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O que o coadjuvante faz pelo papel

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O cinema americano (do passado) tanto acertava na escolha dos protagonistas como na dos artistas secundários. Um coadjuvante, a despeito das limitações do papel, pode se destacar e alcançar à projeção dos atores principais. Isso também acontecia – e ainda acontece – no cinema brasileiro. Nas antigas chanchadas, por exemplo, a primeira imagem que vem a mente é a de José Lewgoy. O mesmo ocorre nas novelas. E está ocorrendo com Ary Fontoura como o Silveirinha de A Favorita. O que se vê não é um corpo, não é a beleza, não é a juventude. É a imagem do talento. É a vitória do talento. Pelo seu currículo, sabia-se que Ary Fontoura é capaz de fazer, mas, ainda assim, em A Favorita ele está se excedendo. É verdade que o personagem é bom. Silveirinha cresceu na história e adquiriu uma complexidade psicológica e uma ambigüidade inesperadas. Mas, para que esse crescimento se completasse e se corporificasse, era indispensável um ator com o talento de Ary Fontoura.

Outro exemplo

Ainda em A Favorita temos outro coadjuvante que está brilhando. É Mauro Mendonça, que também pode ser visto na reprise de Cabocla, onde, no papel de um coronel caipira e ladino, tem desempenho antológico. Em A Favorita, ao contrário de Cabocla, o papel dá menos margem do que o daquele coronel. O Gonçalo de A Favorita não conta ao seu favor com o escudo humorístico e está naquela faixa em que não desperta amor ou ódio. Ele está convencido de que Flora é culpada e que Donatella é inocente. Também crê, honestamente, que a esposa, Irene, é manipulada por Flora e que a cumplicidade dela com a suposta assassina do seu filho gerou a desagregação familiar. O desafio de Mauro Mendonça era fazer com que esse personagem que não é vilão nem herói, se tornasse uma presença marcante, e, principalmente, convincente. Gonçalo não possui a ambigüidade e a dissimulação de Silveirinha. É estático, e, psicologicamente, monolítico. Como homem de negócios e milionário, é pragmático, e, como um pequeno rei, usa o poder do dinheiro para proteger os súditos de seu reinado familiar.

É esse modo de agir e as características psicológicas que Mauro Mendonça passa quando entra em cena. E mais: não usa truque de interpretação para chamar a atenção do telespectador.

O vilão da moda

O que torna Romildo Rosa diferente de outros vilões não é, naturalmente, o fato de ser político e corrupto. É, apenas, o fato de ser negro. Ou seja: ele é um hiato no preconceito às avessas da ficção televisiva, onde só existem vilões brancos. É obvio que não é a cor da pele que determina o caráter das pessoas. Um dos méritos de A Favorita é a ousadia de haver se rebelado contra esse artificioso patrulhamento racial. 

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