. A mãe dela apreendeu e repassou a profissão de marisqueira como herança para a filha, que preserva a tradição.

A presença de imunizadoras ao longo do rio é o que mais preocupa a marisqueira. “Nos últimos dez anos, os mangues aqui estão morrendo. A gente precisa ir cada vez mais longe. Nós respeita o tempo que o mangue precisa para que os crustáceos que tiramos sejam repostos. Se precisamos cortar uma planta, a gente replanta. Mas, mesmo assim, desde que essas empresas chegaram, esses mangues mais perto estão morrendo”, destaca.

Junto ao Potengi, eles aprendem, aos poucos, que algo precisa ser feito para que a fonte de vida deles não se esgote. “Nós e as autoridades não podemos deixar o rio acabar”, conclui Marua Liliane. Em Natal,às margens do Potengi, já na área do Passo da Pátria, o pescador aposentado Manoel Silva, 69 anos, teme a insegurança. Os perigos de trabalhar no mangue sempre existiram, mas já foram mais simples que os de hoje. De relatos de canoas viradas, décadas atrás, as histórias desembocam em homicídios e ameaças recentes.

“Dois meses atrás, tive que dar fuga para dois homens que estavam fugindo da polícia. Eles tinham acabado de matar uma mulher na ponte de Igapó, porque ela não quis entregar a bolsa, e a polícia estava atrás deles. Apontaram uma arma para mim, estavam fortemente armados. Pedi que não fizessem nada, que eu levava eles onde quisessem”, revela a mulher.

Não menos de três vezes, ainda de acordo com os relatos, os marisqueiros encontraram corpos de vítimas pelo mangue. “Nunca vi pescador rico. Fui pescador a vida toda e digo que só dá para sobreviver. É por isso que tem muito pescador hoje em dia vendendo droga”, avalia. 

Nascido na comunidade do Maruim, em área pertencente ao Porto de Natal que está em processo de desocupação, Manoel sempre morou perto do Potengi. Apesar disso, sua especialidade era o mar. Trabalhou em navios de carga e sofreu três naufrágios, sendo um em Natal, e os outros em Alagoas e Bahia, em meados da década de 1960. Hoje, passa o dia sentado perto do rio, contempla suas águas, a ponte Newton Navarro mais à frente, e as idas e vindas de pequenas embarcações de seus vizinhos. 

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