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Potiguar que sonha em ser maestro encontra seu ídolo

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Gabriela Liberato
Repórter

É estimado que 5 milhões de crianças no Brasil sejam diagnosticadas com autismo. O Transtorno do Espectro Autista, TEA, interfere no desenvolvimento, na comunicação, na interação e na percepção do mundo ao redor. Muitas vezes, com a atenção influenciada pelo transtorno, crianças neuroatípicas desenvolvem hiperfoco, concentrando sua atenção em um único objeto ou atividade. É o caso de João Filipe Dantas, de 6 anos, que, apaixonado pela música clássica, realizou, na quarta-feira (24), o sonho de conhecer seu ídolo, o maestro João Carlos Martins, um dos maiores nomes da música erudita brasileira.


A paixão de João pela música clássica surgiu de forma repentina, após ser apresentado a um vídeo pelo avô. O vídeo foi suficiente para despertar o seu interesse. Com o diagnóstico de TEA há pouco mais de dois anos, João Filipe já demonstrava talento musical desde muito cedo. “Lembro quando ele, ainda de fralda, pegava qualquer lápis e fazia de baqueta. Foi quando percebi o talento musical dele”, lembra a mãe de João Filipe, Janaina Dantas.


O garoto surpreendeu a todos com sua musicalidade desde o primeiro momento e iniciou as aulas de bateria antes mesmo dos três anos de idade. “Ele sempre teve muita musicalidade. O ritmo é inerente a ele. Parece que está dentro dele. É como se Deus colocasse um talento especial. E se você mostrar um instrumento, ele consegue acompanhar no ritmo que é pra ser seguido”, recorda emocionado Filipe Dantas, pai de João Filipe.


Com a família sempre presente em igrejas, Janaina reconhece a influência dos instrumentos musicais no gosto musical do filho: cercado de bateria, violão e teclado, a criança logo se afeiçoou por bandas e seus ritmos. Foi apenas quando o avô apresentou a João um vídeo de uma orquestra que sua paixão mudou. O casal Filipe e Janaina não mediu esforços para ver o sonho de seu filho caçula se realizar. “Hoje, nós sabemos todos os instrumentos de uma orquestra. Precisei aprender o que é um oboé porque João pedia ‘mãe, imprime a figura de um oboé’ e eu antes não fazia ideia de como era um oboé. Hoje, nós sabemos tudo”, conta a mãe Janaina.
João Filipe encontrou na paixão pela música clássica sua vocação. “Minha orquestra preferida é a Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte. Um dia eu assisti no Teatro Alberto Maranhão e no final eu pedi para todo mundo aplaudir de pé”, conta João. Ele faz aulas de violino, seu instrumento preferido, e através do amor pela música clássica, encontrou sua vocação para ser maestro.


Inspirado por maestros clássicos como André Rieu e Linus Lerner, João Filipe vê no maestro João Carlos Martins sua maior inspiração. O maestro João Carlos Martins, assim como João Filipe, encontrou na música clássica sua maior vocação. Apaixonado pelo piano desde criança, como João Filipe, o maestro já enfrentou problemas nas mãos e, desde 2020, utiliza luvas biônicas no intuito de realizar melhor os movimentos para tocar piano.


O encontro do maestro João Carlos e o futuro maestro João Filipe aconteceu de forma breve, mas, muito marcante, e foi possibilitada pela Fecomércio. João Carlos Martins ministrou uma palestra-show no Fórum “Caminhos para o Futuro”, que deu início às comemorações de 75 anos da Federação. Emocionada em ver o filho realizar um sonho, a mãe de João Filipe, Janaina, relembra os momentos do filho com a música clássica e se alegra ao vê-lo mais próximo de seu objetivo.


“Vê-lo hoje concretizando parte desse sonho, que eu acredito que vai ter muitos desdobramentos ainda, é muito emocionante! Sei que isso não vai parar aqui!”, afirma Janaina.


João Carlos Martins concordou em realizar o sonho do futuro maestro ao ficar sabendo da paixão da criança pela música clássica. “A música tem o poder de trazer paz, solidariedade e amor. Então, quando vejo um menino de 6 anos se inspirar na música e, principalmente, na música clássica, eu fico muito emocionado. Eu acredito sempre, cada vez mais, num mundo onde nós temos tantas guerras e tudo mais, que através das artes a gente vai conseguir alcançar algumas coisas”, conta, emocionado, o maestro.


“Fiquei muito feliz em ver o João Filipe. E quando eu estou falando, eu não estou brincando não. Vocês aqui ainda vão ver esse menino na frente da minha orquestra”, conta o maestro. Ele ainda destaca a importância da família na formação de jovens maestros.


“É preciso incentivar, o incentivo da família é muito importante. Os primeiros degraus na realização desses sonhos são dados através do apoio da família, coisa que João Filipe já tem. E quando menos esperarmos, a criança já estará subindo a escada do sonho sozinha”, declara o maestro.


O TEA de João Filipe está focado em sua aptidão musical. O hiperfoco característico do transtorno autista, embora não traga malefícios no caso de João Filipe, pode apresentar desafios à inclusão social de outras crianças. Para a psicóloga Beatriz Furtado, o caso de João Filipe é positivo, pois sua paixão pela música proporciona uma oportunidade de estudar e sonhar. Entretanto, ela destaca que o hiperfoco pode trazer desafios à socialização, e é necessária a atuação profissional para flexibilizar esse interesse restrito.


“O hiperfoco é uma tendência de buscar uma categoria, um tema ou um objeto que tenha um interesse restrito a isso. Também há uma romantização de que o hiperfoco trará vantagem, mas em algumas pessoas será um desafio a ser trabalhado porque pode gerar também algumas limitações. E o trabalho da terapia é flexibilizar esse interesse restrito, trazendo novas variações desses mesmos objetos ou foco”, explica.

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