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Vozes do elefante

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Yuno Silva
Repórter

“Mentira grande!”, brada Zé Dias com todas as forças e muita saliva. “É o que digo quando ouço alguém dizer que a música do RN não projetou ninguém a nível nacional. Mentira ou desconhecimento de gente que nunca ouviu falar em Ademilde Fonseca, Isaque Galvão, Terezinha de Jesus, Khrystal, Rosa de Pedra,  Hianto de Almeida, Liz Rosa…”, lista o produtor quase que sem parar para respirar. Responsável pela realização do projeto “Os Caminhos do Elefante Pela MPB”, em cartaz toda primeira quinta de cada mês no Teatro de Cultura Popular (TCP), Zé Dias pretende exorcizar de vez essa falsa impressão e lançar holofotes sobre o trabalho desses e de outros artistas, de hoje e de ontem, que tiveram projeção além fronteiras.
Dodora Cardoso faz uma releitura da obra de Núbia Lafayette, a grande mãe e precursora das canções de amor e “sofrência”
O segundo show dessa temporada de estreia, que começou em março com o samba do Quarteto Linha, será dia 2 de abril com Dodora Cardoso interpretando músicas que fizeram sucesso na voz de Núbia Lafayette (1937-2007). “Ouvi muitos discos de Núbia Lafayette na infância por intermédio, principalmente, do meu pai, que também era músico. É a rainha da ‘sofrência’ bem antes do Pablo”, disse a cantora Dodora em entrevista ao VIVER. “Participo de muitas festas em Assu, onde ela (Núbia) foi registrada, e sempre canto seus sucessos. Tenho como missão divulgar artistas de ‘nóis’”.

A intérprete irá pontuar sua performance com histórias e curiosidades sobre a carreira da homenageada, e a relação pessoal que cultiva como “a ‘roedeira’ da minha mãe pelo meu pai”.

Núbia nasceu Idenilde Araújo Alves da Costa, em Carnaubais, na época distrito de Assu, e aos três anos rumou com a família para o Rio de Janeiro. Aos oito já participava de programas de calouros infantis no rádio, e no final da década de 1950 foi destaque do programa “A voz de ouro” da TV Tupi. O nome artístico Núbia Lafayette veio em 1960, quando foi contratada pela gravadora RCA com o apoio de Nelson Gonçalves.

Influência de artistas como Alcione, Fafá de Belém, Elymar Santos e Tânia Alves, Núbia será lembrada por Dodora. “Considero um registro importante a proposta desse projeto, pois muita gente ouve sem saber que se trata de uma cantora do RN. O grande público não precisa morrer de amores pelos artistas potiguares, mas é bom saber que existem”. Dodora se apresenta acompanhada de banda formada por Danilo Bass (baixo), Luís Dantas (sax), Márcio Ricelli (bateria), Andrew Williams (violão) e Naldo nos teclados.

Com seis discos lançados, Dodora Cardoso trabalha na produção de seu sétimo álbum. Com produção de Jubileu Filho, a cantora faz um mix de samba, bossa e música popular. “Este novo trabalho traz 80% de autores do RN, principalmente sambistas das Rocas”, adiantou.    

Bossa Nova
O objetivo d’Os Caminhos do Elefante pela MPB, segundo o produtor Zé Dias, é “rever e mostrar ao público músicos, compositores e cantores do Rio Grande do Norte que tiveram projeção nacional. “A bossa nova é de 1959, mas antes disso Hianto de Almeida (1923-1964) já despontava no cenário com arranjos que serviram de base para Tom Jobim, João Gilberto e companhia”, explicou Dias.

Para se ter uma noção da importância do pianista, cantor e compositor macauense, em 1952 João Gilberto gravou ‘Meia Luz’, de Hianto; o primeiro arranjo atribuído a Tom Jobim, dizem, foi ‘chupado’ da canção “Conversa de sofá”; e em 1955 Hianto e seu parceiro de composição Chico Anysio cravaram pela primeira vez o nome do estilo na música “Cinema Bossa Nova”.

“Tire as bananas da cabeça de Carmem Miranda pra ver!? O canto moderno no Brasil veio com a ‘Rainha do Choro’ Ademilde Fonseca (1921-2012), nascida em São Gonçalo do Amarante. E foi um clarinetista de Taipu, K-Ximbinho (1917-1980), elogiado por Hermeto Pascoal, que revolucionou o choro… e por aí vai”, contou Zé Dias, um pesquisador curioso da produção musical poti.

Disco e documentário
Todos os shows de Os Caminhos do Elefante pela MPB, que conta com apoio do Sebrae-RN, Sesc-RN e Unimed-RN, serão gravados – tanto áudio como vídeo. “A cada fim de temporada quero lançar um documentário e um CD coletânea, a para fechar o ano o plano é juntar todos os dez artistas em uma noite no Teatro Riachuelo. Vamos ver o que acontece daqui pra lá, o projeto já está pronto para ser enquadrado na lei de incentivo”, informou Zé Dias. “Acredito que esse projeto ajude a aumentar a autoestima dos potiguares”, arrisca o produtor. Vale dizer que os dez shows da temporada 2016 já estão fechados.  

Em tempo: questionado sobre a estrutura do Teatro de Cultura Popular (TCP), espaço vizinho à sede da Fundação José Augusto no Tirol, que necessita de incremento na iluminação e manutenção, sobretudo, no ar-condicionado (que faz muito barulho e não resfria o ambiente a contento), Zé Dias disse que a presença do projeto “vai ajudar”.

Agenda
2 de abril – Dodora Cardoso canta Nubia Lafayette
7 de maio – Khrystal
4 de junho – As Nordestinas canta Elino Julião
2 de julho – Rosa de Pedra
6 de agosto – Isaque Galvão
3 de setembro – Laryssa Costa canta Ademilde Fonseca
1 de outubro – Tânia Soares canta Hianto de Almeida
5 de novembro – Carlos Zens
10 de dezembro – Liz Rosa (excepcionalmente na 2ª quinta do mês)

Serviço
Dodora Cardoso faz show tributo a cantora Núbia Lafayette no projeto “Os Caminhos do Elefante pela MPB”, esta quinta-feira (2), 20h30, no Teatro de Cultura Popular – Rua Jundiaí, 641, Tirol.
Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia).

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