Valério Mesquita
Escritor
Certa vez, numa igreja do município do agreste, o então deputado Ricardo Motta participava com convicções religiosas e políticas de uma missa. Católico enferrujado, mas desejando impressionar, entrou numa fila que se dirigia ao altar, pensando na comunhão. Mas estranhou que os da frente se abaixavam. Notou, ao final, que depositavam dízimos paroquiais. De repente, procurou o dinheiro nos bolsos e não encontrou. Achou uma receita médica de um eleitor, abaixou-se e com a mão semifechada, depositou-a lá no fundo do cesto e deu por cumprido o seu dever litúrgico. Amém.
02) Nos áureos tempo do seu prestígio, o senador Dinarte Mariz emplacou duas importantes indicações no plano federal. A primeira a do dr. Tarcísio Maia para a presidência do IPASE e a segunda de Dix-Huit Rosado para a presidência do INCRA. Um compadre do velho senador procurou-o pedindo um emprego. Sempre solícito, Dinarte tentou logo Tarcísio Maia fazendo-lhe um famoso bilhetinho. A resposta veio pelo portador, escrita às costas do cartão do senador: “Dinarte, o IPASE não é cabide de empregos”. Aborrecidíssimo, Dinarte ligou para Dix-Huit historiando o fato. Este, mais sensível, de imediato atendeu o pedido. Mas, estava escrito que o velho senador não ia engolir sem tréplica, a réplica a Tarcísio. Chamou o mesmo portador e devolveu ao presidente do IPASE o cartão com um post-scriptum: “Tarcísio, você tem razão. Quando você foi nomeado para o IPASE, esqueci disso”. Com o velho era assim: escreveu e leu, o pau comeu.
03) Uma história de gemido. Contou-me o saudoso amigo Agnelo Alves, que Alcebíades que não é o de Santana do Matos, era um boêmio incorrigível. Nos porres homéricos, chegava em casa de madrugada e iniciava uma sessão de gemidos histriônicos provocados pelo quase estado de coma etílica. As irmãs seriamente afetadas e preocupadas, impuseram um armistício a Alcebíades: “Ou para com a bebedeira e os gemidos ou não dorme mais em casa”. Solteiro, dependente das manas indulgentes, aceitou as cláusulas impostas. Mas, estava escrito que, pelos descaminhos do mundo, o boêmio é um ser terrivelmente frágil. Numa alta madrugada, Alcebíades traiu-se e “cheio de mé”, soltou uns longos gemidos seguidos de uma frase pungente: “Ninguém pode mais nem gemer nessa casa, ai, ai, ai, ai, ai…”. A partir daí, igual a Maisa Matarazzo, o seu mundo caiu.
04) O indomável cochilo na vida do idoso é igual a coceira no “cedenho”: “é irreprimível o apelo de coçar”, já dizia um saudoso vereador macaibense. E para comprovar, lembrei-me da história do “majó” Theodorico Bezerra, no seu último mandato de deputado estadual. Os debates da Assembleia Legislativa naquele tempo (período da revolução de março), não eram tão atentos ou acirrados. Os discursos laudatórios, ora se resumiam em defesa do movimento militar, ora em prol do governo indireto do médico Lavoisier Maia Sobrinho. Não se constituía despropósito o “majó” pegar uma soneca, vez em quando. Numa sessão vespertina, os parlamentares saíram do plenário em bloco, para festejar no Palácio Potengi o aniversário de Lavô. Desavisado, o decano da Casa curtia o seu ronco, sozinho, sentado na bancada, quando foi acordado por um funcionário: “Deputado, todo mundo já saiu e o senhor não vai também a missa do governador, não?”. Theodorico assustou-se com o despertar inesperado e foi logo perguntando: “Espere… E ele morreu?”.
05) O político, regra geral, é um agente social sempre disponível. Existem muitos exemplos por aí de fatos que comprovam essa realidade. Lembrei-me de um, ocorrido com o então deputado estadual, Garibaldi Filho. Gari é um exemplo eloquente dessa espécie. Vai a casamento, funeral, batizado, etc. Certa vez, num casamento de um eleitor nas Quintas profundas, foi notificado que o carro que traria a noiva à Igreja havia falhado. Não contou história: colocou-se à disposição. De repente, para a surpresa de muitos, chega Gari dirigindo o seu automóvel, de óculos, paletó, tal um veterano e compenetrado taxista com a noiva solene e garbosa no banco traseiro, sozinha, como manda o figurino social. Gari estacionou o veículo calmamente e foi rezar, como se nada diferente tivesse acontecido. Político é pra essas coisas.
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