Afórmula do suspense da dúvida foi levada às últimas conseqüências por Alfred Hitchcock em Suspeita. A dúvida era da esposa, Joan Fontaine, que suspeitava que o marido, Cary Grant, queria matá-la. Essa dúvida também era compartilhada pelo espectador, pois a câmera só revelava o que Joan Fontaine via, ouvia e deduzia. E, mesmo depois da ultima cena do filme, a dúvida permanecia.
A dupla dúvida
Em A Favorita o eixo central da trama é a dúvida em relação às duas personagens femininas centrais: Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar).Manter a duvida permanente em filme com menos de duas horas é completamente diferente de mantê-la em uma novela que ficará seis meses em cartaz.Sem dúvida,será um grande desafio para o autor principal de A Favorita,João Emanuel Carneiro.
As duas personagens
Personagem na opinião de Claudia Raia bipolar,Donatela nesses primeiros capítulos surge como vilã.Até a sua conduta familiar a torna antipática e revela um caráter egocêntrico e capaz de tudo para alcançar os seus objetivos.Foi pobre, ficou rica,através do casamento,e, talvez, tenha matado o primeiro marido.Por enquanto,pelo menos,Flora emerge aos olhos do público como vítima de uma armação que a tornou culpada de um crime que, talvez,não tenha cometido.Foi condenada a 18 anos de prisão,perdeu a guarda da única filha,Lara (Mariana Ximenes),que não a conhece e foi criada por Donatela.Ela pretende provar a inocência,sustentando, perante Irene (Glória Menezes),que foi Donatela quem matou o filho dela.
Suspeita confirmada
Flora ganha a confiança de Irene e faz com que ela descubra que Dodi (Murilo Benício), marido de Donatela, é um vigarista, e, pior ainda, está roubando dinheiro da firma do marido dela,Gonçalo (Mauro Mendonça). A conquista da confiança de Irene é fundamental para os planos de Flora, que, através da exsogra, chega a filha, Lara (Mariana Ximenes), e poderá desmascarar Donatela.
Escolha acertada
Flora e Donatela são duas grandes personagens e estão melhores ainda graças ao talento e carisma das interpretes. Injustiçada, sofrida, solitária,amedrontada, angustiada, Flora é introvertida.Patrícia Pillar ajustou-se com perfeição ao seu perfil humano, psicológico e social. Expansiva, exuberante, exageradamente emocional, tanto para o bem (o amor à filha de criação) como para o Mal (a implacável perseguição a Flora),Donatela ajustase igualmente ao estilo de Claudia Raia. Sua composição,porém, difere substancialmente da sua caracterização física e da erotização sofisticada de Sete Pecados.Donatela está exigindo mais da atriz e o papel também é mais difícil e não está amparado pela composição humorística.No duelo das interpretações, há um empate técnico: a diferença da atuação advém da personalidade das personagens.Ambas,porém, estão excelentes.
