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A ira

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Vicente Serejo
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É engano, Senhor Redator, pensar que foi no útero das redes sociais que algum gênio de hoje fecundou o ódio dito virtual. É o mesmo e na mesmíssima intensidade que nasceu com aquele homem ancestral que matou a fome para sobreviver, e, depois, aprendeu a matar o outro quando descobriu que poderia reinar. Só bem depois, vieram os finos requintes inventados para a dominação ser duradoura, sob o velho mando dos egos, esses feitores perversos dos ególatras.
Quando o grande psiquiatra espanhol Emílio Mira Y Lopez estudou e lançou ‘Os Quatro Gigantes da Alma’ -, publicado no Brasil pela José Olympio, Rio, 1966 – a Ira figurou ao lado do Medo, do Amor e do Dever. Mira Y Lopez sabia que a Ira vem de muito distante, da “noite dos tempos, do negro ventre do Medo”. Para ele, os domínios da Ira são tão vastos quanto os campos do Medo. E avisa, no mais puro latim: “Nisi Orbe Sine Irae” – Não há mundo sem ira.

Não cabe, pois, só culpar as redes sociais pelo livre acesso ou manifestação, ainda que muitos substituam argumentos por desaforos. Nelas, apenas escorrem as iras humanas, nascidas da vaidade, ciúme ou despeito, como na canção popular. A condição humana é prisioneira dos Quatro Gigantes da Alma. Como lembra Mira Y Lopez, não sem uma certa ironia, nem Deus “escapou dos seus efeitos”: Ele foi invulnerável ao Medo, mas, na terra, viveu exposto à Ira.
As redes sociais, sem se negar o papel na divulgação de informações e ideias, são hoje os canais do bem e os esgotos do mal. É como se fossem o campo da grande e livre catarse dos que precisavam extravasar os ódios que muitas vezes mantinham escondidos no cofre do rancor. Se de um lado saciam a fome de vingança que rói o estômago, do outro sabem que se revelam e, assim, muitas vezes, preventivamente, se defendem das velhas dívidas que nunca pagariam.
Querer sempre ser mais, muitas vezes mais que o outro, é um traço definidor da ambição humana. Para o psiquiatra de Barcelona, vem daí a irritação e a intolerância dos que se julgam intocáveis. É tanto que escreve: “… do homem se pode afirmar que é o único animal ambicioso”. Aliás, Mira Y Lopez chega a admitir que a Ira vive próxima da Soberba. Alguns, mais discretos, dissimulam bem o seu desejo de mando; já outros, tangidos pela Ira, revelam-se facilmente.
Mas, entre os gigantes, também está o Amor. Um gigante da alma sobre o qual Mira Y Lopez joga um olhar mais ameno do que o filósofo Ortega Y Gasset nos seus ‘Estudos sobre o amor”, traduzido no Brasil, em 2019. Para Ortega Y Gasset, “desejar um bom vinho não é amá-lo”, o que revela a diferença entre o amor e o desejo. Para ele, o ódio e o amor, no fim, são duas formas de desejo, nascidos da mesma carne. Já o ciúme da inteligência, não. É escravizador…

PALCO

PESO – Neste 2024, serão abertas duas vagas de peso com as aposentadorias compulsórias da desembargadora Maria do Perpétuo Wanderley, no TRT; e do conselheiro Tarcísio Costa, TCU.

GRANA – Jogou certeiro o deputado Paulinho Freire quando divulgou e cobrou a celeridade das suas emendas destinadas a Natal. São R$ 15 milhões, inclusive os recursos para o turismo.

ATENÇÃO – Bom o uso da frase da Associação dos Procuradores do Estado no 7 de abril, o dia do jornalista: “As notícias são apenas o primeiro rascunho da História”. E há quem duvide.

SAL – Um grupo de bons macauenses, sob a liderança dos poetas e escritores Horácio Paiva e Saddock Albuquerque, na luta pela criação do Memorial do Sal. Vão pedir o apoio da Petrobras.

CONTAGEM – Pelo fulgor das postagens,o ex-deputado Henrique Alves conta os dias para maio chegar. Deve saber que, em maio, Álvaro Dias anunciará a aliança com Carlos Eduardo Alves.

HISTÓRIA – Os primos e escritores Galbi Saldanha e Fabiano Veras lançam hoje, quinta, às 10h, no salão da Assembleia Legislativa, o livro “Memorial Político dos Veras e Saldanhas”.

POESIA – Do poeta Jaci Bezerra, morto aos 76 anos, com quem um dia almocei, no Recife, assim: “Um dia, Capitão, contarei essa história / a quem, distante ou perto, afagar a minha mão”.

OLHO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, acalmando Absalão, o intrépido, com raiva do sonso que acabara de sair: “Simpatia, Absalão, às vezes, não passa de estratégia”.

CAMARIM

LUTA – Continua silenciosa, mas dura, a luta do prefeito Álvaro Dias para iniciar as obras na enseada de Ponta Negra. As cinqüenta exigências do Idema para liberar travam tudo. O ponto e um nó que, segundo as melhores fontes, passam pelo gabinete da governadora Fátima Bezerra.

ESTILO – Teve o maneirismo da mais discreta e fina diplomacia o arcebispo Dom João Santos ao indicar o monsenhor Waldir Cândido de Morais para a direção do Colégio Pio Brasileiro, em Roma. Se continuasse como vigário da Catedral, teria desgaste. A Santa Madre sabe fazer.

MESA – Natal vai sediar, com início dia 23 próximo, o Congresso Brasileiro de Higienistas, reunindo profissionais que atuam na indústria de alimentos. Inscrições estão abertas e haverá a emissão de prova de título de participação. Com a presença de nomes que atuam nacionalmente.

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