quarta-feira, 8 de maio, 2024
28.1 C
Natal
quarta-feira, 8 de maio, 2024

Mitologia patina em Imortais

- Publicidade -

Por Luiz Carlos Merten

Dos mesmos produtores de 300 – a chamada publicitária tem valor de advertência, mas na verdade ela informa o público sobre o que vai encontrar em Imortais. O longa de Tarsem Singh que estreou sexta-feira volta a escavar na arqueologia da Grécia mitológica. Embora a máquina do cinemão procure relatá-lo com 300, o novo épico tem mais a ver com Fúria de Titãs.
Mickey é Hiperion, o vilão que matou a mãe de Teseu
A mitologia, propriamente dita, pouco ou nada tem a ver com a história. Imortais parece uma variação do remake de Conan, o Bárbaro, com seu herói obcecado poir vingança e o vilão que busca a arma que lhe permitirá dominar o mundo. Teseu é interpretado por Henry Cavill, o novo Superman do filme de Zack Snyder, que só estreia em 2013. Parece – na verdade, é – um herói dos quadrinhos. Na mitologia, é famoso principalmente por haver enfrentado o minotauro em seu labirinto. Na ficção hollywoodiana, é o depositário do arco de Épiro, uma criação dos roteiristas de Hollywood, sem respaldo nos mitos do helenismo.

Um letreiro informa o público, de cara, sobre a teogonia – literalmente, a origem dos deuses. Houve uma batalha entre duas raças de seres imortais. Os vitoriosos se autoproclamaram deuses e os derrotados, os Titãs, foram aprisionados no Monte Tártaro. Na trama do filme, Hipérion busca o arco de Épiro para libertar os Titãs e dominar o mundo. Zeus, pai dos deuses, proíbe os habitantes do Olimpo de intervirem nas guerras dos humanos, mas ele próprio é o mentor de Teseu, a quem protege. Dois outros personagens ajudam o herói – um ladrão e a virgem Freida Pinto. Hipérion, o vilão que odeia os deuses e matou a mãe de Teseu, é interpretado por Mickey Rourke com seu look degradado pós-O Lutador. Nada disso tem a ver com a teogonia de Hesíodo. A própria representação visual, seja dos deuses ou dos seus ambientes, fica a anos-luz da iconografia clássica.

As roupas e cenografia parecem muito mais emprestadas a uma tradição que remonta ao Oriente, o que aumenta a confusão. Vai depender do seu envolvimento com a trama e os personagens a possibilidade – mínima – de viajar na aventura de Imortais. É curioso como, desde que Peter Jackson recriou a saga clássica de JRR Tolkien em O Senhor dos Anéis, Hollywood tem revalorizado as mitologias, não necessariamente a greco-romana. As sagas nórdicas – Thor – também têm estado em alta, mas o sucesso de 300 e Fúria de Titãs estimulou o interesse pelo Olimpo.

A busca da imortalidade através da glória dos feitos é um tema recorrente da literatura grega. Há uma citação de Sófocles sobre isso. Hipérion busca a imortalidade a qualquer preço, Teseu a conquista por sua ética. O filme se encerra com a proposta de uma sequência – uma outra etapa da luta entre deuses, imortais e Titãs (se é que sobrou algum). O filho de Teseu encaminha-se para ser o novo herói. Como Imortais estreou bem nos EUA, é possível apostar em Imortais 2. A questão será como encaixar Henry Cavill se, como Hollywood espera, estourar na armadura do Homem de Aço.

O indiano Tarsem Singh foi diretor de segunda unidade de O Estranho Caso de Benjamin Button, de David Fincher. Antes disso, havia dirigido A Cela, com Jennifer Lopez. Nascido na Índia e filho de um engenheiro, estudou economia nos EUA, mas se orientou para o cinema. Começou com videoclipes, o que lhe condicionou o estilo. Imortais é banal como narrativa, o 3-D parece 2-D convertido – ou seja, não impressiona -, mas, justiça seja feita, Cavill e Freida Pinto formam um belo casal. A cena em que ela perde a virgindade chega a ser bem erótica, e rara nesse tipo de cinema para todos os públicos.

SERVIÇO

IMORTAIS

Título original: Immortals. Direção: Tarsem Singh. Gênero: Aventura (EUA/ 2011, 110 min.). Classificação: 16 anos. Cotação: Ruim

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas