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Arena da discórdia

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Felipe Gurgel – Repórter de Esportes

Não bastasse a eliminação precoce na Copa do Nordeste, o assalto a sede do clube e grave crise financeira que o América atravessa, uma guerra silenciosa está sendo travada, nos bastidores, entre o presidente alvirrubro, Alex Padang e alguns conselheiros americanos. Tudo por causa do contrato oferecido pela OAS, empresa responsável pela Arena das Dunas, para que o time rubro mandasse seus principais jogos na praça esportiva que está sendo construída para a Copa do Mundo de 2014. Com isso, a Arena do Dragão, que também está em obras, seria utilizada apenas em jogos menores, como, por exemplo, nas partidas do campeonato estadual, com exceção do clássico com o ABC. A possibilidade de isso acontecer vem causando uma insatisfação geral entre os torcedores americanos e também em uma ala de representantes do conselho deliberativo do clube, que querem apenas o estádio rubro como casa do América.
Edílson Batista faz parte do grupo de torcedores que doam cimento
Dentre eles está o médico José Medeiros, um dos conselheiros mais atuantes do América e que, ao lado do presidente do conselheiro deliberativo do clube, José Rocha, são contra os termos de contrato apresentado pela OAS a Alex Padang. “São 48 páginas de contrato e muitos artigos. E, em vários pontos, o América sai prejudicado nesse acerto. Primeiro, a OAS quer que o clube seja responsável pela Arena das Dunas pelos próximos 15 anos, arcando com todos os custos de um estádio daquele porte. Em contrapartida, eles patrocinariam o América no período de 1 ano e meio. Isso não podemos aceitar”, revelou José Rocha.

Com um tom mais radical em relação ao contrato, José Medeiros afirma que, se fosse por sua decisão, não teria nem conversa com a OAS. O principal, de acordo com ele, é continuar com as obras da Arena do Dragão. “Se essa empresa que está construindo a Arena das Dunas não tem nenhum projeto futuro para tornar o local sustentável, que procurem outra maneira e não tentem atrapalhar a vida do América. O nosso estádio vai sair de qualquer forma”, afirma Medeiros, que é um dos responsáveis por controlar o caixa de verbas para o andamento das obras no futuro estádio americano.

Mesmo não confirmando, o clima entre conselho deliberativo e o presidente americano aparenta ser tenso, no atual momento. Na última quinta-feira, convidado pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE, a fazer uma visita às obras da Arena do Dragão, José Rocha foi até o local acompanhado de José Medeiros, Francisco Sobrinho, engenheiro responsável pela obra e alguns torcedores. Durante a visita, apareceu o presidente do clube, Alex Padang, acompanhado do advogado Osvaldo Sestário, que representa o América nos julgamentos do STJD, no Rio de Janeiro e Paulo Schmitt, procurador do STJD, que estavam fazendo uma visita as instalações do clube e iriam fazer uma palestra aos jogadores americanos.

Foi quando Alex Padang perguntou a José Rocha, quando a Arena do América ficaria pronta. A resposta do presidente do conselho deliberativo deixou o ambiente tenso. “Se eu tivesse R$ 5 milhões na mão, já estaria pronto. Mas, você foi divulgar na mídia esse contrato com a OAS e a situação ficou complicada”, disse Rocha, diante de todos os presentes.

Outra informação colhida seria que Padang teria solicitado ao grupo que está gerenciando as obras do estádio americano, recursos para investir no futebol. “Isso não existiu. E mesmo que tivesse acontecido, seria como as ondas do mar. Iriam bater e voltar, quantas vezes fosse necessário. O dinheiro do nosso estádio vai ser investido no estádio e não no futebol. Isso é uma certeza de tenho”, afirmou Medeiros.

Em relação a possibilidade de renúncia do presidente Alex Padang, caso o contrato com a OAS não seja aceito pelo conselho deliberativo, tanto José Rocha, quanto José Medeiros, se mostraram tranquilos. “Essa possibilidade nunca foi comentada por Padang, pelo menos comigo não. Tenho certeza de que ele não vai tomar essa decisão. Ele está sendo um grande presidente para o América”, disse Rocha. Já Medeiros foi mais taxativo e usou a história do próprio América para falar sobre a possibilidade de renúncia. “Quero deixar claro que não tenho nada contra o presidente Alex Padang. Mas, a história do América foi feita de renúncias e clube sobreviveu a todas”, finalizou Medeiros.

Torcedores criticam atitudes de Padang

Independente do que venha acontecer nos próximos dias, no que diz respeito a Arena do Dragão, a relação entre presidente e torcida parece estar abalada. É fácil perceber pelos comentários dos americanos pelas ruas de Natal ou nos dias de treinos no centro de treinamento do clube. Um dos torcedores mais radicais a favor da construção de um estádio próprio e radicalmente contra o acerto com a OAS, o aposentado José Edson Diniz, mais conhecido como “Marinheiro”, foi taxativo sobre a possibilidade da não utilização do estádio do América nos próximos anos, com os jogos maiores sendo transferidos para a Arena das Dunas. “Isso é uma covardia que o presidente está fazendo com a torcida. Queremos ter a nossa própria casa. Meus filhos compraram camarote aqui e agora, o que vão fazer se esse acerto com a OAS acontecer? Se essa empresa está com problemas para viabilizar o estádio depois da Copa do Mundo, que procure outra solução e não venha querer atrapalhar a vida do América”, desabafou.

Opinião semelhante tem José Filho. Ele e o amigo Edílson Batista, representam uma espécie de associação de torcedores fora de Natal e arrecadam cimento e materiais de construção para doarem ao América, na tentativa de acelerar as obras da Arena do Dragão. Até o momento, eles já conseguiram doar cerca de 300 sacos de cimento e estão dispostos a tudo para ajudar na construção da tão sonhada casa americana. “Se for preciso, eu mesmo venho para cá e trabalho de pedreiro, para que esse estádio seja construído. O que não pode acontecer é que a Arena do Dragão fique pelo caminho. Isso seria uma decepção muito grande”, afirmou Filho, que mora em São José de Mipibú.

Já Edílson Batista foi mais diplomático. Mesmo assim, deixou claro sua vontade de ver o estádio do América erguido nos próximos anos. “Essas turbulências no futebol são normais. O que não podemos deixar é de pensar no futuro e o estádio é o nosso futuro. Não podemos deixar essa oportunidade passar. Se não for agora, não vai ser mais nunca”, afirmou Batista.

Até a rivalidade clubística entra em campo nesse momento turbulento em que atravessa a administração americana. “É difícil andar nas ruas e vê os abecedistas tirando sarro da gente, dizendo que não temos casa. E eles estão na nossa frente justamente por ter construído o estádio deles. E é isso que queremos, a nossa casa. Não queremos mais nos arriscar em pegar a BR-101 para assistir jogos em Goianinha. Existe a possibilidade de jogar no Barretão, em Ceará – mirim. Mas, depois disso, o que vai ser do América?” indagou Marinheiro.

Presidente do clube defende acerto com a OAS

Qualquer decisão sobre a Arena do América, das Dunas ou mandar seus jogos no estádio Barretão, pelos próximos cinco anos, como foi proposto por Marcone Barreto, proprietário do estádio de Ceará-Mirim, só deve ser tomada na próxima quinta-feira, dia 21 de fevereiro, quando todas essas possibilidades serão discutidas em reunião convocada pelo presidente do Conselho Deliberativo do clube, José Rocha. O momento mais esperado é a apresentação do contrato oferecido pela OAS ao presidente americano Alex Padang. De antemão, o mandatário rubro, em entrevista concedida a Rádio Globo Natal, na quarta-feira da semana passada, antecipava que alguns conselheiros rubros eram contra a possível negociação com a empresa detentora da Arena das Dunas e criticou a posição deles.

“Defendo uma opinião, mas acredito que alguns conselheiros não acham viável jogar na Arena das Dunas. Até hoje não me apresentaram nenhum argumento que justificasse isso, nenhum número ou dado que prove que é impossível jogar lá”, disse Padang. De acordo com o presidente americano, já aconteceram várias reuniões entre ele e os representantes da OAS. Os contatos vinham sendo mantidos em sigilos para que, caso fosse exposto na mídia, não causasse problemas nas negociações. Mesmo negociando com a Arena das Dunas, Alex Padang fez questão de afirmar que não é contra a construção do estádio americano e sim, está pensando no futuro do clube, com essa possível parceria.

“Não sou contra a Arena América, mas tem que se pensar com maturidade. O clube não pode parar no tempo. Constrói seu próprio estádio e conta também com a Arena das Dunas”, finalizou o presidente americano.

O atual momento parece ser de solidão para o presidente alvirrubro. Na última quinta-feira, representantes da comissão de obras da Arena do América, se reuniram com Marcone Barreto, em um escritório de advocacia em Natal, sem a presença do mandatário americano, que revelou não ter sido informado de tal reunião e se mostrou surpreso com o fato, mas, preferiu não se pronunciar sobre o acontecido, afirmando que vai esperar a reunião do conselho deliberativo, marcado para a próxima quinta-feira.

Já o ex-presidente do clube, Eduardo Rocha, confirmou que  a reunião aconteceu em seu escritório, mas, eles foram pegos de surpresa com a a chegada de Marcone Barreto no local, para apresentar uma proposta oferecendo o estádio de Ceará-Mirim, para que o América mandasse seus jogos lá, pelos próximos cinco anos, sem custos. E desmentiu, também, que estejam trabalhando contra o atual presidente. “Se ele está procurando alguma dificuldade em relação a minha pessoa, e falo também em relação da José Rocha, ele não vai encontrar. Não somos contra ele. Qual a necessidade disso? Infelizmente ele não soube suportar uma eliminação precoce e tomou as decisões que quis tomar e agora tem que arcar com os ônus”, finalizou Rocha.

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