quinta-feira, 18 de abril, 2024
26.1 C
Natal
quinta-feira, 18 de abril, 2024

“A administração precisa ser profissional”, diz Gerdau

- Publicidade -

Jorge Gerdau foi um dos palestrantes no Motores do DesenvolvimentoEm 2011, Jorge Gerdau foi reconhecido pelo governo federal como um dos maiores, senão o maior, defensor da eficiência e da qualidade. Nomeado presidente da Câmara de Gestão e Competitividade, Gerdau passou a ser uma espécie de consultor do Governo Dilma. Onde haja sinais de ineficiência e desperdício de dinheiro público, a Câmara presidida por Gerdau terá liberdade para “propor, decidir e acompanhar“ as mudanças necessárias, segundo as palavras do próprio. A luta de Jorge Gerdau para tornar o Brasil competitivo, tanto na iniciativa privada quanto no setor público, começou no início da década de 90 do século passado, ao visitar parceiros japoneses da sua empresa siderúrgica. “Eles investiam em gestão o mesmo valor que investiam em inovação”, disse, em sua palestra no seminário Motores do Desenvolvimento. De lá para cá, o empresário foi um dos fundadores do Movimento Brasil Competitivo, em 2001, e vê avanços na eficiência brasileira. “Em nível nacional, o movimento pela qualidade tem obtido destaque”, diz. Em entrevista, Jorge Gerdau fala sobre como tornar a gestão eficiente e é taxativo ao comentar as indicações políticas sem critério para cargos administrativos: “A Administração precisa ser profissional. É uma tendência natural que os cargos da administração sejam ocupados por profissionais e não por políticos ou indicados de políticos sem aptidão para o cargo”. 

Como se deu o início do interesse do senhor pelo tema da eficiência na gestão pública dentro do setor público?

Sempre me questionei se deixarei para os meus filhos e netos um País melhor do que aquele que recebi dos meus pais. Receio que, em alguns aspectos, isso não vá ocorrer. É verdade que registramos melhorias nas condições de vida da população brasileira nos últimos anos, mas também vemos a degradação de instituições importantes, como a educação, com uma qualidade de ensino insuficiente para os desafios que temos de enfrentar em um mundo globalizado. Isso ocorre porque não temos cumprido os deveres que cabem a cada um de nós como cidadãos.

Acredito que todos nós temos três tipos de responsabilidade. A primeira é a profissional, pela qual temos de exercer nosso trabalho com qualidade e seriedade. A segunda é a responsabilidade de atuar solidariamente em nossa comunidade, procurando desenvolver atividades que ajudem a atender suas necessidades, de forma voluntária. A última, e mais importante, acredito que seja nossa responsabilidade institucional com o País, ou seja, é a nossa contribuição para a construção de um Brasil melhor. Se cada indivíduo orientar o seu comportamento tendo em mente suas responsabilidades com o País, tanto nas grandes decisões quanto nas pequenas atividades, poderemos ter uma mudança real no Brasil, gerando mais renda e empregos. Essa é uma tarefa de todos.

Como o senhor explicaria, de forma simplificada, a importância de modernizar a gestão no Brasil? Qual o preço da má gestão e do excesso de burocracia?

A modernização da gestão pública brasileira é de extrema importância, pois implica no desenvolvimento sustentável do Brasil. Uma boa gestão exige planejamento de médio e longo prazo, não apenas os de curto prazo, como tem sido o processo histórico no País. Aqueles que não aderirem ao movimento da qualidade na gestão ficarão para trás na competição cada vez mais feroz do mundo globalizado. Quanto antes aderirmos a essa nova revolução gerencial, melhor deixaremos o Brasil para nossos filhos e netos.

O que mudou – para melhor ou pior – no Brasil em termos de gestão pública desde a criação do Movimento Brasil Competitivo, em 2001?

Em nível nacional, o movimento pela qualidade tem obtido destaque, principalmente, pela atuação do Movimento Brasil Competitivo (MBC), que já conta com o apoio de mais de cem empresas. Um exemplo disso é o Programa Modernizando a Gestão Pública (PMGP), cujos resultados são impressionantes. Para cada R$ 1,00 investido, temos contabilizado um retorno de R$ 188,00. Isso significa que os ganhos dos 10 Estados e oito municípios brasileiros beneficiados por esse programa chegam, considerando cinco anos de trabalho, a uma eficiência anual de mais de R$ 14,2 bilhões. Apoiados pelo MBC, esses resultados têm sido obtidos sem aumentos de impostos nem interrupção de serviços, mas apenas aumentando a produtividade, com o melhor aproveitamento dos funcionários públicos, o que se reverte em benefícios para toda a sociedade.

Além disso, o MBC desenvolve diversas ações para levar ferramentas e conceitos de gestão às micro e pequenas empresas, com o objetivo de contribuir para a melhoria do ambiente de negócios no país. Afinal, o aumento da competitividade de cada negócio brasileiro promove expressivos ganhos para todo o País.

Como é possível aumentar a qualidade do gasto público? Em que medida isso implica numa mudança de mentalidade cultural?

É preciso buscar melhorias em custos e receitas, sem aumentar impostos, aprimorando a gestão. Ou seja, é preciso viabilizar que os governos façam mais com menos, com mais qualidade e eficiência. Não há dúvida de que a caminhada ainda é longa, pois a mudança de cultura requer um trabalho minucioso e contínuo, com muitas décadas de dedicação. Porém, para atingir um novo patamar de gestão pela qualidade é preciso ter lideranças capacitadas e motivadas e acesso ao conhecimento e à metodologia adequada, fundamentais para mobilizar as pessoas. Somente com a mobilização da sociedade brasileira é que conseguiremos construir um processo sustentável, para aumentar o nível de poupança e investimentos no Brasil, melhorar a qualidade da educação e da saúde e gerar empregos.

Em que medida a politização da gestão – o número de cargos comissionados e o apadrinhamento – é um obstáculo para melhorar a eficiência? Qual a importância da transparência nesse processo?

A transparência no processo de definição de cargos no setor público é essencial para a melhoria de gestão. Um bom exemplo vem dos mercados de capitais, nos quais a transparência é primordial. Nos Estados Unidos, após escândalos contábeis de grandes corporações, foi criada a lei Sarbanes-Oxley, que regula as práticas das empresas de capital aberto e, hoje, serve como modelo mundial. Com a Sarbanes-Oxley, passou-se a exigir a co-responsabilidade de todos os executivos das empresas, exigindo que eles afirmem formalmente que não há qualquer tipo de desvio na sua área.

Quais os efeitos negativos do excesso de cargos de confiança?

 São cargos administrados por interesses pessoais e políticos. Ao mesmo tempo, as funções representadas por esses cargos são muito complexas, demandam um conhecimento técnico amplo. Por esse motivo, a carreira profissional, o preparo técnico, são indispensáveis.

Há quem defenda eliminar a indicação política. O senhor concorda?

Não. A indicação política não precisa necessariamente acabar, contanto que indiquem quadros profissionais e não qualquer pessoa. É inaceitável hoje não profissionalizar a gestão.

Por quê?

A tendência, dada a complexidade do cenário de globalização e também dos desafios do Brasil, é que o nosso país entre nesse nível de qualidade padronizado internacionalmente nas funções do Estado, nas funções de governança e nas funções administrativas. As funções de Estado são relativas aos interesses de Estado. As funções de governança são relativas à política, aos políticos e partidos. As funções administrativas por sua vez precisam se profissionalizar. É uma tendência natural que os cargos da administração sejam ocupados por profissionais e não por políticos ou indicados de políticos sem aptidão para o cargo. O Brasil já tem vários setores que trabalham sob essa perspectiva e deverá cada vez mais utilizar funcionários de carreira, substituindo os não-profissionais e cargos de confiança. O Itamaraty, o Banco Central, o Banco do Brasil, o Exército, os tribunais já fazem isso.

Que bons exemplos de evolução e modernização podem ser citados no Brasil atualmente?

É muito positivo constatar que, nos últimos anos, o número de bons exemplos de gestão pública em todo o Brasil tem aumentado gradativamente. Governos federal, estaduais e municipais, nas mais diversas regiões do País, passaram a aplicar práticas de gestão modernas, gerando resultados impressionantes. Além disso, esse trabalho, cada vez mais, tem se dissociado de ideologias políticas, à medida que passa a ter a adesão de dirigentes de distintas linhas de pensamento, mas com uma preocupação em comum: a melhoria da qualidade de vida das pessoas. O governo de Pernambuco, por exemplo, aplicou técnicas modernas de gestão, prevendo metas e prêmios para alunos e professores, o que elevou a qualidade do ensino e ajudou o Estado a alcançar melhores posições nos rankings nacionais nesse segmento. Fazer mais com menos é o diferencial.

O que é prioridade para a Câmara de Gestão?

Saúde, Infraero, transportes, Justiça e os Correios. Devem entrar também esportes e a Previdência.

Por que foram escolhidas essas áreas?

Foram analisadas a dimensão, complexidade e a necessidade de aprimorar os processos e conseguir resultados. São temas que a própria presidenta Dilma Rousseff recomendou que fossem tratados.

O trabalho já foi iniciado?

Sim. Estamos na fase de analisar como funcionam esses setores indicados pela presidenta. A Câmara tem a responsabilidade de propor, decidir e acompanhar essas propostas de melhoria.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas