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Excesso de comida pode levar à compulsão alimentar; entenda

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Tádzio França
Repórter

Pecado capital para uns, problema de saúde para outros. A ingestão excessiva de comida, ou seja, o transtorno que pode ir além da gula e se tornar compulsão alimentar, é um problema com o qual muita gente não sabe lidar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a compulsão alimentar atinge cerca de 2,5% da população mundial. E no Brasil, 4,7% das pessoas passam por essa adversidade. Se não for observado com o devido cuidado, o ato de se alimentar além do que a fome exige pode se transformar em um transtorno grave e causar prejuízos à saúde.


A fronteira entre a gula e o transtorno alimentar passa por muito fatores. Um deles é o psicológico. Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais, a compulsão alimentar pode ser compreendida como transtorno quando ocorrem episódios frequentes, pelo menos duas vezes por semana, e quando esse comportamento se prolonga por um período específico de até seis meses.


A psicóloga Taciana Chiquetti afirma que a raiz do problema está bem definida numa máxima de Freud: todo excesso esconde uma falta. “Quando temos um comportamento compulsivo, estamos tentando compensar algum vazio interno, alguma falta, algo que ainda não foi bem resolvido em nós”, explica. A compulsão – seja por qualquer coisa – viria como um recurso compensatório para essa “fome emocional”.


Em quadros de estresse e ansiedade, por exemplo, a comida figura como uma compensação rápida, pois é algo ligado à satisfação, ao prazer, e também ao afeto. “Aprendemos desde bebês, que o desconforto é recompensado com a comida. Há também memórias afetivas como o bolo da vovó, a comida do interior, etc. Alimentação também representa afetos”, diz. Taciana ressalta que as fomes física e emocional andam juntas – mas é preciso saber quando uma termina e a outra começa.


“A fome emocional está muito mais associada a uma vontade de comer determinado alimento, porque ele tem uma representação psíquica para a gente. Já a fome física não é tão seletiva”, diz a psicóloga. Mas. ao “descontar” as emoções na comida, surge a sensação de alívio, que, posteriormente, se transforma em um sentimento de culpa.


A pessoa com compulsão alimentar lida com emoções intensas. Após saciada a “fome”, surge então o chamado efeito rebote, e o sentimento de culpa vem com tudo. “A pessoa passa a se culpar por ter comido tanto, ligando isso às exigências sociais, que pedem corpo padrão e moderação. Daí aumenta a ansiedade, o sentimento de tristeza, e a pessoa volta a comer novamente. Ela fica presa nesse circuito”, explica.


Para reverter esse quadro, é preciso comprometimento e apoio profissional adequado. Normalmente, o tratamento é feito de forma multidisciplinar, com a participação de psiquiatras e nutricionistas, além de psicólogos. Em alguns casos, o uso de medicamentos é necessário. Tatiana afirma que através do autoconhecimento conduzido pela terapia, é possível compreender o vazio que a pessoa quer preencher.


“Quando a pessoa busca outras fontes de preenchimento, ela pode encontrar coisas mais saudáveis e menos excessivas. Pode continuar comendo aquilo que lhe dá prazer, mas não só comida, porque há outras fontes de preenchimento. A partir do momento que ela compreende aquele vazio, ela pode abrir possibilidade para novas fontes de preenchimento, e acolher a si mesma”, analisa.

Transtornos
A mente sente os efeitos da compulsão, e o corpo também, através de sérios problemas de saúde. O transtorno pode acarretar doenças e comorbidades como obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, cálculo renal, apneia do sono, diminuição da capacidade respiratória, gastrite e refluxo. “Quando se tem essa compulsão, é preciso entender que ela pode evoluir até para gatilhos maiores”, afirma a nutricionista Eliane Martins.


Um problema extra da compulsão é também a qualidade do que se está comendo. “Piora muito o cenário se a pessoa só come guloseimas tipo doces, chocolates, tortas, biscoitos, salgados, pizza, sanduíche, batata frita. São alimentos muito mais inflamatórios, com alta concentração de gordura, de sódio, que vão causar diabetes, colesterol alto, e uma dislipidemia total (aumento de gordura no sangue)”, explica a nutricionista.


Eliane Martins ressalta que, mesmo que os alimentos sejam saudáveis, se forem consumidos em altas quantidades também provocarão processos inflamatórios. “O volume alto de comida provoca desequilíbrio nos hormônios essenciais. É preciso controlar e reparar a nossa microbiota intestinal, para fazer com que os hormônios sejam liberados de forma correta, ativa, e o nosso cérebro consiga reparar para poder baixar esses hormônios, inclusive o hormônio do estresse”, diz.


Uma forma de inibir a compulsão através da alimentação é pelo equilíbrio. “É preciso que haja um equilíbrio no cardápio do paciente, entre fibras, proteínas e carboidratos, porque muitas vezes a gente aguça nosso paladar a ficar apenas para o doce salgado”, diz. Mas não envolve só comida, ressalta a nutricionista. É analisada também a quantidade de água consumida, suas horas de sono, e ainda suas emoções e sentimentos sobre determinadas coisas.


Eliane explica que é feito um ajuste da densidade nutricional entre entre fibras, proteínas e carboidratos, como uma estratégia de suplementação para ajudar o paciente a também abaixar o estresse regular esse sono. “E a gente conseguir ter respostas maravilhosas para um comer consciente, para a pessoa evitar esse ‘comer’ emocional, e respeitando sempre o ponto de saciedade e a individualidade da rotina de cada um”, diz. Segundo ela, o sono desregulado e pouco é um dos fatores hoje em dia que mais influenciam nos transtornos alimentares.

cuidados
Há cerca de um ano, o empresário Paolo Rossi passava por uma das fases mais difíceis de sua vida. O misto de ansiedade e estresse o fez descontar tudo na comida. “Quando você está nesse estado, não importa se a comida é saudável ou não. A gente come o que for mais fácil de fazer e estiver mais perto”, diz. O resultado foi sobrepeso, estresse, mau humor, crise de coluna, pré-diabetes, e um sentimento geral de desânimo. “Eu achei que conseguiria controlar tudo sozinho, mas não deu. Precisei de uma ajuda profissional”, diz.


Paolo decidiu se engajar conscientemente num processo sério de reeducação alimentar. Adotou um plano alimentar específico para ele, passado por uma nutricionista, e sentiu sua situação mudar rapidamente. Mas não se trata apenas de dieta. “Entendi que há uma forma de saciar a fome do corpo, mas envolve também a mente, e esse é o processo mais complicado”, afirma.


O empresário já perdeu 14kg de gordura, e ganhou 3kg de massa magra. Segundo ele, continua comendo tudo gosta, mas em porções menores e em determinados dias. “O processo de reeducação alimentar é uma rotina com disciplina. Os problemas externos continuam, mas eles representam 10% da questão. O resto está na cabeça, e a gente pode achar formas de aprender a lidar com isso”, conclui.

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