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O Palácio dos Esportes que persiste em meu imaginário

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Carlos Alberto dos Santos
Professor aposentado pelo Instituto de Física da UFRGS e professor Visitante da Ufersa

Tomei conhecimento do livro de Roberto Cabral por meio da bela crônica do professor Daladier Pessoa Cunha Lima (TN, 30/11/2023). Em 2014 escrevi o texto que dá título a esta crônica, mas, não sei por qual razão, não enviei para publicação na TN, nem n’O Jornal de Hoje, onde eu costumava publicar minhas crônicas. Embalado pela crônica do prof. Daladier, e pela completa aderência do texto ao espírito do livro que está para ser publicado, considero importante seu compartilhamento com os leitores da TN.


Como objeto de estudo, o Palácio dos Esportes, merecidamente rebatizado Ginásio Djalma Maranhão (GDM), pode ser visto sob diversos ângulos. Foi uma das grandes obras de uma política pública para a educação e o esporte, iniciada pelo saudoso prefeito Djalma Maranhão e interrompida pelo golpe militar de 1964. Alguns leitores desta crônica podem ter sido fruto de amores ali iniciados, sobretudo durante os jogos olímpicos estudantis, que nos anos 60 e 70 levavam milhares de jovens para a prática e apreciação de diversas modalidades esportivas e, lógica e naturalmente, para se iniciar na arte da sedução amorosa. Foi palco de eventos marcantes de natureza diversa da esportiva, como espetáculos musicais e os famosos festivais dos anos 70, mas foi, sobretudo, o palco para exibição de extraordinários atletas de basquete, voleibol e futebol de salão, naquele tempo em que ainda não existia a palavra futsal.


Nas imagens retrospectivas da minha memória, aparecem os clássicos do basquete, com Roberto Felinto, Eduardo Seabra, Quincas, Fabrício e tantos outros de sua geração. Não lembro se Eduardo Gaag era do basquete ou do vôlei, ou dos dois. Do voleibol só lembro mesmo de Jorge Moura. Não era um esporte que fazia minha cabeça nos anos 60-70. Agora, com o futebol de salão é diferente. Eu poderia escrever páginas e mais páginas sobre as fantásticas atuações de Washington e Edval, os dois melhores goleiros que vi jogar no GDM.

Acho que o primeiro jogava no Aeroclube e o segundo no América. Sempre me impressionaram os estilos elegantes dos centrais Bel (América) e Jucivaldo (ABC), a potência do chute de Bira (ABC), a obediência tática de Toinho Barbosa (América) e a extrema dedicação de Arturzinho ao América. Poderia também escrever sobre a genialidade de Cesimar, mas como falar do Palácio dos Esportes sem mencionar alguns dos eventos marcantes que ali presenciei?


Na Taça Brasil de Futsal de 1970, Natal conheceu um dos grandes craques de todos os tempos, Serginho, pivô do Palmeiras, que se sagrou campeão vencendo o América por 4×1. Lembrar Serginho me faz lembrar de Paulinho Montenegro, que também jogava uma bola redondinha. O craque palmeirense chamou a atenção por suas extraordinárias habilidades, e também porque de tempos em tempos tinha que sair da quadra para aspirar com a ajuda de uma bobinha. Era asmático, como Paulinho, mas este aguentava o jogo na raça, sem apelar para a bobinha. Curiosamente, o Palmeiras, com aquele timaço todo só ganhou essa Taça Brasil. Não sei se aquele time adotou outro nome por causa de patrocínios.


Nos anos 60-70, o futsal era praticado em todos os recantos de Natal, mas no campeonato da FNFS, realizado no Palácio dos Esportes, os times eram majoritariamente compostos de rapazes da classe média abastada.

Isso refletiu-se em uma seleção do RN para disputar o campeonato brasileiro de seleções estaduais. Nas Rocas havia um campeonato muito interessante, do qual participavam Lula e alguns outros residentes na Cidade Alta e Petrópolis. Tenho aqui na minha imagem virtual alguns deles, mas não consigo lembrar seus nomes. O fato é que irritados e liderados por Lula, eles resolveram desafiar a seleção do RN para um amistoso. Resultado: Seleção das Rocas 6 x 2 Seleção do RN.


Era assim, o campeonato da FNFS girava em torno do ABC, Aeroclube, América e Bola Preta, todos com rapazes da Cidade Alta, Petrópolis e Tirol. Um dia apareceu o Paladino, do Alecrim, que ameaçou um pouco, mas a grande surpresa, que talvez mereça um estudo de cunho sociológico, foi o surgimento de um time das Quintas. Chamava-se Santos e vestia um reluzente uniforme branco. Tinha um jogador extraordinário, chamado Miguel, se a memória não me falha, e causou arrepios na rapaziada do lado de cá. Tenho isso marcado na memória, mas não sei que fim levou aquilo tudo. Qual a classificação do Santos naquele campeonato? Exatamente de onde vieram aqueles rapazes, e para onde foram? Mistérios do Palácio dos Esportes.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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