A estrutura da segurança pública que é apontada pelo Comando da Polícia Militar é bem diferente do que é visto pela população e o efetivo nas ruas. Na manhã da última sexta-feira (4), a TRIBUNA DO NORTE fez uma ronda nas principais unidades de polícia da zona Sul de Natal e constatou deficiência no número de viaturas circulando; delegacias com infraestrutura precária; postos policiais fechados e equipamentos essenciais, como rádio e colete a prova de balas, completamente desgastados. Segundo relatos dos policiais entrevistados, só três viaturas do 5º Batalhão estavam rodando naquele dia. Confira também exemplos de comunidades que se uniram para bancar a segurança do bairro.
Bancando a segurança
Satélite
Considerado um dos maiores bairros da América Latina, com cerca de 30 mil moradores, Cidade Satélite possui apenas uma viatura para fazer o patrulhamento de toda a região. A violência cresceu: o índice de assaltos chega a dez por dia. O representante comercial Lívio de Melo Silva, de 44 anos. Em fevereiro, dois bandidos armados o assaltaram na porta de casa, às 15h, e levaram o carro. Ele tinha terminado de pagar o financiamento do veículo no dia anterior. A casa de Lívio fica duas ruas depois do posto da 3ª companhia do Satélite.
“Na hora liguei para o posto e o policial até veio, de camisa e calção, mas ele não tinha viatura para ir atrás. Boa vontade ele até teve”, comenta o representante. O carro nunca foi encontrado.
#SAIBAMAIS#Os moradores do bairro arrecadaram R$9 mil para reforma e pintura do prédio de alvenaria; aquisição de imóveis e alimentação dos policiais. Segundo Anísio Barbosa, presidente da associação de moradores do bairro, a medida foi tomada após uma audiência pública realizada com os representantes da segurança do estado. “Vamos realizar outra audiência, no dia 10 de abril, para discutir limpeza e iluminação com a Prefeitura. Não adianta ter policial se falta luz nas ruas”, afirma.
O soldado Gleybson Luiz foi realocado do cargo administrativo que ocupava na Junta Médica da PM, e agora ocupa o plantão no posto do Satélite. Segundo ele, a população não deixa faltar nada. “Eles ajudam na limpeza e na alimentação. É uma boa parceria”, salienta.
Pitimbu
Também no Satélite, o posto da 3ª Companhia, que cobre toda a área do Pitimbu, enfrenta a deficiência de viaturas, munição e coletes a prova de balas. Além do desgaste da estrutura do prédio, que conta com goteiras e buracos, os 42 policiais da companhia também precisam fazer uma “cotinha” para manutenção dos carros, compra de material de tinta para impressora e folhas de papel. Os três coletes disponíveis na companhia já estão com a parte externa totalmente desgastada, com o material de proteção exposto. Os policiais também reclamam da falta de munição, que é bancada do próprio bolso.
“A maioria das unidades funciona assim: de acordo com a demanda do bairro, a viatura é direcionada para lá. É uma verdadeira dança das cadeiras. A gente sempre dá um jeito de fazer a manutenção, porque se dependesse do Governo do Estado a PM já teria parado”, desabafou um policial, que preferiu não ser identificado.
Morro Branco
Em Morro Branco, a conta para garantir segurança foi muito maior: desde setembro de 2014, os moradores desembolsaram R$25 mil para montar e manter um posto completo na avenida Brigadeiro Gomes Ribeiro. Além de reformarem um trailer e uma viatura, os moradores bancam a alimentação e alugaram um apartamento no bairro para que os policiais possam contar com banheiro e quarto.
Mário Emerenciano, presidente da Associação Potiguar em Defesa da Cidadania, é morador do bairro há 25 anos. Ele diz que a gota d’água foram os dois assaltos seguidos que fizeram à sua casa. “A minha casa foi assaltada no meio da tarde, quando minha filha estava em casa, e dois meses depois de terem arrombado e feito um arrastão completo”, conta Mário. Até setembro, o conjunto não possuía nenhum tipo de posto policial. “Os moradores estavam tão cansados da insegurança que conseguimos reunir R$5 mil em três horas”, emenda.
O subcomandante do 5º batalhão, Egitto Freire, que também presta serviço no novo posto de Morro Branco, afirma que praticamente não existem novas ocorrências no bairro. “Quando se faz a ação preventiva, como é o nosso caso, raramente temos ocorrências. Acredito que a parceria entre a comunidade e a PM foi positiva”, opina. Apesar de também fazer a ronda em Nova Descoberta, a viatura possui a identificação “Morro Branco” e, apesar é estacionada na frente da casa do presidente do conselho comunitário todas as noites.
Para o PM reformado Edmilson Lima, morador do bairro há 18 anos, que já teve parentes assaltados no bairro, afirma que é preciso lutar por mais melhorias – nem que seja preciso tirar do próprio bolso. “Não tivemos mais nenhum assalto, algo que não tínhamos em anos. Temos que lutar, agora, por mais carros e oficiais”, aponta.
Sem estrutura
Neópolis
O pequeno posto policial de Neópolis conta com apenas dois policiais que fazem o turno 24h e folgam dois dias. A única viatura do bairro também é responsável por fazer a ronda nos bairros de Candelária, Serrambi e Nova Parnamirim. O único rádio disponível estava quebrado, e os soldados não tinham como entrar em contato com o veículo em ronda caso houvesse alguma notificação.
Cidade Satélite
Já em Cidade Satélite, dos três postos policiais espalhados pelo bairro, apenas um está em pleno funcionamento. Restaurado pela população no início do ano, o posto localizado na etapa dois do bairro, na rua Cumaru. Enquanto isso, outros dois postos – um na rua Abreu e Lima e outro na avenida Linhares – estão fechados há mais de dez anos. Segundo o comando do 5º Batalhão, além da falta de infraestrutura dos prédios (a reforma compete à Secretaria Estadual de Segurança e Defesa Social), não há efetivo suficiente para equipar todos os postos.