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“Tenho certeza que o Brasil vai dar conta”

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Vicente Estevam – Repórter de Esportes

Com 32 anos dedicados ao basquete e o sangue verde e amarelo correndo nas veias, Oscar Schmidt que imortalizou a camisa 14 no basquete brasileiro, deu uma rápida passagem por Natal nesta semana, mas apesar dos compromissos e do horário apertado, encontrou tempo para falar com a reportagem da TRIBUNA DO NORTE sobre aquilo que mais gosta: o basquete. Sempre cordial e gentil ele aproveitou o trajeto entre o aeroporto e a sede da Ecocil (onde deu uma palestra motivacional aos funcionários) para conceder essa entrevista, onde critica os jogadores que esnobam as convocações para seleção brasileira e defende o corte permanente daqueles que se recusam a defender o país numa competição internacional. Assim como boa parte da população, também está vibrando com a possibilidade do país sediar os dois maiores eventos esportivos do planeta e acredita que o fato de sediar uma Olimpíada vai fazer o Brasil dar um salto de qualidade na área esportiva, porém não acredita que o mesmo será suficiente para nos transformar numa potência olímpica. Acompanhem agora a opinião sincera desse monstro sagrado das quadras e que continua sendo um verdadeiro craque fora delas.

Em entrevista à TN, Oscar Schmidt critica os jogadores que esnobam as convocações para seleção brasileira e defende o corte permanente daqueles que se recusam a defender o país numa competição internacionalVocê está animado com o projeto brasileiro para Olimpíada?

Olimpíada é um sonho em nosso país, qual o atleta que nunca sonhou disputar os Jogos Olímpicos no Brasil? Eu fui um que sonhei muito e nunca tive essa possibilidade, infelizmente.

Acredita no sucesso dos Jogos no país?

É claro que ainda há muita coisa para ser cumprida, muita coisa mesmo, mas tenho certeza que o Brasil vai dar conta. Outros países inferiores economicamente ao nosso país deram e nós também temos essa condição. Estou orgulhoso, na verdade honrado, pelo Brasil não só poder sediar a Olimpíada quanto a Copa do Mundo. Espero apenas que tudo seja realizado com bastante transparência.

Pode-se acreditar que o país vai se transformar numa potencia Olímpica após a realização dos Jogos de 2016?

Agente vai estar bem para disputar a Olimpíada, pois tem muito tempo para preparação e vejo muita movimentação para criar talentos. Porém, acredito que a única forma mesmo que nós temos para nos tornar uma potência esportiva é através do desporto escolar. Enquanto não organizarmos essa área será difícil, deixar a formação de atletas restrita apenas aos clubes é complicado, os nossos clubes são muito elitistas. Nós perdemos talentos todos os dias, meninos fortes, altos, com potencial de se transformarem em atletas que estão largados no meio de um bairro pobre, sem a mínima condição de fazer esporte. Acredito apenas que a Olimpíada será um empurrão grande, mas não o suficiente para fazer o Brasil se transformar numa potência esportiva.

E com relação ao Basquete, ele está evoluindo no país?

Estou muito otimista e acredito muito que nossa seleção vai se classificar para os Jogos de Londres, no pré-olímpico que será realizado na Argentina. O Brasil está a caminho de ter novamente uma boa organização no basquete, o poder da Confederação Brasileira mudou de mãos e esse novo presidente — apesar de ter feito parte da administração passada como vice durante onze anos e ter participado também dessa queda de rendimento do nosso basquete, dessa briga constante com clubes e atletas — temos de ressaltar que o Carlos Nunes implantou novas ideias e quer fazer muita coisa.

Qual foi o maior benefício que o novo presidente trouxe?

Considero que foi a alteração do Estatuto da Confederação Brasileira de Basquete. Se vocês não sabem a nossa federação a partir de agora é a única que permite ao presidente apenas uma eleição, ou seja, não permite mais reeleição. Além disso, ele oficializou a liga profissional, uma coisa pela qual a gente brigou muito. Ele colocou a Hortência e o Vanderlei para tomarem conta das seleções, então considero que está no caminho certo. A CBB também firmou convênio com uma cidade do interior de São Paulo para servir como sede da seleção brasileira, mas ainda não é o ideal, certo mesmo será construir uma instalação própria como ocorre com o vôlei e o futebol.

E o que estaria faltando para o país voltar a se destacar?

A única coisa que falta, infelizmente, é a vontade todos os atletas jogarem pela seleção brasileira. Alguns são super abnegados como Alex, como Marcelinho, como o Tiago Spliter sobre tudo; mas outros parecem que não querem mais saber da seleção brasileira, ou não conseguem se impor no seu clube para dizer que vai jogar na seleção como o Nenê e como o Leandrinho, como o próprio Anderson antes, porque agora ele jogaria como o fez no ano passado. Essa é a única coisa que na minha visão está faltando, porque todo o resto está caminhando para melhor.

O Brasil deve enfrentar muita dificuldade para obter a vaga olímpica?

Neste pré-olímpico nós teremos muita chance porque vai ser um torneio de um jogo só, praticamente. Apesar de ter a Argentina, que está um patamar acima de todos os demais, não vejo outra equipe superior ao Brasil. Vejo Porto Rico forte tanto quanto o nosso time e o Brasil vai jogar a semifinal que é aquele jogo que classifica ou não. Se jogar contra a Argentina, que friso, é melhor que o Brasil, mas não tão melhor assim, será complicado, mas não uma partida impossível de vencer. Mas provavelmente iremos ter como adversário qualquer outra seleção das Américas, que não estão melhores que nós. Campeonato de um jogo só nos dá muita chance, mas do que as competições com turno corrido se classificando apenas os dois primeiros. Desse jeito acredito que seria mais complicado. Eu estou otimista.

O argentino no comando da seleção, o que pensa disso. Na sua época talvez fosse uma situação impossível de ocorrer?

Apesar de ele ser argentino trata-se de uma excelente pessoa e um excelente treinador. Magnano possui um currículo excelente com título de campeão olímpico e outro de vice-campeão mundial com a Argentina. Além disso, está fazendo um excelente trabalho com a nossa seleção, zela pelo treinamento, que é a base para prática de qualquer esporte. Para mim é à base da vida, pois acredito que devemos buscar aperfeiçoar sempre aquilo que sabemos e gostamos de fazer. Sou daqueles que gosto do feijão com arroz, ele bem feito torna-se a maior qualidade dos grandes atletas. Quando todos os nossos atletas se conscientizarem de que a seleção brasileira é a coisa mais importante da vida deles, nós voltaremos a viver bons momentos no basquete.

Esse fato de jogadores estarem se recusando a jogar na seleção nunca deve ter passado pela sua cabeça, e na sua geração era difícil ocorrer um problema desse tipo, não é?

Não, não pensava mesmo. Em épocas passadas — inclusive de alguns desses mesmos jogadores que estão ai — jogar pela seleção brasileira era um sonho. Por que além de se mostrar para mundo, era uma maneira de nós enfrentarmos os demais países. Quem gostava muito do Brasil, como é o meu caso e o de muitos outros companheiros do passado, tinha um orgulho enorme disso. Muitas vezes as pessoas não dão conta de que na realidade estão representando 190 milhões de pessoas.

E o que representava todo esse contexto para você?

Seleção brasileira não é brincadeira, não, ela é a representatividade daquele esporte contra o mundo. A pessoa deve se mostrar orgulhosa por ter sido convocada e se fazer presente, isso é como ser um soldado a serviço do nosso país. Graças a Deus somos um país pacífico e essa é a nossa única forma de guerrear contra ostras nações. Eu como sou filho de militar, aliás, meu pai serviu aqui em Natal e com muito orgulho vivi minha infância toda aqui, até completar 13 anos, eu sempre fui patriota e tive orgulho de defender as cores do meu país. Me machuca muito quando vejo o Brasil precisando muito de alguns jogadores e eles, por motivos não tão significantes assim, declinam da convocação.

O Oscar é favorável que a seleção abra mão desse tipo de atleta ou acha que deve insistir com eles?

Pelo meu jeito de ser, não consigo ser político. Tanto que tentei me eleger senador por São Paulo e Graças a Deus perdi a eleição. Eu não conseguo ser político, para mim é branco ou preto, o cinza é uma cor muito feia no meu modo de entender. Pessoa que não tem posição, não sabe o que quer é melhor não ser chamado. Não chama mais e pronto! Está cheio de moleque atrás de uma oportunidade como essa. É melhor a gente perder com honra, que perder com uns caras que não têm a menor vontade de jogar pela seleção. Em minha opinião não era para chamar mais, porém, infelizmente, a seleção atual com o Nenê e com o Leandrinho tem outro porte, é uma seleção melhor. Essa é a pena do negócio. Eles não indo para competição mais importante do basquete: o pré-olímpico, estão prejudicando o Brasil, estão prejudicando o basquete brasileiro. Não tem outro para substituir, pois com o Nenê em quadra teríamos uma fotografia mais bonita da seleção, infelizmente ele pediu dispensa.

Mas você acredita que esse “banimento” pode mesmo ocorrer?

Como disse eu não chamaria, mas não tem outro e vão acabar chamando. Eu não concordo com isso, prefiro pessoas que tomam uma posição e seguem em frente com ela.

O hiato de conquistas com a seleção brasileira pode ser creditado ao quê?

Isso é relativo, particularmente acredito que o vôlei acabou retirando muitos talentos do basquete. A modalidade obteve muitos resultados significativos nas últimas décadas e muitos meninos optaram por jogar vôlei ao invés do basquete. O esporte é mais fácil de aprender e atualmente as pessoas podem ter um sucesso muito maior lá, que jogando basquete no Brasil. Embora o basquete seja muito importante que o vôlei  no mundo, no Brasil essa relação é o inverso e não podemos nem culpar a nossa molecada pela opção. Frente aos resultados da seleção comandada por Bernardinho, que são os melhores que uma seleção nacional obteve em esporte coletivo é um marketing pesado. Aliado a isso vem o ciclo mesmo de revelação de bons atletas, hoje aparecem vários fenômenos e amanhã fica difícil arranjar um, porém nada de anormal, faz parte do jogo.

Tive conversando com Gerson, companheiro seu de seleção, e ele disse que você poderia usar mais sua imagem para ajudar no desenvolvimento do Basquete. O que acha disso?

Ô Gersão, você está esquecido, meu grande amigo Gerson! Essa liga que está ai começou comigo. Comigo, com a Hortência, com a Paula e mais alguns abnegados. Nós brigamos na Justiça Comum contra a CBB, nós tiramos o presidente da confederação um dia de lá. Não dá para brigar mais, você quer que eu brigue aonde? Onde você quer que eu brigue? Eu gostaria de ver muito mais gente engajada e brigando como nós para ter uma liga independente. Criticar o basquete de forma construtiva para que os nossos jogadores não deixem de atuar pela seleção, para que nós tenhamos uma melhor preparação. Agora não dá, não posso fazer mais que isso, participei de uma fase decisiva do esporte e tenho um orgulho danado disso. Inclusive no ano em que enfrentei tudo e organizamos a liga, o nosso campeonato não acabou, não teve campeão. O que se pode achar disso? Imagina você patrocinar um time num capeonato que não acabou. Acho que o Gerson precisa lembrar mais dos fatos.

Esta faltando mais engajamento da “velha guarda” nessa luta para melhorar o esporte?

Eu entendo muito bem que muitos estão numa situação que não podem nem brigar, pois precisam garantir empregos como técnicos, precisam de alguma coisa do basquete. Não foi o meu caso, graças a Deus eu podia brigar e briguei na Justiça, não de boca apenas como fiz também pela imprensa. O problema é que como tudo no Brasil, de bom ou de ruim, as pessoas se esquecem, mas quem teve lá no meio não esquece e eu tenho um orgulho danado de ter brigado como nenhum outro jogador tenha brigado antes. Agora tudo isso foi sem cargo, hein! Simplesmente com a minha cara, disso eu tenho um orgulho danado.

A política nacional de incentivo ao esporte é boa?

Ela está acanhada ainda, poderia ser bem maior. Mas só que hoje existe uma bolsa atleta que gostaria de ter tido ela, imagina o governo te dando dinheiro para treinar, já é um passo adiante. Mas falta muito ainda.

A chegada dos patrocinadores ajudou ou atrapalhou o Basquete, já que hoje vemos jogadores esnobar a seleção?

Ajudou, na minha época de jogador existia na camisa apenas o nome da equipe: Sírio, mais nada, Brasil, mais nada! Era uma coisa muito mais complicada, época amadora mesmo, que agente precisava sair do Brasil para ganhar algum dinheiro como atleta. Hoje não, tudo no esporte é profissional e um clube precisa do patrocínio. Também temos jogadores que vivem muito bem e que fazem o pé-de-meia dentro do próprio Brasil, coisa impensável há pouco tempo atrás. O patrocínio ajudou e vai ajudar sempre, pois estamos numa sociedade onde o dinheiro ainda é responsável pela qualidade.

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