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Tradução vanguarda (1)

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As produções poéticas de Luís da Câmara Cascudo aconteceram entre o final dos anos de 1920 e início dos anos de 1930, sempre vinculadas ao espaço e ao tempo da modernidade literária do século XX. Mas a sua relação com o gênero da poesia e o tema da modernidade permanece ainda ao longo dos conturbados anos de 1940, como se percebe pelo seu interesse na tradução de três poemas do norte-americano Walt Whitman (1819-1892), poeta de voltagem poética referenciada inclusive pelas vanguardas históricas. Os poemas traduzidos foram publicados no jornal natalense A República, nos dias de 18, 24 e 25 de abril de 1945, respectivamente.

A incursão em textos whitmanianos que decodificavam aspectos desencadeadores da modernidade literária resultaria na opção de tradução de três poemas: “I Hear American Singer” (“Eu Ouço a América Cantando”), “The Base Off All Metaphysics”(“A Base de Toda a Metafísica”) e “For you, Democracy” (“Para Você, Democracia”). O primeiro poema recebeu versão cantada por José Celso Martinez Corrêa e composição musical de Cid Campos, filho do poeta concretista Augusto de Campos, no CD Brouhaha, lançado através do Projeto Nação Potiguar. Eis as traduções elaboradas e discorridas por Câmara Cascudo tendo a fonte “Três Poemas de Walt Whitman. Cascudo, Luís da Cãmara. Recife: Imprensa Oficial, Coleção Concórdia,1957 e Htpp://WWW.cascudo.org.br.biblioteca/obra/decascudo/poesia/?p=2”

I HEAR AMERICA SINGING
Eu ouço a América cantar!
Ouço os variados cantos,
Os dos mecânicos, cada um cantando como se fosse jovial e forte!
O carpinteiro cantando e medindo vigas e pranchas!
O marceneiro começando ou findando sua tarefa, e cantando.
O barqueiro cantando o que lhe pertence no barco, o estivador cantando
Na coberta das barcas!…
O sapateiro cantando, sentado no seu banco, e o chapeleiro, cantando de pé.
A cantiga do lenhador, a do lavrador no seu caminho matinal!
Na pausa do meio-dia ou ao entardecer…
A deliciosa canção das mães, ou das moças trabalhando, os das meninas,
Costurando ou lavando…
Cada um cantando o que é seu, o que é alheio ou de ninguém!
O dia pertence ao dia – À noite a reunião dos jovens companheiros,
Fortes, afetuosamente.
Cantando a plenos pulmões sua ardente canção melodiosa!

THE BASE OF ALL METAPHYSICS
E agora, senhores,
Eu deixo uma palavra para conservardes na memória e no pensamento,
Como fundamento e base de todas as metafísicas.
(Assim é para os estudantes o velho professor, encerrando o rigoroso curso)
Tendo estudado os novos e velhos sistemas gregos e germânicos.
Estudando e examinando Kant, Schelling e Hegel,
Estudando a ciência de Platão e de Sócrates, maior que Platão;
E mais que Sócrates pesquisou e fixou, longamente estudou o Cristo Divino.
Vejo hoje as lembranças dos sistemas gregos e germânicos,
Vejo todas as filosofias, vejo Igrejas Cristãs e dogmas,
Ainda abaixo de Sócrates vejo claramente, e abaixo do divino Cristo vejo
O devotamento do Homem pelo seu Companheiro, atração do amigo pelo amigo.
Do fiel marido pela esposa, dos filhos pelos pais,
Da cidade pela cidade, da terra pela terra!

FOR YOU, O DEMOCRACY
Venham! Farei o Continente indissolúvel,
Farei a mais esplêndida raça que o sol já alumiou!
Farei as terras divinas e magnéticas,
Com o amor dos companheiros,
Com o permanente amor dos companheiros!
Plantarei a fraternidade como árvores ao longo dos rios d’América!
Ao longo das praias dos grandes lagos, e sobre todas as campinas!
Farei as Cidades inseparáveis, com seus braços enlaçados!
Com o amor dos companheiros!
Com o nobre amor dos companheiros!
Por ti! Para servir-te, tudo isto vem de mim, ó Democracia!
Ó minha esposa!
Por ti, por ti eu canto esta canção!…

O aceno pioneiro aos poemas traduzidos teria como perspectiva uma leitura universalizada e cosmopolita intencionada numa difusão local, lançada que fora inicialmente em periódico natalense, de circulação relativamente restrita. Doze anos depois, a tradução seria publicada em Recife, na Imprensa Oficial de Pernambuco (1957), numa plaquete trazendo uma edição com caráter livresco acompanhada de introdução autoral. Essa demanda acontece após a produção da chamada segunda fase modernista compreendida nos anos de 1930.

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