Valdir Julião
repórter
Em Natal, o último boletim epidemiológico da dengue, o de número 23, é datado de 22 de junho. Ele mostra que nove bairros da Zona Oeste continuam sendo aqueles com a “incidência muito alta de dengue: Alecrim, Bom Pastor, Cidade Nova, Dix-Sept Rosado Felipe Camarão, Guarapes, Nordeste e Quintas.
Além disso, o boletim da Secretaria Municipal de Saúde aponta que os bairros de Guarapes, Felipe Camarão e ainda Potengi, na Zona Norte, são os que apresentam o maior índice de infestação predial, acima de 4, quando o tolerável é abaixo de 1.
A chefe do Departamento de Vigilância em Saúde, Cristiana Souto, diz que apesar do trabalho dos agentes de endemia e estudos mostrarem “que 90% da população sabe se prevenir” contra a doença, nesses bairros “existe todo um contexto” que o fazem continuar como os bairros com mais incidência de dengue.
Um exemplo, segundo ela, é relacionado ao fato da população insistir em jogar lixo e entulhos em terrenos baldios. Ela admite que quando se realiza uma campanha de prevenção na mídia, a população até corresponde aos apelos e ao trabalho educativo, “mas depois ocorre um relaxamento natural” por parte das pessoas: “Existe todo um contexto ambiental, social e econômico”.
José Roque Tavares recicla lixo vizinho a um terreno baldio em Felipe Camarão, próximo a antiga favela do fio. “Acho que 50% do problema é culpa da população mesmo”, admite ele, enfatizando que sempre passa um carro coletor da Urbana na área, mas assim que sai, as pessoas voltam a jogar lixo na rua.
Em outra rua próxima, um morador fez o “muro” de sua residência com pneus. Levi Petrônio diz que população e poder público devem fazer a sua parte, mas entende “que não é só fazer propaganda e parar que ajuda”, é preciso intensificar mais a presença dos agentes de saúde nos bairros.
Tavares disse ainda “que não sabe o que é dengue”, porque nunca pegou a doença. Mas, informou que regularmente os agentes de endemia passam na área para borrifar a sucata em que trabalha com o veneno para matar o mosquito da dengue.
De acordo com a SMS, até a semana de número 23 foram notificados 1.560 casos de dengue na Zona Oeste, onde a população é de 187.376 habitantes e existe uma incidência de 832,55 casos por 100 mil habitantes. Das dez mortes registradas até o dia 22 de junho, duas tinham ocorrido na Zona Oeste.
Como tem uma população de 119.259 pessoas e lá foram registrados 1.009 casos de dengue, na Zona Oeste está a incidência maior da doença: 846,06 por 100 mil habitantes.
Os primeiros casos de dengue em Natal ocorreram em 1996, quando foram notificados 1.339 casos. Do ano de 1996 a 2003, a doença apresentou comportamento cíclico, com surtos epidêmicos em anos alternados. Em 2003 ocorreu o maior pico epidêmico, com 19.221 casos. A partir de 2004, segundo a SMS, essa característica cíclica não foi demonstrada. Mas, observou-se uma curva de crescimento que culminou com o surto de epidemia em 2009, com 15.584 casos. Em 2009 houve uma redução de 93,4% no número de casos em relação Aa 2008. Já em 2010 foram notificados 4.112 casos, com um incremento de 165% em relação a 2009.
Boletim
O boletim da dengue da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) divulgado ontem, aponta que Natal acumula no primeiro semestre do ano 4.638 casos notificados de pacientes que contraíram o vírus da doença transmitida pelo mosquito aedes aegypti, de um total de 15.722 notificados casos em todo o Rio Grande do Norte. Desses, segundo a Sesap, foram confirmados 5.656 casos da doença.
Ao todo, dos 167 municípios do Estado, 99 estão com incidência alta em dengue. Os outros municípios que apresentam altos números de notificações são: Mossoró (1.949), Parnamirim (1.237), Santa Cruz (623), João Câmara (575), São Gonçalo do Amarante (513), Macaíba (496), Nova Cruz (421), Pau dos Ferros (399) e São Paulo do Potengi (372).
Desde o início do ano até agora são 34 óbitos suspeitos causados pela dengue. Até o momento, 12 mortes foram confirmadas, duas foram descartadas e 21 ainda estão sob investigação.