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Zona Norte atrai mais investimentos

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Andrielle Mendes – repórter

“Salve, lucru” (bem vindo, dinheiro). A inscrição foi encontrada numa escavação na Pompeia, cidade italiana fundada entre os séculos VI e VII próximo a Nápoles, na Itália, e destruída durante uma erupção vulcânica ainda no ano 79 d.C (depois de Cristo). A Zona Norte tem uma avenida de mesmo nome, onde o lucro também é bem vindo. Mas ao contrário da cidade italiana, a Pompeia de Natal está bem viva.  A avenida, a mais movimentada no bairro Potengi, reúne em apenas um quilômetro de extensão mais de 100 pequenos negócios. Material de construção, farmácia, supermercado, clínica, conveniência, oficina. Quem trabalha lá, não tem dúvidas: ‘a avenida é o retrato do crescimento da Zona Norte’.
Zona Norte tem mais de 303 mil habitantes e renda domiciliar per capita que vem crescendo, apesar de ainda ser a menor de Natal
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população da Zona Norte cresceu 649,65% entre 1980 e 2010 – oito vezes mais do que a população da Zona Sul, a segunda que mais cresceu em termos populacionais no período. E deve vir mais crescimento por aí. Se antes um em cada dez natalenses escolhia a zona norte para morar, hoje são quase quatro em cada dez. A participação da região no total de habitantes do Município passou de 9,71% para 37,89%. Nas outras zonas, a participação caiu.

“Mais gente significa mais consumo”, observa o economista Marcus Guedes. Embora o rendimento médio mensal por domicílio na região (R$1.435,79) seja o menor entre as quatro regiões administrativas, o potencial de consumo (incluindo aqui despesas básicas como aluguel, transporte, água e luz) está entre os três maiores da cidade, considerando que lá o número de domicílios é bem maior. A tendência, no entanto, é que o consumo aumente ainda mais, impulsionado principalmente pela expansão da nova Classe C, maioria na Zona Norte.

Várias empresas, de todos os portes, já atentaram para isso. A Ecocil Participações, que atua em vários segmentos, é uma delas. O grupo se associou a uma empresa paulista, a Partage, para investir, em 2013, mais R$ 50 milhões no Natal Norte Shopping. O empreendimento foi o primeiro da região e está avaliado em R$ 120 milhões. Ele é uma das provas de que quem mora na zona norte consome. E muito. As vendas no shopping somaram R$ 750 milhões em 2012.
Bezerra: proposta para construir estação de esgotos foi descartada
“A primeira pesquisa que realizamos mostrou um potencial de consumo inferior a R$ 90 milhões”, compara Fernando Bezerra, presidente do grupo Ecocil Participações.

A MRV Engenharia é outra empresa que vai aumentar a presença na zona norte. A construtora, que já lançou um empreendimento na região, está construindo um novo, desta vez próximo a avenida João Medeiros Filho. O empreendimento terá quase 500 unidades habitacionais e custará à construtora R$ 30 milhões.

“Enxergamos a região como um dos mais promissores vetores de crescimento da cidade de Natal. E esse desenvolvimento se dá pelos investimentos que estão sendo feitos – uma coisa vai puxando a outra – Norte Shopping, Novo Aeroporto. Em 2010 nós lançamos nosso primeiro empreendimento na região – que foi totalmente comercializado em apenas dois meses. Isso nos deu a segurança que precisávamos para intensificar os investimentos na região”, justifica Yuri Chain, diretor comercial da MRV para a regional Nordeste.
Kézia Soares é uma das comerciantes da avenida Pompeia
O crescimento da região também tem atraído os pequenos. A loja gerenciada por Jéssica Albano, 22, se mudou para a Zona Norte há um ano. “A nossa loja ficava na Avenida Jaguarari, em Lagoa Nova. Preferimos vir para a Pompeia. O movimento aqui é bem maior”. “A região tem crescido muito”, observa Kézia Renata Chagas Soares, 20 anos, há três anos na Pompeia. “Quando cheguei, não havia nem metade das lojas”. Sílvia Rodrigues Maciel, gerente comercial de um material de construção, confirma. “O movimento aumentou e a nossa loja ficou dez vezes maior”.    

Grande obras previstas para a área, como o aeroporto de São Gonçalo do Amarante, e o complexo imobiliário de R$ 1,1 bilhão da Coteminas, devem acelerar os negócios na região, afirma Marcus Guedes, economista.

Limitações do Plano Diretor afastam construção civil

Nem todos, porém, podem aproveitar o potencial de consumo da Zona Norte. As condições impostas pelo atual Plano Diretor da cidade têm amarrado o crescimento imobiliário da região e represado boa parte dos investimentos, afirma o Sindicato da Indústria da Construção Civil no RN.

Há casos de construtoras que tiveram que recorrer a Justiça para tentar concluir as obras e de construtoras que compraram terrenos há quase dez anos e não foram autorizadas a construir. A Zona Norte é a única região da cidade impedida de construir prédios acima de 7,5 metros. Falta saneamento, e segundo o Sinduscon, diálogo para liberar as construções.

A Ecocil Participações é uma das empresas afetadas. “Compramos há quase dez anos terrenos hoje avaliados em R$ 25 milhões para construir mil unidades habitacionais e não nos permitiram construir. Paramos de investir. O plano diretor tem sufocado o crescimento da Zona Norte”, critica Fernando Bezerra, presidente da Ecocil Participações, que se propôs a construir uma Estação de Tratamento de Efluentes próximo ao empreendimento, mas teve a proposta descartada.

Segundo o Sinduscon, há outros empresários na mesma situação. “Investir com tantas limitações é inviável”, afirma Arnaldo Gaspar Júnior, empresário e presidente do Sinduscon/RN. Arnaldo propõe uma parceria-público-privada para sanear a Zona Norte. “O dinheiro viria da iniciativa privada, que passaria a receber uma quantia pela obra”, sugere.

Empresa anuncia construção de empreendimento imobiliário

Há exceções. Algumas construtoras encontraram uma maneira de investir na região sem descumprir o que está previsto no plano diretor (que determina, entre outras coisas, quanto do terreno pode ser ocupado e que altura os prédios podem atingir em determinadas áreas). Este é o caso da mineira MRV.

“Como trabalhamos na maior parte das vezes dentro de uma verticalização pequena, nosso coeficiente de ocupação gira em torno de 0,75 a 1 vez a área do terreno, não temos problemas nem de coeficiente de ocupação (quanto pode ser ocupado num terreno) e nem de gabarito (altura que precisa ser respeitada). De qualquer forma, sempre que compramos um terreno, antes fazemos as verificações junto à prefeitura sobre o que pode ser construído e qual o potencial construtivo de cada terreno. A negociação do preço do terreno e a definição do produto sempre levam em consideração o potencial construtivo, os possíveis custos e os limites”, esclarece Maurício de Mattos Raso, diretor de Produção da MRV na regional Nordeste.

“Há vinte anos, a Zona Norte era uma região de grande potencial econômico e em crescimento. Dez anos atrás, virou definitivamente a bola da vez dos novos investimentos em diversas áreas. Hoje, embora siga como um grande filão, muitos dos investimentos que efetivamente poderiam ter aportado por lá ainda patinam, ou mesmo sequer chegaram a ocorrer”, observa Marcelo Queiroz, empresário e presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviço e Turismo no RN.

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