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Europa 1966 – II

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Marco Emerenciano
Presidente da ACLA e sócio do IHGRN.

O relato de Aécio na primeira parte da sua crônica “Europa Noturna” (1966), cita versos do pernambucano Manoel Bandeira e identifica digitais de Napoleão, François Rude, André Le Nôtre, Jean-Paul Sartre, François Mansart, Charles Garnier, Marc Chagal, Jean-Baptiste Carpeaux, somente por referir-se a alguns. Na segunda parte, que transcrevo a continuação, ainda registros de Paris, Londres, Roma, Madri…


“Descer o Sena nos Bateaux Mouches, ordenar ao maitre champagne no início e no fim do jantar, e algo além do patê que vá com os Bordeaux, para ficar deliciando-se com as margens do rio e o farol indiscreto revelando os casais amorosos. E o Bateaux desce; a ilha de La Cité, coração da Paris, de onde nasceu a cidade. Notre Dame, que de longe iluminada nos chama atenção suas colunas e sua forma gótica, suas rosáceas e seus vitrais. Logo depois, o Palácio do Louvre, antiga residência dos Reis da França e hoje um dos mais ricos Museus do Mundo. E as pontes que sob elas passamos; Austerlitz, D’Artes, La Concorde, Neuf-Sully, Royaile, Alexandre III, essa a mais imponente para perder uma nota jantando por lá. A a colina Montmartre, a única parte acidentada da cidade, com suas praças e cafés frequentadas pelos artistas que lá pintam, expõem e vendem os seus trabalhos, e admirar a Basílica de Sacre Couer, e provar o vinho de la Maison de la Boemie, lugar onde sempre frequentávamos.

Conhecer os espetáculos de stripe-tease onde no Crazy Horse Saloon se vê o melhor. Participar dos ritmos novos dos New Jim’s onde a turma manda uma brasa legal. Frequentar nos fins das noites, as ruas de Paris, os restaurantes e cafés próximos aos mercados no bairro de Les Halles onde você poderá tomar a saborosa sopa de cebola e observar os tipos humanos nos comportamentos mais variados. A beleza e a alegria do bailado das flores, frutas e legumes a caminho do mercado. Aves, peixes e animais para alimentar a ganância dos homens. Tudo isto desfila a sua frente, num fim de noite nas costas do homem do povo. E ficávamos com o nosso copo preso às interrogações da humanidade. Dançar nos bailes populares do 14 de julho, na Bastilha, Hotel De Ville e la Concorde, com a cidade toda em festa. É a data nacional mesmo. E o dia chegando…

Fomos a Londres. Mulheres frias e cerveja quente. O Picadilly Circus oferece uma noite longe da fleuma. A Índia se faz presente em Londres como o continente negro em Paris. As mini saias, os biquínis, os inconformados, os desajustados, os artistas e os turistas, tudo isto a olhar e se olharem no centro de Londres. Um jantar, no Savoy, com um show de bom gosto, e o Brasil sendo exaltado através da garota de Ipanema.

Passear a noite pela cidade, no primeiro andar de um ônibus vermelho, que nos mostra a coluna de Nelson, em Trafalgar Square, o Parlamento e a Torre de Londres, nas margens do Tâmisa, o Palácio de Buckinham, o Green Park e Hyde Park. Uma hora da manhã, um foguinho bom é nosso companheiro, todo mundo de pé, a orquestra toca o hino da Rainha e acabou-se o que era doce. Até os copos desaparecem. É um Deus nos acuda. Fecha tudo. Em Park Lane, vizinho ao Hilton, existe um Club frequentado pela elite da Europa. O Playboy de Londres. Foi o único lugar que entrei com cara de otário satisfeito. E vi noites negras com o Brasil perdendo sua coroa de Futebol. E o dia chegando…

Fui a Roma e não vi o Papa. A temperatura nos conduzia às fontes, belas, majestosas, iluminadas e cristalinas, estavam a acolher a multidão que jogava pedidos, esperanças e desejos em moedas. No início da Via Nacional, na Praça da República, a mais imponente. A mais procurada, a Fontana Di Trevi. Jantar no Alfredo e bebericar na via Veneto, descendo e subindo as suas calçadas, vendo os Paparazzis e curiosos sedentos de acontecimentos e aventuras. Ver os espetáculos de luz e som, o Fórum Romano, a grandeza do Coliseu que você circulará numa charrete extasiado, sentindo a audácia arquitetônica da época. Chegar ao Vaticano pela Conciliação, depois de ter passado na Via del Corso e sentir a grandeza dos monumentos à Vittorio Emanuele.

Em Madri, você aguçará seu apetite notívago, nos cafés da Gran Vía José António, para depois conhecer os Flamengos em La Riviera e El Pavillón, Plaza de España, vizinho a Torre de Madri. No 26º andar descortina-se da borda de uma piscina, uma noite quente, toda a cidade, e olha-se ao sul, sentindo-se a grandeza do El Escorial. E o dia chegando.

Cada vez que afastava, sentia o corvo de Poe. Nunca mais. E entrava em luta com ele. As noites que eu vi nascer, tentavam a viver sempre com elas, descendo de Sorrento, chegando a Pompeia vendo o sol ir-se por trás do Vezúvio, ou do alto de Montmartre o dia sumindo e o sol vazando as treliças da Torre Eifel. Mas o que me dava alegria era saber que aqui me esperava o verso de Joaquim Cardozo: “Viva o Verão que vai chegar e os cajueiros que vão florir”.

A viagem de Aécio Emerenciano durou quarenta e cinco dias entre Paris, Londres, Turim, Roma, Madri…, naquela primavera verão de 1966. Festejou 31 anos de idade por lá. O passaporte carimbado na imigração de alguns países, guardei. A rota do voo de retorno cruzou o atlântico para ver Nova York, onde deu um bordo e jogou “agua na vela” para chegar ao aeroporto Augusto Severo, de Parnamirim. De lá, direto ao Ceará Mirim. A impressão sobre Nova York fica para a próxima.

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