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Muito além do conhecimento técnico

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Há algumas décadas fazer um curso do Senac era sinônimo de aprender a técnica suficiente para ingressar em diversos empregos na área de comércio e serviços. Hoje, porém, o mercado de trabalho exige muito mais que o simples conhecimento técnico. O Senac sabe disso e vem adaptando o ensino profissionalizante às demandas cada vez mais complexas das empresas. Formação básica e orientação comportamental são duas vertentes nas quais o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial tem apostado, com sucesso.

No Rio Grande do Norte, o diretor regional, Laumir Barrêto, explica: “Indiscutivelmente, a profissionalização e a capacitação estão muito em voga, são discutidas, comentadas. Agora existem questões que são as de postura, comportamentais, que vão além da técnica. A técnica é fundamental, imprescindível, mas empresários estão buscando nos profissionais uma identidade com a empresa e seus princípios, seus valores. Buscam comprometimento, dedicação, postura em relação à organização.”
Alunos dos cursos do Senac, como o de estética, além de aulas práticas recebem orientações complementares
Laumir Barrêto admite que disseminar nas pessoas noções de ética não é algo simples, porém considera que é possível trabalhar a conscientização sobre a necessidade da presença de valores positivos, na carreira profissional de cada um. “Alertamos para esses aspectos. A gente aqui trabalha também a formação do cidadão, mas você não forma um cidadão em 20, 40, 100 horas de aula. Ele é formado durante toda a vida”, destaca.

E essa formação ainda está longe do ideal exigido pelo mercado. Questões familiares muitas vezes atrapalham o futuro profissional na busca pelos valores positivos exigidos pelas empresas. “Às vezes nos deparamos com um aluno cujo pai é alcoólatra, cuja família é desregrada. Às vezes o próprio aluno está em situação de risco, ou envolvido com drogas. A gente tenta trabalhar a educação profissional como uma nova perspectiva de vida, mostrando a ele que o futuro profissional pode levar a outro caminho, promissor. Ao contrário das drogas e da marginalidade, que só levarão à morte”, afirma o diretor regional.

Disciplinas específicas e até mesmo as disciplinas técnicas passaram a agregar conteúdos que trabalham o “lado humano” dos alunos e como eles devem se comportar diante do mercado de trabalho. “Alguns que trabalham com ‘suposta educação profissional’ colocam que isso é embromação, enrolação. Para a gente é uma necessidade. Precisamos trabalhar um profissional não só no aspecto técnico, mas também no comportamental”, justifica.

Laumir Barrêto lembra que se o candidato a um emprego não possui boa capacidade de trabalhar em grupo, já saí muito atrás na disputa por uma vaga. “As empresas, em seu processo de recrutamento e seleção de pessoal, analisam primeiro a questão curricular, para ver se a pessoa preenche os requisitos mínimos, mas também aplicam dinâmicas de grupo e testes com psicólogos, para avaliar o comportamento do candidato ao emprego.”

Nos cursos do Senac são dadas dicas de como se portar em entrevistas de emprego e até de elaboração de currículos. Saber exercer liderança e ter capacidade de reagir positivamente às pressões são outros diferenciais. “Quem é o vendedor que não se depara com o cliente que se altera, se exacerba? Quantos não são os que, tendo suas metas de venda, são pressionados por supervisores e isso acaba influindo negativamente nos desempenhos?”, questiona.

Falta de formação básica é obstáculo

Como se pode preparar alguém para ser vendedor, com técnicas de negociação e de comunicação, sem que ele saiba utilizar minimamente a língua portuguesa? Ou mesmo, como treinar um aluno em matemática financeira, para calcular juros, taxas e percentuais, se não consegue fazer operações básicas como somar e diminuir? Diante dessas questões o Senac tinha duas opções: aguardar a melhoria do ensino básico no Brasil, ou tentar minimizar o problema em seus próprios cursos. Optou pela segunda.

“A educação profissional, na verdade, vem a se somar à educação básica. E aí a gente encontra o primeiro grande problema, que é o baixo nível da educação básica, fundamental, que é propiciada às pessoas no país. Não é incomum nos depararmos, em sala de aula, com pessoas que buscam se qualificar para o mercado de trabalho, mas não têm noções básicas de interpretação de texto, ou apresentam dificuldade de fazer as quatro operações matemáticas”, lamenta Laumir Barrêto.

O diretor regional aponta que o Senac termina por oferecer um pouco dessa formação, no início de alguns de seus cursos, para tentar minimizar os efeitos da carência educacional dos estudantes. “Incorporamos algumas disciplinas complementares, até para preencher as lacunas e permitir que os estudantes avancem”, explica. Ele ressalta que nem todos os alunos apresentam esse tipo de carência, mas seria imprudente desconsiderar o grande número dos que não possuem a formação básica necessária. “Por isso damos um reforço, uma espécie de reciclada, através de disciplinas complementares”, esclarece.

Senac pesquisa demandas do mercado

Durante todo o ano de 2010, equipes do Senac irão a campo, para buscar informações sobre as reais demandas do mercado de trabalho. “Precisamos saber qual profissional vem sendo exigido, pois um grande desafio da educação profissionalizante é formar o profissional que o mercado está almejando”, destaca Laumir Barrêto. A última série de pesquisas ocorreu em 2008 e a deste ano deve resultar em mudanças nos conteúdos dos cursos, para se adaptarem às novas demandas.

Atualmente, a empregabilidade dos alunos do Senac gira em torno dos 70%. A intenção é alcançar os 80% até o ano de 2011. “Estamos modernizando os ambientes pedagógicos e reforçando a sintonia com o mercado, para ver quais são as reais necessidades. Estamos montando um banco de oportunidades, para fazer a ponte do aluno com o mercado, através do cadastramento prévio de empresas e encaminhamento dos alunos, sem custo absolutamente nenhum para eles”, indica.

O Senac do Rio Grande do Norte atua em seis grandes áreas: comércio e gestão; informática; idiomas; turismo e hospitalidade; imagem pessoal; e saúde. Um dos diferenciais dos cursos é o fato de aliarem teoria e prática. “Não trabalhamos só com sala de aula, incentivamos a aplicação daquele aprendizado. Os vendedores têm simulações de venda, de negociações. No turismo e hospitalidade, o Senac tem o Hotel-Escola Barreira Roxa, onde se trabalha fortemente a prática”, exemplifica.  

No Barreira Roxa, os alunos recebem as aulas, passam pelos laboratórios, que são as cozinhas pedagógicas. e no último momento vivenciam suas atividades, em ambiente real de trabalho, atuando no próprio hotel.

Muito além do “good night”

As exigências do mercado de trabalho se ampliaram, para demandas como um bom comportamento e a capacidade de liderança, mas também se aprofundaram em quesitos que antes eram considerados diferenciais, nos currículos dos candidatos a um emprego. Conhecimento básico de informática, por exemplo, há tempos não é destaque para ninguém. Hoje se tornou necessidade imprescindível, diante da adoção de sistemas informatizados que têm de ser operados nas mais diferentes ocupações.

“Quantos estabelecimentos já não trabalham com sistemas informatizados de vendas. E a questão do idioma, que antes era exigência apenas para cargos altos de gestão, hoje é básico para algumas atividades, como o recepcionista de hotel, o garçom”, cita Laumir Barrêto. Por tudo isso, o conhecimento técnico, mesmo não sendo mais a única exigência, continua sendo de suma importância para o sucesso profissional.

As empresas, lembra o diretor, esperam receber um candidado tecnicamente habilitado a ocupar o posto de trabalho imediatamente, ou ao menos preparado para se qualificar dentro das exigências da organização. “Muitas até preferem contratar o aluno que vem com uma base e só depois o treinam para atuar dentro dos valores e do modelo de gestão da empresa”, acrescenta. No Senac, há três opções de cursos: os de aperfeiçoamento, alguns com apenas 20 horas e duração de uma semana; os de capacitação, que duram meses e podem chegar a 800 horas de aula; e os técnicos, com até 1.800 horas, em dois anos.

Ao todo, são mais de 300 opções, distribuídas em 10 unidades de seis municípios, reunindo em média 6 mil alunos ao mesmo tempo. Fora os cursos oferecidos ao mercado, há outros moldados à necessidade das empresas. O Senac vem estruturado uma área de atendimento corporativo, responsável por trabalhar a oferta, diretamente em decorrência da demanda. Uma equipe vai até a empresa interessada em qualificar seus funcionários, avalia as carências e prepara um conteúdo adaptado às necessidades específicas. “Hoje  as empresas já têm em sua política de gestão a educação corporativa como uma forma de investir na valorização do trabalhador. Salário tem importância, mas a valorização, os benefícios dados, são as verdadeiras razões de retenção”, avalia Laumir.

Histórico

O Senac foi criado em 10 de janeiro de 1946 pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), por meio do decreto-lei 8.621. A partir do ano seguinte, passou a desenvolver um trabalho até então inovador no país: oferecer, em larga escala, educação profissional destinada à formação e preparação de trabalhadores para o comércio. O Senac promoveu, ainda na década de 1940, o ensino a distância, mais notadamente com os cursos da Universidade do Ar. Entre as inovações promovidas pelo Senac na educação profissional também se destacam as empresas pedagógicas (ou empresas-escola, como o Hotel-Escola Barreira Roxa), a partir da década de 1960.

Na década de 1990, a informação e a produção de novos conhecimentos ganharam destaque na agenda das ações do Senac. A Instituição passou a produzir livros, vídeos e softwares, voltados para suas áreas de atuação. Nesse período, também foi criada a TV Senac (posteriormente Rede Sesc-Senac de Televisão e, hoje, Sesc TV), com uma programação voltada para assuntos de cultura e lazer. Outro uso da mídia foi a criação do programa radiofônico Espaço Senac, que, desde 2002, foi ampliado para o programa Sintonia Sesc-Senac, transmitido, hoje, por mais de 850 emissoras no Brasil.

O ensino a distância (EAD) também recebeu impulso na década de 1990, com a criação de um centro nacional específico, com o objetivo de ampliar a diversificar a programação do Senac nesse tipo de ensino. Como resultado desse empenho em EAD, o Ministério da Educação, em 2004, concedeu um credenciamento especial para o Senac oferecer cursos de pós-graduação lato sensu (especializações) a distância. Para atender essa demanda, foi criada a Rede Pós-EAD Senac.

Em pouco mais de seis décadas de atividades, o Senac atingiu mais de 49 milhões de atendimentos em todo o país.

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