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Isaac Ribeiro
repórter

A cena: casais amigos almoçam em um restaurante enquanto seus filhos pequenos circulam pelo salão fotografando outros clientes com o smartphone e postando nas redes sociais. Não é raro ver isso acontecer, pois é crescente o número de crianças e adolescentes com acesso à internet. Celulares inteligentes e tablets têm se tornado opção de presente de muitos pais para seus  rebentos. Mas, afinal, qual a idade mais adequada para presentear os guris com esses bibelôs eletrônicos?
Ao permitir que os filhos acessem à internet, pais devem ter consciência de que estão abrindo o mundo para eles dentro da própria casa, e isso tem os seus riscos
De acordo com a pesquisa TIC Domicílios, divulgada pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br) os celulares são a porta de entrada para a internet de 31% das pessoas. Ainda de acordo com o estudo, os jovens são os mais conectados, sendo que 75% deles têm entre 10 a 15 anos.

Assim como no mundo dito real,  o espaço virtual também está repleto de riscos, armadilhas e perigos. E crianças e adolescentes são presas fáceis.

Mas a verdade é que nessa aurora da era digital, as crianças despertaram de vez para o universo da tecnologia e seus gadgets.  

ASPECTOS PSICOLÓGICOS
Se notebooks, smartphones e tablets exercem fascínio em adultos, imagine em crianças e adolescentes… A psicóloga Vânia Calado, professora de Psicologia Escolar e Educacional, aponta aspectos negativos e positivos da relação dos mais jovens com esses equipamentos e, por consequência, com a internet. Ela é contra negar o acesso, impedir, desestimular, mas também não concorda com os exageros — tipo estimular absurdamente uma criança a ficar horas usando o celular da mãe ou então deixar seu filho de seis anos, por exemplo, com um aparelho conectado. É grande o risco de ele só querer isso como brinquedo, desinteressando-se por outras coisas.

“Ela vai viciar. Vai deixar de fazer atividades de casa, de conquistar amigos, de brincar, de se exercitar, de explorar outras coisas em função de uma tecnologia, seja ela um notebook,  um iPad, um celular. A parte da interação social é muito prejudicada”, analisa Vânia Calado.

Ela defende a moderação e a permissão ao acesso à rede em doses homeopáticas, com sessões de 15 a 20 minutos, aumentando esse tempo de forma progressiva.

Por outro lado, a psicóloga ressalta a inserção da criança em uma tecnologia “que veio para ficar” e que vai se desenvolver ainda mais. “É uma nova forma de linguagem, de aprendizagem, que você não pode privar a criança disso. Nem na vida pessoal dela, na família, nem na escola.”

Ela acredita que, se usada de forma correta, pode ajudar a desenvolver aspectos emocionais e cognitivos. “O uso do iPad, enfim, do computador, favorece o desenvolvimento da concentração nas crianças e nos adolescentes. Você tem queixas em escolas, consultórios particulares, de crianças que não param quietas. Mas na hora em que você dá um iPad, a criança fica paradinha, quietinha.”

Pais devem monitorar filhos na internet
Ter tempo disponível para monitorar o que o filho anda fazendo no mundo virtual é um aspecto muito importante na relação dos pais com suas crias conectadas. É o que aponta a psicóloga Jemima Morais Veras. Ela defende o monitoramento de crianças até a faixa dos 13 anos de idade. “É importante que os pais entendam que deixar seus filhos na internet é deixá-los ter acesso ao mundo, com tudo de bom e de ruim. Portanto devem estar juntos, orientando, apoiando e protegendo, como é feito no mundo real.” E isso não deve ser encarado como uma forma de punição, segundo ela, mas sim como uma forma de educar e cuidar. Cabe aos pais também ditar as regras. Quando não há um acompanhamento, vigília, abre-se um espaço para a vulnerabilidade, incertezas e perigos. “Também acho que os pais devem entender que a internet tem muitos aspectos positivos e se conseguirem ficar próximos dos filhos e entenderem o que estão fazendo de fato, podem ter com eles uma relação mais agradável.” Leia trechos da entrevista com a psicóloga.

Existe uma idade ideal para dar um de presente um tablet ou smartphofone? E para ter acesso à internet? o que os pais devem observar nesse momento?
A idade de presentear um filho com tablet ou smartphofone, dependerá da dinâmica de cada família. É importante pensar antes de inseri-lo nesse campo virtual. É necessário que esteja maduro para que isso não substitua a escola, os amigos, a família. Devemos pensar também que esses aparelhos são fascinantes, maravilhosos. As crianças de antigamente passaram suas infâncias entre árvores, brincadeiras de rua, jogos… Será que se tivessem tablets e smartphones, naquela época, também não seriam como hoje Não adianta, olhar para trás e viver nostalgicamente, como se o passado tivesse sido melhor, mágico. Não podemos voltar no tempo. Vamos olhar para os dias de hoje, sem medo e pensar o que pode ser feito para ajudar nossas crianças e adolescentes. É importante avaliar, alguns pontos: qual a necessidade real da criança?Ela às vezes precisa entrar em contato com você ou você com ela? É uma criança insegura que a possibilidade de saber que pode falar com você, caso necessite, irá ajudá-la?Conhecendo bem seu filho, como você avalia que ele irá usar o equipamento? No caso do seu filho ser disperso, desconcentrar-se com facilidade, não se interessar pelas tarefas da escola, gostar de jogos eletrônicos, mostrar-se tímido, demonstrar dificuldade de interagir com os colegas, apresentar dificuldade de cumprir com as regras estabelecidas… Penso que essas citadas características, não apóiam a idéia de presenteá-lo com um tablet ou smartphofone. Possivelmente ele tenderá a ficar bastante ligado aos equipamentos e se distanciará da realização das tarefas, das pessoas e de si mesmo. No caso dele se mostrar responsável com as tarefas escolares, ter uma relação satisfatória com os colegas, cumprir com as regras estabelecidas… você pode presenteá-lo sim. Mas deve ficar atento, ao tempo de uso, às mudanças comportamentais, ao rendimento escolar, ao humor, ao horário que está indo dormir…

Quais as mudanças de comportamento que os pais devem estar atentos com filhos conectados?
Deve-se estar atento ao sono, ao rendimento escolar, ao tempo em que fica na internet, como se relaciona com as pessoas da casa, se tem amigos, quem são os amigos, como está sua vida social, quais seus interesses por atividades fora da escola. É fundamental que os pais estejam atentos às mudanças bruscas de humor, a alimentação.

E quanto aos pais, que tipo de contribuição eles podem dar para que a criança não crie traumas e outros problemas psicológicos com relação à internet?
Os pais deveriam se unir e procurar se ajudarem. Se cada pai tomar conta dos amigos dos filhos, seu filho será cuidado por outros pais. Os pais unidos podem evitar algumas coisas, como bebidas, drogas… Mas de nada adianta se não tiverem com seus filhos uma relação de confiança e de respeito. Precisam sempre olhar para si mesmos e perguntar: como está a minha relação com meu filho? Por que ele fica tanto tempo na internet? Se não estivesse na internet, o que poderia estar fazendo? Ele já fez suas tarefas escolares, ajudou em casa? Os devem prestar atenção para o fato de que essa tal dependência de internet que assola alguns jovens não é algo que se inicia de uma hora para outra. Vai aumentando gradativamente e necessita de um olhar mais atento dos pais. Na primeira vez que acessou a internet, esse jovem não passou seis horas seguidas. Isso vai aumentando e os pais não se dão conta. Na verdade, alguns pais acham que, no computador, pelo menos os filhos estão em casa, seguros. O uso exagerado pode levar ao vício. Os atrativos para isso são muitos. Ele encontra um mundo virtual muito interessante e passa a habitá-lo.

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