Roberto Lucena – repórter
O pier existente no Porto de Natal será desativado até o dia 31 de dezembro. Com a desativação, os tanques de distribuição de combustíveis localizados no bairro de Santos Reis serão retirados do local. A informação foi confirmada ontem pela Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) e representantes da equipe de transição da Prefeitura do Natal. A Petrobras terá, a partir de janeiro, 18 meses para retirar todos os equipamentos existentes no terreno pertencente ao Exército e Aeronáutica. Um projeto de reurbanização para a área deverá ser apresentado.
Através da assessoria de imprensa, a Petrobras informou que “está realizando investimentos para produção de gasolina no Terminal de Guamaré. O projeto contempla a desativação do terminal de Natal”. A assessoria informa ainda que “a previsão é que o terminal de Natal opere até fevereiro de 2013”. No entanto, na última segunda-feira, o presidente da Cordern, Pedro Terceiro de Melo, participou de uma reunião com a BR Distribuidora – subsidiária da Petrobras responsável pela distribuição e comercialização dos derivados do petróleo. No encontro, estava presente um representante da equipe de transição do prefeito eleito Carlos Eduardo.
Foi anunciado que o Porto de Natal deixará de receber o desembarque de gasolina e embarcar óleo diesel a partir do dia 31 de dezembro. Atualmente, o Porto – através do Pier das Dunas – recebe, mensalmente, uma média de 14 toneladas de gasolina e embarca mais de 11 toneladas de óleo diesel no mesmo período. A gasolina é transferida para os tanques de Santos Reis através de um duto subterrâneo. De lá, o combustível é transferido para os caminhões que abastecem os postos.
Com o fechamento do pier, o faturamento do Porto de Natal sofrerá uma redução. Segundo a Codern, a Petrobras é responsável por cerca de 5% do que é arrecadado no Porto. Com o movimento de embarque e desembarque de combustíveis, a Petrobras paga uma média de R$ 100 mil à Codern. Para o presidente do órgão, a decisão da Petrobras é um fato limitador para o desenvolvimento do Porto. “Primeiro porque o Porto precisa de combustível para abastecer os navios. Vamos ficar sem essa facilidade. Outra coisa, o Governo Federal está investindo na expansão do Porto. Com essa decisão da Petrobras, há um empecilho”, comentou Pedro Terceiro.
O presidente disse ainda que o fechamento do pier é uma resposta da Petrobras a um acordo feito com Governo do Estado e Ministério Público. “É uma questão que vem de muitos anos. Sempre houve pedidos para retirar os tanques de Santos Reis e agora vão retirar de fato”, comentou. O duto que liga o pier aos tanques será desativado mas permanecerá debaixo do solo. “Se fosse retirar, seria necessário desapropriar casas e comércio na Ribeira e Rocas. Vão deixar do jeito que está”, avisou Melo.
O representante da equipe de transição que esteve presente ao encontro da BR Distribuidora com a Codern confirmou que há interesse da futura administração municipal em reurbanizar a área onde os tanques estão instalados. “Vamos acompanhar como será feito a desocupação. A Petrobras tem o prazo de 18 meses para retirar todo o material e entregar o terreno”, disse o representante. “A intenção é reurbanizar a área fazendo integração com os demais bairros localizados na região”.
Os tanques de Santos Reis foram instalados na década de 40. Em outubro do ano passado, a então prefeita Micarla de Sousa chegou a participar de uma reunião com o diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Chaves de Almeida e anunciou a retirada dos tanques e a construção de um museu do combustível.
Abastecimento de postos será feito por 110 caminhões
Com o encerramento das atividades do Pier das Dunas, no Porto de Natal, a partir de janeiro do próximo ano, todo o combustível consumido pelos natalenses terá que ser transportado através de caminhões tanques, ou seja, o abastecimento será integralmente feito por via terrestre. A notícia preocupa a Codern e o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Rio Grande do Norte (Sindipostos/RN). Estima-se que seja necessário cerca de 110 caminhões por dia para abastecer os postos da cidade.
O presidente do Sindipostos/RN, Antônio Cardoso Sales, disse que não foi informado oficialmente sobre a decisão da BR Distribuidora. “Para mim isso é uma surpresa. Não fomos informados oficialmente”, disse. Cardoso acredita que a decisão da Petrobras é preocupante para o setor. “Já temos um deficit no abastecimento. Se for feito integralmente via terrestre, haverá atraso e isso nos deixa preocupados”.
Para o presidente da Codern, o fechamento do Pier das Dunas trará consequências piores. O combustível que chega ao Porto é utilizado pelos navios que ali atracam. Sem o pier, haverá dificuldades para o abastecimento. Na reunião realizada segunda-feira, Terceiro de Melo tentou argumentar com os representantes da BR Distribuidora. “Queríamos que eles apresentassem um projeto onde permanecesse no Porto pelo menos um tanque para abastecer os navios como também, numa necessidade ou emergência, abastecer Natal”, disse. Mas, segundo Melo, a ideia não foi aceita. “Eles disseram que é economicamente inviável para Petrobras, mas sugeriram que nós fizéssemos um estudo e mostrássemos como isso será necessário com a ampliação do Porto”.
O estudo ainda não foi elaborado. No entanto, de acordo com as planilhas de movimentação de cargas no pier, houve um pequeno acréscimo no período de um ano. Em 2011, até o mês de outubro, foram movimentadas 218.851 toneladas de cargas. Este ano, no mesmo período, esse valor subiu para 258.171 toneladas de gasolina e óleo diesel movimentado no local.
Antônio Sales acredita que a capital do Estado não tem estrutura para suportar a movimentação de caminhões tanques diariamente. “Será muito complicado depender do abastecimento terrestre. Temos que repensar como isso será feito”, colocou. “Você imagine como será esse trânsito em Natal. Será muito complicado”, completou.
No local onde hoje estão os tanques de Santos Reis, cogitou-se a possibilidade de serem erguidas casas ou condomínios populares para as comunidades carentes do Maruim, Vietnã e Brasília Teimosa. Um anúncio nesse sentido foi feito pela Codern em 2007. Porém, a ideia não prosperou. A atual administração municipal anunciou que a área de tancagem daria lugar a um parque temático e a um museu do petróleo, mas, segundo a equipe de transição do prefeito eleito Carlos Eduardo, o futuro do local será discutido posteriormente. “Primeiro é preciso verificar toda documentação. Depois vamos estudar a reurbanização da área”, disse uma fonte ouvida pela reportagem.
