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Enfrentando a timidez

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Isaac Ribeiro – Repórter

Alternar momentos de pura extroversão com outros mais contidos faz parte do comportamento da maioria das pessoas. Mas para alguns, ser introspectivo, tímido, é o mais normal. O problema é quando isso ultrapassa todos os limites, torna-se excessivo e começa a atrapalhar outros aspectos da vida, principalmente no aspecto social. Para auxiliar quem deseja se ver livre desse mal, o Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte realiza um programa de enfrentamento da timidez, um projeto de terapia em grupo destinado a jovens e adultos, universitários ou não.

De acordo com a coordenadora do programa, professora e psicóloga Neuciane Gomes, a timidez excessiva dos participantes é tratada através do método de terapia cognitivo-comportamental, onde são propostas várias ações e exercícios específicos.
A telefonista Maria Aparecida do Nascimento afirma que timidez atrapalha em algumas situações cotidianas
“Significa que propomos enfrentar as situações que elas temem muito. Mas nós preparamos elas psicologicamente para isso. Propomos ações mas também discutimos porque ela tem medo ou o que isso significa na vida dela, porque isso está trazendo problema”, comenta a professora. O resultado, de acordo com ela, é um entendimento maior sobre o transtorno e novas formas de pensar e agir contra as situações temíveis.

A timidez excessiva é, na verdade, uma forma de fobia social. Curar-se completamente pode ser improvável, mas pelo menos com o programa de enfrentamento é possível melhorar bastante e enfrentar melhor as situações embaraçosas.

“Eu costumo dizer que uma pessoa fóbica social, muito, muito tímida, vai melhorar bastante com o tratamento. Não todas as pessoas, mas a maioria melhora bastante. Enfim, ela vai ter uma melhor qualidade de vida. Isso não significa que ela vai se tornar a pessoa mais extrovertida do mundo”, diz Neuciane Gomes.

As inscrições para o programa seguem até o próximo dia 28, mas restam poucas vagas, como informa a coordenadora. Informações pelos telefones 3215 3603 e 3215 3604.

Qualidades ficam ocultas no tímido

Muitas vezes os tímidos são pessoas mal compreendidas ou passam despercebidas dos olhos da multidão desenvolta e falante. Mas podem esconder qualidades insuspeitas e talentos ofuscados.  O fato de não se entregar tão facilmente aos apelos de amizades e amores fortuitos, leva os mais recatados a se fecharem num mundo próprio, mas nem por isso desinteressante.

Para a psicóloga Jemima Morais Veras, quando alguém consegue entender o tímido pode encontrar a oportunidade de conviver com pessoas com muito conhecimento, sensíveis, criativas, capazes de reflexões coerentes e sensatas sobre a vida e outros assuntos.

“São características desenvolvidas devido o isolamento social. Não frequentando as baladas, festas e encontros, o tímido acaba buscando algo para fazer sozinho. Devemos considerar que essas características passam a não valer a pena quando tudo isso é uma fuga para o sofrimento”,  analisa a psicóloga.

Para ela, a timidez pode ter origem numa relação com pais muito rígidos, que exigiram comportamentos e resultados perfeitos, que não se preocupavam em aparar as dificuldades e falhas dos filhos; ou ainda demonstraram sentir vergonha de suas exposições e tentativas de aprender ou experimentar. Constrangimentos também podem originar comportamentos introvertidos.

“Os pais precisam prestar atenção se seus filhos estão preferindo ficar em casa, estão evitando as festas de aniversário, estão  fazendo uso de bebidas alcoólicas para se tornar mais corajosos,  apresentam problema de fala, tem amigos somente virtuais, tem dificuldade de aceitar  as mudanças e as novidades”, recomenda Jemima. Segundo ela, em alguns casos a pessoa pode superar a timidez, principalmente se tem uma família compreensiva, amigos acolhedores ou professores atentos. “Mas caso o ambiente não seja favorável ou a pessoa tenha dificuldades mais acentuadas, é preciso procurar ajuda  profissional.”

Algumas profissões não admitem embaraço

Se tiver que falar com alguém que não conheça ou entrar em um ambiente onde só estejam desconhecidos, a jornalista Kedma Araújo, 32 anos, sente o peso da timidez que lhe acompanha. “Fico ensaiando o que vou dizer.” Apesar do comportamento introvertido, ela diz nunca ter tido maiores problemas com sua profissão.

Embora tenha escolhido ser jornalista, ela optou pela área de rádio justamente para evitar o contato pessoal direto com as pessoas, como conta. “Mesmo assim, quando era para ligar para alguém, sempre era algo muito sofrido”, comenta Kedma.
 
Mas mesmo com toda introversão, ela diz nunca ter deixado de cumprir uma pauta. Quer dizer, quase nunca… “Lembro quando a presidente Dilma participou de um evento na UFRN e fui pautada para cobrir. Tinha perguntas, mas não consegui fazer. Não consigo me impor no meio dos outros repórteres. Nesse aspecto, atrapalha…”

No quesito bem querer e amizade, a timidez chega a atrapalhar um pouco as coisas para Kedma. Há uma certa dificuldade de fazer a conversa desenrolar, segundo ela. Mas quando o papo flui de tímida(o) para tímido(a), a história é diferente.

Kedma diz ter uma colega mais tímida do que ela. “Ela chega a ficar com as mãos trêmulas; coisa que não tenho. Entre nós, a timidez não atrapalha, vamos longe quando conversamos. No Facebook então, parece até que somos amigas de infância.”

E por falar em Facebook, as redes sociais facilitam muito as coisas para os tímidos, já que evitam o contato direto com as outras pessoas. “Você tem aquela barreira de proteção e seu corpo não está presente — apesar de ser você mesmo na conversa”, comenta Kedma.

Para a telefonista Maria Aparecida do Nascimento, 21 anos, a timidez não chega a atrapalhar o lado profissional, mas em situações cotidianas, sim; principalmente no tocante a novas amizades e paqueras, pois as pessoas acabam tendo a impressão que ela é antipática. “Isso atrapalha ainda no lado sentimental até mais do que nas amizades. Dependendo da situação, chego logo falando que sou tímida.”

“Redes sociais facilitam a interação”

— Quando a timidez passa a ser algo patológico?
Exatamente quando está está trazendo problemas à vida da pessoa. Por exemplo, a pessoa que não consegue ir para uma entrevista de emprego, porque para ela é extremamente difícil se expor.  E hoje, nas empresas, é comum juntar várias pessoas para fazer dinâmica de grupo. Você imagina aí; para ele já é difícil passar por uma entrevista, imagina passar por uma situação dessa no qual ele vai se expor para outras pessoas no emprego. Tem gente que recusa uma acensão para progredir no emprego porque a partir dali ele vai ter que comandar ou participar reuniões. Ele tem capacidade para isso, mas a situação para ele é aterrorizante. Então, ele recusa até ganhar salário melhor.

— A sociedade valoriza mais os extrovertidos?
Eu não conheço pesquisas a respeito para afirmar que a sociedade valoriza mais os extrovertidos, mas certamente essas pessoas que têm mais facilidade de conversar, de interagir, a vida delas parece ser  menos complicadas, digamos assim. Mesmo porque a pessoa que é excessivamente tímida tem dificuldades sérias; tem dificuldade, por exemplo, de conseguir emprego, de fazer uma entrevista de emprego, de interagir com pessoas estranhas, interagir com pessoas do sexo oposto, de apresentar um trabalho e assim por diante. Tendo em vista essas dificuldades, poderíamos dizer, que seria mais fácil para as pessoas extrovertidas interagir com as outras pessoas. Então, elas têm mais visibilidade na sociedade.

— Redes sociais são positivas para os tímidos?
Mais uma vez, vou dizer que não tenho dados de pesquisas. Mas  pela prática clínica e as conversas que a gente tem no meio, realmente a rede social facilita a interação, porque existe uma barreira entre eu e o pessoal que está do outro lado. Não estou vendo cara a cara e não tem essa coisa de estar sendo julgado, ao vivo e a cores. Há um intermediário que o computador, a internet.

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