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Desgaste político fez Lula autorizar cobrança tardia ao ditador Maduro

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A reação crítica do governo Luiz Inácio Lula da Silva à exclusão de opositores do processo eleitoral na Venezuela foi determinada pelo próprio petista, disseram fontes do Planalto e do Itamaraty ao Estadão. A decisão foi tomada em razão da frustração com a falta de compromisso da ditadura chavista com a realização de eleições livres no país e do desgaste político provocado pelo apoio de Lula a Nicolás Maduro desde o início do seu mandato. O comunicado de ontem, respondido com acidez pela chancelaria venezuelana, marca uma inflexão nos seguidos gestos de apoio político e votos de confiança no regime.

O texto foi redigido pelo Itamaraty, em coordenação com o Palácio do Planalto, e revisado pessoalmente por Lula na terça-feira, dia 26, na Base Aérea de Brasília, antes de se tornar público, naquela tarde. O presidente endossou o conteúdo, redigido sob sua instrução na véspera, e não pediu mudanças, segundo embaixadores.
Em seguida, o petista embarcou com seus auxiliares, inclusive o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores), a Belém (PA), onde recebeu o presidente francês, Emmanuel Macron. O ex-chanceler Celso Amorim (chefe da Assessoria Especial) integrou-se à comitiva presidencial na quarta-feira, dia 27, no Rio.

Desgaste político
Integrantes do Planalto já admitiam o desgaste político para Lula por seguidas declarações de confiança em Maduro, seu aliado político. Um interlocutor de Lula lembrou ao Estadão que a defesa da ditadura venezuelana teve peso na perda de popularidade do presidente, indicada em ao menos três pesquisas. Para essa fonte, não há mais espaço nem político nem diplomático para relativizar os “abusos” de Maduro.

Desde que voltou ao Planalto, o petista recebeu Maduro com pompas de chefe de Estado em Brasília, durante um encontro de líderes sul-americanos, o que foi duramente criticado por governos à esquerda e à direita da região, como Chile e Uruguai. Em dezembro, o Itamaraty teve de agir para intermediar uma crise provocada por Caracas ao tentar anexar uma parte da Guiana.

Na última declaração pública, ele sugeriu que deveria haver “presunção de inocência” com Maduro, apesar da prisão de opositores e de coordenadores da campanha de María Corina Machado, a principal líder antichavista.
Por fim, a declaração de que a oposição deveria “escolher outro candidato em vez de chorar” causou constrangimento no governo e foi uma das que repercutiu mal para a imagem de Lula. Corina Machado, num gesto considerado “genial” no governo, escolheu uma homônima como substituta.

‘Deboche’ com acordo de registros de candidaturas

Interlocutores do Itamaraty e da assessoria internacional de Lula relatam que a medida foi discutida na tarde de segunda-feira, dia 25, durante conversa entre Lula, Vieira e Amorim no Palácio do Planalto. Naquele instante, Lula decidiu que “não dava mais” para deixar de se posicionar e a nota deveria ser preparada, mas pediu que seus auxiliares aguardassem o fim do prazo de registros de candidatura, dentro do calendário previsto para as eleições convocadas para 28 de julho, data do aniversário de Hugo Chávez.

Segundo o petista, se o registro da principal candidatura oposicionista não fosse solucionado, não haveria outro caminho a não ser abandonar a postura de “cautela” e denunciar a violação ao acordo. O momento era considerado como data-chave, um “marco importante” porque a partir daí ficaria claro quem seria habilitado a participar ou não da disputa eleitoral. Aguardar permitira a Lula manter seu argumento de não “pré-julgar” os acontecimentos em Caracas. Sem a principal força política contrária ao governo, o pleito perdeu completamente a credibilidade internacional.

Amorim ignorado por Maduro na Venezuela

A reação do governo Lula ocorreu depois de uma semana de avaliações e contatos feitos principalmente pela equipe chefiada por Amorim, com membros do governo chavista, da oposição e da Noruega, outro país envolvido na mediação.

No Itamaraty, há algumas semanas a avaliação já era de que desde a assinatura dos Acordos de Barbados – testemunhada por Amorim como enviado por Lula -, o que se viu foram retrocessos em série, com atos do governo contrários ao compromisso firmado por Maduro. Ainda segundo assessores, o Palácio do Planalto já admitia “preocupação” com a repressão aos opositores do regime e as dificuldades para registrar a candidatura de Corina Yoris. Mas o governo decidira aguardar e não engrossar o coro de adversários.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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