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O Brasil Retumbante

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Yuno Silva
Reporter

“As forças de esquerda estavam mais interessadas em derrubar os militares do poder do que em restabelecer a democracia”, afirma o jornalista paulistano Paulo Markun. Autor do livro “Brado Retumbante”, ele desembarca em Natal na próxima terça-feira (11), a convite do Marginália – Grupo de Estudos Transdisciplinares em Comunicação e Cultura da UFRN, para proferir palestra sobre sua pesquisa que resultou em quase mil páginas divididas em dois volumes: “Na lei ou na marra”, que aborda o período de 1964 a 1968, e “Farol alto sobre as Diretas”, que trata dos anos 1969 a 1984. Aberta ao público, a palestra está marcada para às 19h e acontece no Laboratório de Comunicação Social – Labcom, anexo da TV Universitária.
Jornalista e escritor Paulo Markun reúne 70 expoentes da reabertura política e lança livro que conta a história definitiva do golpe às ‘Diretas Já’
Markun aproveita a estadia e lança “Brado Retumbante”, na quarta (12), às 18h30, na livraria Saraiva do Midway Mall.
O jornalista levou quatro anos para concluir sua pesquisa, e contou com uma equipe de 14 pessoas para destrinchar todo o material consultado. Além do alicerce documental, “Brado Retumbante” ganha peso histórico ao reunir entrevistas com 70 personalidades que marcaram a redemocratização brasileira – uma obra que traça um painel abrangente da história política recente do país e traz depoimentos de políticos, artistas, sindicalistas, intelectuais e jornalistas, pessoas como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, os senadores Eduardo Suplicy, Álvaro Dias, Cristovam Buarque, Roberto Requião, Marta Suplicy e Aloysio Nunes Ferreira, o ex-ministro e governador José Serra, os jornalistas Mauro Santayanna, Ricardo Kotscho, Franklin Martins, Marcelo Tas e Carlos Nascimento e os artistas Roger Moreira, Fafá de Belém, Lucélia Santos e Maitê Proença.

Ao longo do trabalho, Paulo Markun criou o portal bradoretumbante.org.br, onde reúne os melhores momentos dos depoimentos em vídeo, e todo o material coletado durante a fase de pesquisa. O jornalista, que por dez anos apresentou o programa Roda Viva da TV Cultura e publicou 14 livros de não ficção, concedeu a seguinte entrevista ao VIVER:

Como será sua palestra aqui em Natal?
Vou falar sobre o livro, as pesquisas e todo o processo que durou quatro anos. Como as grandes reportagens migraram para os livros, também vou comentar essa questão.

Seu livro “Brado Retumbante” aborda os 50 anos do golpe Militar e os 30 anos do movimento das Diretas Já, temas que sintonizam esse período pós-eleições presidenciais. O Brasil ainda tem muito o que aprender em termos de democracia?
Toda essa movimentação é resultado de uma democracia ainda muito jovem, e as eleições embolaram os papeis – tanto do lado do Governo reeleito quanto da oposição derrotada nas urnas. O primeiro cometeu o equívoco de convocar o diálogo logo após uma disputa aguerrida, quente, enquanto a oposição permanece no palanque inconformada com o resultado. As coisas começam a entrar nos eixos com os recentes pronunciamentos da presidenta Dilma Rousseff e do senador Aécio Neves, e acredito que a tendência é os ânimos darem uma esfriada.

Existe lógica nesses protestos pedindo intervenção militar?
O ponto que pesa para as pessoas saírem às ruas é o desencanto com os partidos políticos, pelas similaridades de comportamento entre eles, e acaba dando margem para essas coisas assustadoras.

Muita coisa ainda será revelada pela Comissão da Verdade?
Noto grande interesse das pessoas pela história, o que falta é um material mais palatável. Tenho esperança que a Comissão da Verdade elucide fatos e libere os arquivos digitalizados, pois muitas pesquisas nessa área são como loteria: você não sabe direito onde procurar nem o que vai encontrar.

No seu livro você fala de descobertas. Quais destacaria?
Boa parte das pesquisas foram feitas no Arquivo Nacional, em Brasília, e encontramos registros de passagens históricas pouco conhecidas como a formatação da chamada Frente Ampla. Criada em 1966, a Frente juntou nomes como Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart com o objetivo de restaurar a democracia no país – Leonel Brizola também foi convidado para fazer parte do grupo, mas recusou. Algo semelhante foi configurado durante as Diretas Já, e que hoje seria equivalente a juntar Dilma, Aécio e Marina Silva no mesmo palanque depois de tudo o que aconteceu. Toda essa movimentação era monitorada pelos militares, que acabaram proibindo a continuidade das articulações em 1968. Todos os envolvidos acabaram cassados.

No livro você também afirma que Costa e Silva era contra o AI-5? O mais restritivo dos atos instituídos durante a ditadura Militar.
Nas atas do Conselho de Segurança Nacional, seis meses antes do AI-5 entrar em vigor, o comando do regime Militar já tinham claras as restrições que só passariam a valer em dezembro. Costa e Silva não concordava com o endurecimento proposto, e só conseguiu adiar por alguns meses. Mostra como o governo era controlado por um grupo, e não pelo presidente.

Natal também entra nessa história?
Como o primeiro volume vai de 1922 a 1968, onde abordo desde a Revolução de 30, e as tentativas de golpe após a morte de Getúlio Vargas, e após as eleições de JK e Jango, alcanço a Intentona Comunista de 1935 que aconteceu aí em Natal e que serviu como pretexto para justificar o Estado Novo. Também trago à luz a história de Hiran Lima Pereira, militante do Partido Comunista, preso em 1970 pelos militares. Hiran foi o candidato mais votado em Natal para deputado Federal, mas não foi eleito por que sua chapa não conseguiu atingir o coeficiente eleitoral mínimo.

E sobre seus novos projetos?
Estou envolvido em uma série de documentários sobre Arquitetura, que mostra os erros e acertos da ocupação de espaços urbanos. Em 2015 também inicio nova temporada do programa Retrovisor (Canal Brasil), e também estou planejando um documentário sobre a atuação dos médicos cubanos no mundo.

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