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Biotecnologia deve ter investimento maior dos estados

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Entrevista – Luiz Antônio Barreto de Castro
Presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia (SBBiotec), ex-secretário de Ciência e Tecnologia do MCT

Sara Vasconcelos
repórter

Para avançar mais no país, a biotecnologia deve encontrar o caminho entre o laboratório e a indústria que, na avaliação do pesquisador, presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia (SBBiotec) e ex-secretário de Ciência e Tecnologia do MCT, Luiz Antônio Barreto de Castro, passa por investimentos e financiamento público para a pequena empresa. Luiz Barreto Castro, pioneiro em desenvolvimento de produtos transgênicos. Ele esteve nesta quarta-feira (8), em Natal, para participar de conferência, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e falou à TN sobre desafios, avanços e oportunidades da biotecnologia no país.  Eis a entrevista.
Luiz Antônio Barreto de Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Biotecnologia (SBBiotec), ex-secretário de Ciência e Tecnologia do MCT
Qual o caminho a ser trilhado para que a biotecnologia avance ainda mais no Brasil?
A biotecnologia tem que chegar na indústria e para isso precisa ter empresas. E é preciso ter dinheiro para financiar estas empresas.

O que é necessário para essa mediação ocorrer e se atuar em biotecnologia industrial?
É preciso criar mecanismos, eu ainda não cheguei analisar isso com cuidado. Mas tivemos hoje (ontem, na palestra) o Sebrae, uma instituição que atua junto as pequenas empresas e poderia ter uma maior participação nesse sentido. Nós precisamos que as pequenas coloquem os produtos no mercado. Mas como elas não tem capital, não conseguem financiamento dos bancos para desenvolver os produtos. Nos Estados Unidos, há um programa com dinheiro público no pequeno negócio e precisamos ter um assim também.

Hoje o financiamento é todo do governo federal?
Os estados investem pouco, o governo federal também. É preciso fortalecer os Fundações de Amparo à Pesquisa aqui no Nordeste, para que seja viabilizado recursos para investir nessa área. Esta é dificuldade para avançar nos Estados. Enquanto os Estados gastam muito na construção de Arenas para a Copa, quanto foi destinado para a ciência e tecnologia? No RN, o pesquisador ganha bolsa da Renorbio para desenvolver pesquisa e a Fundação atrasa o pagamento, não paga. E precisa ser como em São Paulo, que há 52 anos destina 1% da arrecadação de impostos para investir em ciência e tecnologia, independente do governo.

O maior desafio para o crescimento em biotecnologia é a falta de recursos?
Sim, a falta de investimentos. É preciso avançar também na legislação de biossegurança, na lei de patentes, mas principalmente investir em ciência e tecnologia. Os EUA investem US$ 400 bilhões ao ano, enquanto o Brasil apenas US$ 20 bilhões. A gente deveria investir pelo menos US$ 40 bilhões e isso deve sair dos Estados e da iniciativa privada. Não podemos depender apenas do recurso federal. Estamos indo às Assembleias Legislativas de todo o país para criar Fundações de Amparo à Pesquisa sólidas, consistentes e independentes, que presidentes tenham mandatos.

O desenvolvimento de  novos produtos é acompanhado, em igual velocidade, de pesquisas sobre o efeito desses produtos modificados na saúde humana?
O Brasil é um dos poucos países do mundo que obriga quem produz modificando a genética a acompanhar, a monitorar por cinco anos. Eu acho pouco, acho que deveria ser mais tempo pela complexidade da biologia. Eu defendo que seja feito monitoramento de forma contínua da amostragem de solo, de água, de planta, para não ter problema. No mundo, a biotecnologia começou dez anos antes do Brasil. Eu acompanho a biotecnologia desde 1973. No início todos tínhamos uma preocupação porque não sabia o que iria acontecer. Por mais que tivesse analisado cuidadosa e rigorosamente, se perguntava dos riscos. Há 15 anos, nós liberamos o primeiro produto uma soja modificada geneticamente para ser mais resistente ao herbicida e nunca houve nada até hoje, nem com ele e nem com milhares de outros produtos.

Sobre o cultivo dos transgênicos junto a outras culturas, já há liberação? Quais os riscos?
Isso é uma grande discussão dentro da comissão técnica  nacional de biossegurança. Há regras, se o milho for crioulo deve plantar numa distancia mínima para colocar o transgênico. Há o risco do pólen ir, pelo vento, e afetar as outras culturas. Mas há segurança nesse sentido.

Muitos cientistas reclamam da insegurança causada pela lei de patentes do país. Isso impede investimentos e avanços em pesquisa?
Em biologia, patente é muito difícil. A lei de patentes tem dez anos e foi feita de forma muito permissiva, agora estão voltando atrás. Eu acho uma lei bastante inteligente uma vez que não impede que a agricultura se desenvolva. Hoje, o Brasil já é o segundo maior produtor de transgênicos do mundo, atrás somente dos EUA. O que vejo é que a indústria farmacêutica reclama e diz que se perde investimentos porque a lei não é boa. A indústria farmacêutica não está satisfeita, mas a agrícola não reclama. A não ser da morosidade em liberar um produto, mas não chega a ser um dificultador.

Em duas décadas de muita polêmica, receios e também avanços, o que houve de erros e acertos no desenvolvimento da biotecnologia?
Do ponto de vista, do exercício da lei de biossegurança não vemos problemas ocorridos em função  das decisões que nós tenhamos tomado. A soja transgênica foi liberada enquanto eu era presidente da SBBiotec  e, em conferências, eu dava meu nome e CPF para que se alguém passasse mal, houvesse algum desequilíbrio ambiental ou com alguma pessoas, eu fosse preso. O que nunca ocorreu. Não tenho como citar erros. Entre os avanços, está a liberação esse número de plantas  produtos são empresas de grandes corporações e o Brasil ser o segundo produtor.

Se produz muito, mas em relação ao consumo desses produtos modificados?
A gente não produz para o consumo humano. A soja, o milho e o algodão hoje são para ração animal. O mercado não é fechado. A Europa toda compra soja, compra milho geneticamente modificados para produzir suíno, bovinos, aves.

Quais os resultados da Renorbio, em uma década?
Eu criei essa rede há dez anos e hoje temos 227 teses de doutorado, 400 pesquisadores envolvidos de 40 instituições. Estou satisfeito de ver a evolução. Quando eu era secretário de Ciência e Tecnologia coloquei R$ 25 milhões e o secretário que está lá hoje, não coloca mais. O maior problema no Brasil é a alternância do poder.

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