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Babilônia

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Refletores – Valério Andrade
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Como tudo pode acontecer em novelas, ou até não acontecer, é prematuro fazer uma previsão sobre a sucessora de “Império”. Pode-se, porém, já saber o que está funcionando (ou não estar) em alguns núcleos e quais as personagens que são mais – ou menos – convincentes.

Pode-se ainda prever que Babilônia não será um desastre como “Salve  Jorge” e que não deverá cair na areia movediça que levava “Em Família” a uma circular monotonia.

A confirmação
Podia-se antever através das (ótimas) chamadas que Beatriz, a vilã número 1, iria possibilitar a Glória Pires brilhar como atriz e mulher. E é o que está acontecendo.

Bonitona, carnalmente sedutora, ambiciosa e friamente calculista, Beatriz renasceu 30 anos depois para ser uma sucessora da sempre lembrada Maria de Fátima de “Vale Tudo”, marco novelístico de Glória Pires e Gilberto Braga. Mas sua matriz é fílmica: pertence a inesquecível galeria das vilãs do cinema americano noir dos anos 40.

Pelo alto nível de interpretação, assim como pela perfeita identificação física existente entre a atriz e a personagem, Glória Pires está tendo atuação comparável as melhores da grande Joan Crawford.

O desafio
Se Glória Pires (como disse) perdia o sono na ânsia de encontrar o tom certo para a interpretação, é fácil imaginar a tensão emocional e a pressão psicológica de Adriana Esteves. Não apenas por saber que iria duelar com uma Glória Pires esculpida em ouro por Gilberto Braga, mas por causa da inevitável comparação que o telespectador e a imprensa fariam com o consagrador desempenho em “Avenida Brasil”.

Outro problema. Se Carminha era o foco central da trama, a tal ponto que fazia o público (e até os colunistas) esquecerem o excelente desempenho de Debora Falabella, a mesma situação poderia agora, ocorrer com ela.

Ainda, outro problema: a começar pela diferenciação entre Carminha & Inês, ela não poderia, sem cair na repetição, recorporificar a personagem que lhe deu o maior dos seus desempenhos.

A nova vilã
Pobre, revoltada pessoal e socialmente desde a adolescência, Inês sempre sofreu com a beleza e a popularidade de Beatriz junto à rapaziada do Leme. Com o tempo, diante da vertiginosa ascensão da amiga, acompanhada pela imprensa, o despeito viraria ódio.

Enquanto Beatriz casou com português rico, Inês casou-se com um engenheiro, mais pobre do que abastado, e, como se não bastasse, honesto e desambicioso. Confinada em modesto apartamento do Leme, alvo das balas dos bandidos do morro da Babilônia, Inês soma à pobreza a infelicidade matrimonial.

A mudança
As duas personagens, Beatriz e Inês, têm algo em comum. De volta ao Rio, depois da morte do marido, e de algo que fez (nos negócios) e deu errado, em Portugal, Beatriz precisava urgentemente dar outro golpe do baú. Para libertar-se das algemas da condição social e geográfica, Inês precisava da ajuda de Beatriz – que, como já sabemos, foi obtida através da velha chantagem sexual.

O desempenho
Por sua presença não ser tão impactante como em “Avenida Brasil”, é possível que a atuação de Adriana Esteves não seja reconhecida, na sua plenitude, como já está ocorrendo com a de Glória Pires. Entretanto, como prometia as chamadas, ela também está correspondendo à expectativa, em composição física e artística coerente com o perfil humano, social e psicológico de Inês. Não se espere, porém, encontrar uma nova e hipnótica Carminha – e, é exatamente a partir desse aparente paradoxo, que Adriana Esteves merece ser aplaudida.

Previsível
Tendo como base as chamadas, também não era difícil prever que a personagem (Regina) de Camila Pitanga não estaria à altura de Beatriz e Inês. Pela experiência de outras novelas, cujo clímax desastroso foi “Salve Jorge”, sabia-se que Regina estaria humana e socialmente tutelada pelos surrados clichês do que o esquerdismo stalinista rotulou de “politicamente correto”.

Além desse patrulhamento ideológico, levado às últimas consequências pelos comissários lulistas, ainda há, emoldurando a censura ideológica, o artificioso e colorizado enfoque social adotado pelas últimas novelas da Globo.

O desequilíbrio
E o que era previsível, está acontecendo, com a enorme diferença de que o núcleo estrelado por Camila Pitanga, em vez de ser positivo, como os de Glória Pires e Adriana Esteves, é negativo. Até agora, a parte ambientada no morro, ou nas barracas da praia do Leme, está saindo pior do que se esperava.

É ostensivamente agressivo o desnível artístico entre o núcleo favelado e os outros. O que se viu, e continua se vendo, é que o tripé sustentado pelas heroínas caiu. E o que era para ser um trio, virou uma dupla.

Regina e Camila
Não é toda atriz que consegue se salvar quando a personagem afunda, particularmente em novelas onde o tempo da exposição em cena amplia e multiplica o que está errado. Pela boca de Regina, Camila diz que por ser “negra” todo homem (branco, é claro) pensa que pode levá-la para a cama.

Chega a ser risível esse tipo de constatação social. Com a sempre louvada beleza da atriz, com a cor levemente achocolatada da pele, desfilando com shorts curtinhos, Regina é tão desejável como qualquer ricaça de Copacabana ou de Ipanema.
Ou seja: não foi por ser “negra” que Regina engravidou de um branco e está sendo cortejada por outro. Foi simplesmente por ser Camila Pitanga.

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